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Leitos de UTI do Hospital Vitória, na CIC
Leitos de UTI do Hospital Vitória, na CIC| Foto: Guilherme Wille

O Paraná registrou, na última semana, recorde de mortes e de novos casos de Covid-19. Na semana epidemiológica de 31 de maio a 6 de junho, foram 2.068 novos casos da doença (40% a mais do que os 1.477 da semana anterior) e 53 óbitos (83% a mais que os 29 registrados entre os dias 24 e 30 de maio). Mais de um quarto (28%) de todos os casos do Paraná foram registrados na última semana. Números que mostram um crescimento acentuado da curva do coronavírus no estado e levanta dúvidas sobre o relaxamento nas medidas de isolamento social recentemente adotadas, como a reabertura de igrejas e shoppings, por exemplo.

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O índice de reprodução do vírus, que indica quantas pessoas estão sendo contaminadas por cada paciente infectado atingiu 1,43 em 3 de junho, segundo estudo de professores do departamento de estatística da Universidade Federal do Paraná do Paraná em parceria com epidemiologistas do Hospital de Clínicas de Curitiba. Isso indica que cada 10 casos ativos no estado estão gerando outros 14 novos casos, aumentando em progressão geométrica o número de contaminados no Paraná. Este índice, há um mês, estava abaixo de 1, o que indicava diminuição no número diário de novas ocorrências da doença.

“Vemos com tristeza e preocupação, mas o número está aumentando em todo o Brasil por causa do aumento da movimentação. Mais gente circulando, mais gente contraindo o vírus, mais gente adoecendo e morrendo”, avalia o diretor-geral da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Nestor Werner Júnior. “Estamos em situação de transmissão indiscriminada, com casos confirmados em 283 municípios do estado e mortes em 84 deles. Com o passar do tempo e com mais contaminação, é esperado que se aumente o número de óbitos. Não temos remédio e nem vacina, o que podemos fazer são as medidas de contenção”, diz.

O diretor lembra, no entanto, que todas as medidas de contenção tomadas foram para segurar o máximo possível a propagação do vírus, evitando que muitas pessoas adoecessem ao mesmo tempo e dando mais tempo para o estado estruturar os serviços de saúde para o atendimento. Objetivo que ele avalia ter sido alcançado nos primeiros dois meses de enfrentamento da pandemia, uma vez que o Paraná não tem superlotação de leitos e tem números menores de casos e mortes que a maioria dos estados brasileiros.

“Mas é possível que tudo aquilo que a gente tenha construído, se não tomarmos cuidado, seja destruído em pouco tempo. Por isso a importância de se analisar os números e o mapa da doença todos os dias, identificar esses óbitos, saber onde ocorreram, como ocorreram, como se deu a contaminação, para tomar decisões políticas”, diz, afirmando que o estado trabalha com a possibilidade de voltar a adotar medidas restritivas como o fechamento do comércio caso a tendência de aumento de casos e mortes seja mantida nas próximas semanas.

“Não temos palpite sobre o pico da doença e nem sabemos se, de fato, achatamos a curva com as medidas tomadas até aqui. Isso só concluiremos no final. A lida com a doença tem que ser diária. Para isso, temos que ter mais armas na mão e eu acredito muito nessa ampliação da testagem, para que a gente tenha elementos para se, efetivamente tiver que fechar, fechar de novo, com argumentos que a sociedade compreenderá”, conclui, lembrando que o estado mais do que dobrou o número de testes diários nas últimas semanas, para passar a identificar casos leves da doença e tentar isolá-los, evitando a propagação do vírus.

Para o infectologista do Hospital de Clínicas Bernardo Montesanti Machado de Almeida, “estamos sentindo o aumento na ocupação dos hospitais e, em mantendo a taxa de reprodução do vírus acima de 1, fatalmente vamos chegar ao colapso do sistema de saúde". Ele destacou ainda que o cenário de hoje na verdade é uma realidade atrasada. "Estamos sentindo, hoje, um reflexo da transmissibilidade que ocorreu há duas ou três semanas. E, desde então, o relaxamento do isolamento aumentou. Se não tomarmos medidas capazes de baixar essa taxa de transmissibilidade, seja com um esforço da população para manter o isolamento, ou mesmo com medidas do governo, como o fechamento do comércio, pode-se ampliar o número de leitos para postergar, mas, em algum momento, chegaremos ao colapso”.

Curitiba atenta à ocupação das UTIs

Os números de casos e óbitos também estão crescendo em Curitiba. Nos últimos sete dias, 14 pessoas morreram de Covid-19 na capital. Na semana anterior, foram oito mortes. Uma das preocupações da Secretaria Municipal de Saúde é com a ocupação dos leitos de UTI. Se a média estadual é de 47% de ocupação dos leitos reservados para os casos de coronavírus, em Curitiba este índice já está em 62%, o que indica que 140 dos 227 leitos de UTI destacados pela cidade estão em uso. “Aumentamos a testagem e esperávamos, com isso, aumento no número de casos, mas o que tem nos assustado é o aumento das internações”, avalia a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, lembrando que todos os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) são internados nestes leitos para terem a suspeita de Covid-19 investigada. Destes, a média de 16% de testes positivos.

Com o relaxamento do isolamento social, o município já vê crescer a ocupação de UTIs por causa de traumas (acidentes ou ferimento por arma), que diminuem, assim, o número de leitos ociosos disponíveis caso haja um aumento exponencial nos casos de Covid-19. “Com as pessoas de volta às ruas, já aumentaram os casos de trauma. Chegamos a ter redução de quase 50% no atendimento ao trauma, não tinha acidentes, e isso também nos liberava leitos. Agora, o trauma quase voltou ao normal; temos mais essa concorrência por leitos”, conta Huçulak.

A secretária também revelou o diagnóstico que o município fez sobre o aumento no número de mortes. “São óbitos de pessoas idosas que, em teoria, estariam em isolamento desde o início da pandemia. Mas temos observados que essas pessoas, embora isoladas, recebem visitas de parentes. Temos muita contaminação intrafamiliar. A sociedade não entendeu que o idoso que está em isolamento não pode receber visitas, principalmente dos filhos e netos que estão circulando, que estão frequentando balada e depois vão visitar o idoso, sentar no sofá, tomar café na mesa, pedir colo”, critica, citando o caso de uma paciente que adoeceu após um almoço de família de dia das mães e um idoso que faleceu após receber a vista de um parente do Rio de Janeiro.

A secretária municipal também não descartou que a cidade volte a adotar medidas de restrição de circulação de pessoas caso os números continuem subindo. “Todo o nosso trabalho foi para achatar a curva, para não termos muitos casos ao mesmo tempo. E, até agora, conseguimos, mas isso deu uma falsa sensação de segurança às pessoas, parece que elas estão achando que não vai acontecer, cansaram das medidas de proteção e estamos vendo um relaxamento nos cuidados. Aquele vídeo do show no Mercado Sal é assustador”, comenta. “Se a gente continuar com esse aumento de quadro, certamente teremos que tomar medidas restritivas mais drásticas. Vamos seguir monitorando e, se a situação não se alterar, vamos tomar atitude sim, levando em conta o aumento do número de casos, o aumento de internações de quadros respiratórios de modo geral, comparando com nossa capacidade de internamento”, prossegue.

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