O advogado argentino Juan Grabois foi impedido de visitar Lula na cadeia na segunda-feira (11).| Foto: Eduardo Matysiak/ Agência PT

O advogado argentino Juan Grabois divulgou em suas redes sociais uma carta em que esclarece a polêmica sobre o rosário que tentou entregar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia, na segunda-feira (11). Grabois reitera a veracidade da informação divulgada pela assessoria do petista de que o terço foi mesmo enviado a Lula com o consentimento do papa Francisco.

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Mas, como foi barrado pela Polícia Federal, o presente foi deixado com assessores do ex-presidente. “Quero esclarecer que, quando me negaram vê-lo, pedi aos teus colaboradores que lhe levassem o rosário, esclarecendo-o expressamente que vinha da parte do papa com a bênção dele”, escreveu.

O fato havia sido desmentido na terça-feira (12) pela Santa Sé via nota publicada no site do Vaticano News e reproduzida no Facebook e no Twitter. Esse comunicado, contudo, foi excluído poucas horas depois, gerando especulações sobre o motivo disso. O mistério foi desfeito com a publicação de uma correção na madrugada desta quarta-feira (13), em que o Vaticano News admite ter havido imprecisões no primeiro comunicado que induziram a erros de interpretação.

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Informou que Gabrois tentou “levar um Terço abençoado pelo Papa, as palavras do Santo Padre e as suas reflexões com os movimentos sociais e discutir assuntos espirituais com o ex-chefe de Estado”. Inicialmente, o Vaticano News dizia que a visita do advogado argentino tinha caráter pessoal.

Na carta, Grabois narra a ocasião em que conversou sobre o assunto com o papa. “Em meados de maio estive no Vaticano para visitar Francisco, que me honra com uma amizade que não mereço (...) Aproveitei, então, aquela visita ao Vaticano para conversar com o papa sobre a situação [no Brasil] e pedir-lhe um rosário abençoado para levar a você [Lula]. Assim foi”, relata.

 

“É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas, mas não é a primeira vez e o Vatican News é responsável por ter permitido que uma nota tão inapropriada e não profissional fosse publicada”, diz Grabois, que é consultor do ex-Pontifício Conselho Justiça e Paz, que passou a fazer parte do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o equivalente a uma secretaria/ministério do Vaticano.

Ele relata o seu espanto ao ver que uma fonte do próprio Vaticano ajudou a disseminar a informação de que Lula estava divulgando uma informação falsa de dentro da cadeia. “Evidentemente, um editor desse site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar um tumulto e conseguiu. Quando pude reclamar com os superiores, a nota foi removida do site e substituída por uma adequada, mas o dano já estava feito.”

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O advogado argentino lamenta todo o mal entendido causado e termina a carta pedindo perdão a Lula pela repercussão equivocada do caso. Pede ainda compreensão por revelar o assunto de um encontro com o Santo Padre. “Nunca revelaria o conteúdo de um encontro com o Papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muito (...). No entanto, tendo em conta as circunstâncias, sinto-me na obrigação de contar como foram as coisas.”

Leia a carta aberta na íntegra

“Querido Lula

Ontem eu saí do Brasil muito angustiado. Como sabes, impediram-me de te visitar de forma injustificada, arbitrária e mal-educada. Depois, visitei os meus irmãos e irmãs provadores, carrinheiros, camponeses, favelados, professores, servidores públicos, operários e integrantes de diversas pastorais. Pude sentir a dor do seu povo, partilhar a sua impotência perante a injustiça, a sua revolta perante a perseguição do seu máximo dirigente. Notei também a enorme deterioração institucional, social e política que o Brasil sofre por causa da ambição de poucos que concentram o poder e impedem que as diferenças se apaziguamento nos quadros da democracia.

O drink mais amargo, porém, me esperava no aeroporto de Curitiba. Foi aí que soube que estava sendo atacado nos meios de comunicação social e redes sociais. Afirmando que mentiu sobre o rosário enviado pelo Papa Francisco. Então você, preso e incomunicável, também mente!

