Palácio Iguaçu, a sede do governo do Paraná| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O governador Beto Richa (PSDB) vai terminar sua gestão em 2018 sem pagar o reajuste salarial garantido na legislação aos servidores estaduais. É isso o que prevê a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano que vem, aprovada em primeiro turno pela Assembleia Legislativa na quarta-feira (5). A base aliada acatou a proposta do governo estadual, que indicou que a economia do país ainda está em recessão e que não há dinheiro em caixa para honrar o compromisso. A equipe do tucano também gosta de ressaltar que várias categorias receberam reajustes nos últimos anos.

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Os gastos com pessoal nas universidades até motivou, entre outras coisas, uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TC) nas instituições estaduais. A folha das universidades subiu de R$ 1 bilhão em 2012 para R$ 1,9 bilhão em 2016. O aumento observado nas instituições de ensino, porém, acompanha o de outros órgãos, conforme levantamento feito pela Gazeta do Povo com dados do Portal da Transparência. A universidade com maior aumento é a Unespar, que utiliza o sistema de gerenciamento de folha Meta-4 do governo, mas que no período concedeu reajustes previstos em lei e ampliou a estrutura administrativa.

Foram comparados dados nominais de 2011 com 2016, sem correção pela inflação, que foi de 42,4% no período. As justificativas apontam para o cumprimento de leis nacionais, o pagamento de valores atrasados e equiparações entre categorias, além da assunção de novas responsabilidades. Diversos reajustes foram concedidos, principalmente nos três primeiros anos da gestão de Beto Richa.

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INFOGRÁFICO: Confira o ranking dos maiores aumentos

Por outro lado, custos menores com a folha de pagamento não indicam, necessariamente, achatamento do salário de categorias. Na Emater, por exemplo, muitos servidores se aposentaram no período, e os novos nomeados oneram menos a folha. As aposentadorias não estão incluídas na despesa de nenhum dos órgãos listados.

Detalhamento

O órgão com maior variação percentual foi a Defensoria Pública, que só foi regulamentada no Paraná em 2011, com muito atraso. Mesmo assim, foi só a partir de 2013 que os serviços foram implantados em todo o estado, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). O órgão atualmente conta com 91 defensores em todas as regiões do estado. Pagamentos de indenizações e verbas extras também explicam a”explosão” da folha de pagamento do órgão.

Em seguida, aparece a Diretoria-geral da Secretaria Estadual de Educação, também com um percentual na casa dos quatro dígitos. Segundo a pasta, isso se deve principalmente à ampliação dos departamentos de controle interno e auditoria, necessários para acompanhar os assuntos relacionados à educação. O quadro de professores e técnicos aumentou 30% na gestão de Beto Richa, informou a secretaria. Além disso, fraudes descobertas na Operação Quadro Negro exigiram maior fiscalização interna.

No “ranking” dos órgãos, aparece em seguida o Fundo do Judiciário (Funjus), criado para financiar a estatização das varas judiciais, uma determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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A Polícia Científica teve aumento de 287% no período. O presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar), Alexandre Brondani, diz que esse dado não reflete a realidade da categoria, que tem defasagem de pessoal, ainda aguarda nomeações de um concurso iniciado em 2012 e cujos órgãos relacionados sofreram abandono histórico. “O valor pode ter relação com o subsídio pago em 2012 como forma de equilibrar as carreiras com as demais categorias que atuam na segurança pública”, afirmou.

Já a folha de pagamento da Secretaria da Fazenda (Sefa) cresceu 188%. Segundo o órgão, isso se deve principalmente à transferência da Coordenação de Orçamento do Estado (COE), que até meados de 2013 era vinculada à Secretaria de Estado do Planejamento. Com isso, foram transferidos cerca de 80 cargos efetivos, em comissão e funções gratificadas para a Sefa.

Com porcentual muito próximo aparece o Colégio Estadual do Paraná (184%), que se enquadra na mesma situação que a Superintendência da Seed. O economista Cid Cordeiro, que assessora a APP-Sindicato, apresenta uma série de fatores que levaram ao aumento expressivo. A principal é a Lei do Piso Nacional do Magistério, que é de 2008, aplicada somente a partir de decisão do STF, em fevereiro de 2013.

Além de determinar um salário mínimo para toda a categoria, a lei estipulou a hora-atividade em 1/3 da jornada. Em maio de 2013 Richa assinou a lei estadual, estipulando que, a cada 20 horas trabalhadas em sala de aula, o docente tivesse seis horas para fazer a preparação do material. Isso exigiu mais mão de obra. Segundo Cordeiro, o número de cargos de professores aumentou 14% entre o fim de 2010 e 2016.

Outro impacto, diz o economista, foi a equiparação salarial dos professores com outros servidores. “Havia uma defasagem histórica entre o pessoal com ensino superior que atuava na educação em relação aos que estavam em outros órgãos. Isso começou a ser negociado na gestão do Requião e foi pago na gestão do Richa”, relatou.

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A primeira universidade da lista é a Unespar, que só foi implantada na prática em 2013, unificando sete faculdades paranaenses. Por ser “novata”, a Unespar foi criada sob o sistema do Poder Executivo Meta-4 para gerenciar a folha de pagamento – mas a intenção da comunidade universitária era a de abandonar o programa. O sistema era motivo de uma queda-de-braço entre governo e instituições. Entretanto, nesta quarta-feira (5) , Richa e os reitores afirmaram que a relação institucional não está “azedada”.

Além do impacto na folha com a criação de reitoria e estrutura administrativa, a instituição reflete reajustes concedidos à categoria dos professores de Ensino Superior. A Lei Estadual nº 17.280/2012 estabeleceu reposição salarial de 31,73%, divididos em quatro parcelas anuais, como forma de equiparar os salários da área de educação. “O aumento refere-se à correção de uma distorção causada nos governos anteriores”, disse à época o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]