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acidente morte rodovias federais
A maior parte das colisões registradas pela PRF em 2024 ocorreram em trechos de pista reta.| Foto: Divulgação/PRF

Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que 605 pessoas perderam a vida nas rodovias federais no Paraná em 2024. O número é 8,2% maior do que o registrado em 2023, quando houve 559 vítimas fatais nas estradas federais paranaenses.

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Na análise da doutora em Gestão Urbana e professora no Uninter - Centro Universitário Internacional - Rafaela Aparecida de Almeida, um dos fatores para esse panorama é a imprudência de motoristas. Oito a cada dez acidentes fatais foram registrados em pista seca. Mais da metade das mortes, de acordo com o balanço da PRF, ocorreram em estradas com pistas simples.

Um a cada três óbitos foi provocado por uma colisão frontal. A maior parte destes sinistros ocorreu por falta de reação ou reação tardia do motorista e com um dos veículos transitando na contramão.

“É comum as pessoas cobrarem muito da infraestrutura das rodovias. Isso é importante, sem dúvida, mas o comportamento do motorista precisa ser levado em conta. As principais causas de mortes nas rodovias estão ligadas diretamente ao comportamento do condutor. Quem dirige prestando atenção ao celular não vai ter um tempo de reação adequado, por exemplo. E quem faz ultrapassagem em local proibido está se colocando em situação de risco para uma colisão frontal”, pondera Almeida.

Flagrantes de excesso de velocidade nas rodovias mais que dobraram

A direção imprudente é corroborada, avalia Almeida, em outras estatísticas da PRF. Nos dados do balanço, consta que 368 das mais de 600 mortes ocorreram em trechos de reta. Além disso, o número de flagrantes de excesso de velocidade em 2024, 341 mil registros, é mais que o dobro de ocorrências do ano anterior, quando os registros somaram 157,6 mil. Os flagrantes de ultrapassagens em local proibido caíram pouco, de 20 mil para 19,5 mil, no mesmo período.

“De novo, não estamos dizendo que isso independe da infraestrutura. Mas quando alguém decide ultrapassar precisa ter uma visão clara do que vai fazer. Quando se excede o limite de velocidade, talvez a reação seja tardia para evitar a batida. Se estiver muito próximo do veículo da frente, ou em local de ultrapassagem proibida, às vezes não se tem tempo de reação. São comportamentos de quem assume uma conduta de risco”, evidencia Almeida.

A rodovia federal com mais registros de ocorrências fatais no Paraná foi a BR-277, com 164 registros. Nas contas da PRF, isso representa uma morte a cada 5 quilômetros de extensão da rodovia, em média. Com 1.990 sinistros registrados, a rodovia foi ainda a que teve mais ocorrências registradas no total.

Na sequência das rodovias com maior letalidade aparecem:

  • BR-376: 126 mortes
  • BR-116: 64 mortes
  • BR-369: 57 mortes
  • BR-373: 43 mortes

As outras rodovias federais que cortam o Paraná, somadas, totalizam 151 mortes em 2024. A ordem das estradas se mantém a mesma quando são levadas em conta as ocorrências totais e aquelas com vítimas feridas.

Caminhões aparecem em metade das ocorrências com morte nas rodovias

Além das colisões frontais, os sinistros envolvendo atropelamento de pedestres são responsáveis por um número expressivo de óbitos, quando é levada em conta a proporcionalidade dessas ocorrências. Os atropelamentos representam 4,3% dos registros, mas dessas situações resultaram em 16% das mortes, com 97 vítimas fatais.

A legislação de trânsito vigente no país aponta que cabe aos caminhões parte da responsabilidade pela segurança de veículos de menor porte, como os automóveis de passeio. Pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a regra é replicada de forma descendente, com a mesma relação entre carros, motos e, por fim, pedestres.

No balanço dos dados de acidentes nas rodovias, em metade das ocorrências fatais há ao menos um caminhão envolvido. Para a especialista em trânsito entrevistada pela Gazeta do Povo, neste recorte a lógica é a mesma do cenário geral: mortes provocadas por condutas de risco assumidas por motoristas ao volante dos caminhões.

De acordo com Almeida, não são incomuns casos em que motoristas e proprietários de veículos pesados busquem ações de manutenção somente após uma quebra ou um dano físico causado no caminhão. “Nossa frota é envelhecida, e não há o hábito de se fazer uma manutenção preventiva. É sempre reativa”, pontua ela.

Segundo a professora, a imprudência é responsável por boa parte dessas ocorrências fatais envolvendo os caminhões. Para ela, os grandes números de ocorrências fatais em trechos de serra poderiam ser evitados.

“Quem viaja em rodovias conhece essa situação. Os caminhões não começam uma descida de serra dentro do limite de velocidade. Deixam para frear apenas se houver radar. Só que quem trafega com excesso de peso ou em velocidade excessiva, por exemplo, não consegue frear a tempo. Se o limite é 60 km/h e o caminhão desce a 80 km/h, qualquer falha mecânica pode tornar essa ação de frear simplesmente impossível”, comentou.

Especialista propõe mudança de modais como alternativa para diminuir letalidade

A professora do Uninter defende ações de conscientização com os motoristas para tentar mudar este cenário, principalmente com aqueles ainda em fase de formação. Como passo seguinte a avançar, a especialista defende um aumento no rigor da aplicação de multas às infrações de trânsito.

“Um aumento expressivo nos flagrantes de excesso de velocidade mostra que há alguma coisa muito errada. Os carros estão mais seguros e os caminhões estão andando mais, e isso dá uma sensação de poder aos condutores, que acabam colocando os outros em risco. E nós sabemos que muitos desses só irão repensar suas condutas quando pesar no bolso”, disse.

Outra medida, a longo prazo, seria atualizar a lista de preferência dos modais para o transporte de carga. Para Almeida, alternativas como o transporte ferroviário e a navegação de cabotagem, precisam ser consideradas no setor de transportes de cargas para desafogar as rodovias, hoje saturadas por carros e caminhões.

“Uma conduta imprudente de um caminhoneiro pode acabar com a vida de famílias inteiras, o que é uma tragédia. Por outro lado, pode interromper o fluxo de veículos em uma rodovia por dias. Esse transporte precisa contar com alternativas, que podem ser até mesmo mais baratas em outros modais, como ferroviário ou hidroviário. No final das contas, representaria uma série de ganhos para a sociedade”, finalizou.

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