Com espanto vi que os seus inquisidores indicavam que a fonte da sua calúnia era o próprio Vaticano. Maior foi a minha surpresa quando confirmei que numa página da internet chamada Vatican News tinham publicado um texto em português agressivo, cheio de imprecisões e erros de redação.

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A comunicação desta página não pode ser considerada oficial, mas, com efeito, trata-se de um local dependente do secretariado de comunicação do Vaticano. Enquanto lia, não podia sair do meu espanto. Evidentemente, um editor desse site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar um tumulto e conseguiu. Quando pude reclamar com os superiores, a nota foi removida do site e substituída por uma adequada (https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-06/precisacao-sobre-caso-grabois-lula.html), mas o dano já estava feito. Infelizmente, os meios que divulgaram até o paroxismo da suposta desmentida do Vaticano não reproduziram a nova nota com a informação correta. Será que vivemos na era da pós-verdade.

Nunca revelaria o conteúdo de um encontro com o Papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muito. Além disso, sei que o seu apoio aos movimentos sociais e aos pobres lhe traz mais do que uma dor de cabeça. Como sabe, ele também sofre o ataque sistemático dos fariseus e herodianos dos nossos tempos. No entanto, tendo em conta as circunstâncias, sinto-me na obrigação de te contar como foram as coisas.

Em meados de maio estive no Vaticano para visitar o Francisco, que me honra com uma amizade que não mereço, ama a pátria grande e - como ele mesmo indicou - está preocupado com a situação atual. Como sabe, é muito claro e frontal, não precisa de porta-vozes e eu nunca quis ser. Sofro muito quando a mídia me coloca nesse lugar. Eu apenas tento ajudar no diálogo com os movimentos sociais, algo que tenho feito desde que nos conhecemos em Buenos Aires, há mais de dez anos, lutando por uma sociedade sem escravos nem excluídos. Neste momento, colaboro com o dicastério para a promoção do desenvolvimento humano integral que preside o cardeal Peter turkson com quem organizámos os três encontros mundiais de movimentos populares e outras atividades para promover o acesso à terra, o teto e o trabalho como direitos essenciais.

Por esses dias de maio, meus amigos dos movimentos populares do Brasil me ofereceram a possibilidade de te visitar. Fiquei muito satisfeito porque admiro o que fizeste como presidente pelos mais pobres e tenho a certeza de que é alvo de uma perseguição política, tal como Nelson Mandela e tantos outros dirigentes políticos na história recente.

Aproveitei, então, aquela visita ao Vaticano para conversar com o papa sobre a situação e pedir-lhe um rosário abençoado para levar a ti. Assim foi. É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas, mas não é a primeira vez e o vatican news é responsável por ter permitido que uma nota tão inapropriada e não profissional fosse publicada.

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O seu responsável pediu-me perdão e eu o perdoo porque todos podemos cometer erros. Mas também sei que houve danos graves. Também quero esclarecer que, quando me negaram vê-lo, pedi aos teus colaboradores que lhe levassem o rosário, esclarecendo-o expressamente que vinha da parte do papa com a bênção dele. Por esse motivo, o que eles afirmaram na sua conta do Facebook – erroneamente denunciada de fakenews e ameaçada com a censura – é simplesmente o que eu lhes disse: a verdade.

Entrego esta carta aos teus colaboradores com a expressa autorização para publicá-la se ela servir para mitigar o dano causado, embora eu tema que aqueles que odeiam esse trabalhador que tirou 40 milhões de excluídos da fome e pôs de pé a América Latina diante dos poderes globais não vão dizer a verdade.

Te peço perdão pelo que aconteceu e te deixo um abraço fraterno, latino-americano e solidário. Rezo pela tua liberdade, o teu povo e a nossa pátria grande.

Juan Grabois”