| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou nesta quinta-feira (14) que a determinação do presidente Jair Bolsonaro de investigar o suposto esquema de candidaturas laranjas no PSL, revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo”, “está sendo cumprida”. Na quarta (13), Bolsonaro disse que Moro tem “carta branca” para investigar o caso.

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“O presidente Jair Bolsonaro proferiu uma determinação e ela está sendo cumprida. Os fatos serão apurados e eventuais responsabilidades, após as investigações, serão definidas”, declarou Moro, depois de participar de um evento no qual apresentou seu projeto anticrime para membros da magistratura.

A revelação do esquema de candidaturas laranjas no partido de Bolsonaro provocou uma crise em seu governo, alavancada pelo ataque nesta quarta-feira (13) do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, ao ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno.

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Em entrevista também nesta quarta, Bolsonaro admitiu a possibilidade de saída de Bebianno de seu governo devido ao caso. O ministro estava no comando do partido durante as eleições de 2018.

SAIBA MAIS:A meteórica trajetória do ministro Bebianno e as raízes da crise com Bolsonaro

“Se estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, afirmou Bolsonaro em entrevista exibida pelo Jornal da Record. A entrevista foi gravada pela TV Record no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, antes de o presidente receber alta.

Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que determinou à Polícia Federal que as denúncias sejam investigadas e que deu carta branca a Moro para levar as apurações adiante. “Conforme o compromisso assumido com Sergio Moro logo depois da minha eleição, ele tem carta branca para apurar qualquer tipo de crime sobre corrupção e lavagem de dinheiro”, disse Bolsonaro.

No centro da crise aberta no governo estão o presidente atual do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), e Bebianno, que estava no comando da sigla no ano passado.

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Reportagem da “Folha de S.Paulo” do último domingo (10) revelou que o grupo de Bivar criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição. O dinheiro foi liberado por Bebianno.

A candidatura laranja virou alvo da Polícia Federal, da Procuradoria e da Polícia Civil.

Já nesta quarta, a “Folha” revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. O ministro nega qualquer irregularidade.

No mesmo dia, a crise ganhou mais força com os ataques de Carlos Bolsonaro a Bebianno. O filho do presidente disse em rede social que o ministro mentiu ao afirmar em uma entrevista que havia conversado três vezes com Bolsonaro.

Carlos divulgou ainda um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno. O próprio Bolsonaro endossou a ofensiva do filho contra o ministro, ao compartilhar a postagem nas redes sociais.

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Bebianno não é automaticamente culpado, mas é controverso, diz Janaina Paschoal

A deputada estadual eleita Janaina Paschoal (PSL-SP) declarou que Bebianno não pode ser considerado automaticamente culpado por supostos desvios de recursos do Fundo Partidário para candidaturas laranjas do PSL. A futura parlamentar o classificou como uma “pessoa controversa”, mas afirmou que não adianta o governo “cortar cabeças” sem uma apuração.

A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar suspeitas de desvios de recursos do Fundo Partidário destinados ao PSL por meio de supostas candidaturas laranjas nas eleições de 2018. Bebianno presidiu o partido durante o período eleitoral. “Vejam, Bebianno pode ou não ficar no governo, insisto que a situação não me compete. Mas se sair, que seja porque não o desejam por lá”, escreveu Janaina no Twitter.

Para ela, as situações precisam ser investigadas e apuradas. “Mas não adianta eleger um culpado e cortar cabeças, sem apurar”, afirmou. “O fato de Bebianno ter assinado a liberação do dinheiro, na condição de presidente do Partido, não o torna automaticamente culpado, pois ele era a pessoa competente para assinar a documentação. Temos que saber quem, eventualmente, ficou com o dinheiro”, escreveu.

Na sequência de mensagens na rede social, a deputada relatou ter sido procurada por Bebianno durante a campanha e recusado dinheiro do fundo. “Em meio a tantas acusações, eu fiquei pensando: se ele tinha um esquema de desvio, iria oferecer mandar dinheiro justo para mim? Iria insistir? Entendo que não”, escreveu.

Janaina classificou o ministro como “uma pessoa controversa” e que “muita gente não gosta dele”. “Eu mesma tenho minhas mágoas. Mas não acho justo usar uma denúncia que, a princípio, não o envolve, para vingar outras questões”, afirmou.

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Reforçando que não estava defendendo Bebianno, a parlamentar eleita declarou que o ministro tem “devoção” por Bolsonaro, mas ponderou: “Estaria ele sendo falso? Talvez. Mas digo, se estava, ele é melhor ator que Tony Ramos. E Tony Ramos é muito bom”.

‘Não dá para continuar com essa instabilidade’, diz Joice

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse nesta quinta que o constrangimento em torno da situação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afeta não só o ministro como a bancada do partido no Congresso e o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro. “Não dá para continuar com essa instabilidade. Estamos respirando um ar tão denso que daria para cortá-lo com uma tesoura”, avaliou a deputada.

Questionada se o afastamento de Bebianno não seria a melhor solução no momento, Joice disse que o PSL tem várias vertentes em suas alas, mas ressaltou que tem sentido uma solidariedade muito grande a Bebianno dentro do partido.

Segundo ela, o tema não tem sido comentado no famoso grupo de WhatsApp dos parlamentares do PSL. “Não temos conversado sobre temas polêmicos no grupo de WhatsApp porque já vimos que isso vaza. Tem um ‘big brother’ no grupo do PSL”, disse.

Bebianno é de ‘absoluta confiança’ e crise será contornada, diz Major Olímpio

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), reiterou na manhã desta quinta que o ministro Gustavo Bebianno é de “absoluta confiança” de Bolsonaro e disse que a crise no governo será contornada. “Vejo total possibilidade de (a situação) ser contornada até porque tenho certeza que no momento em que Bebianno conversar pessoalmente com o presidente, tudo ficará esclarecido”, afirmou Olímpio à Rádio Eldorado. “[Bebianno] é da absoluta confiança do presidente, uma escolha pessoal”, reforçou.

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Na entrevista, Olímpio afirmou que, durante a campanha, teve a oportunidade de acompanhar o trabalho de Bebianno, que qualificou como de “responsabilidade e imparcialidade na condução do partido”.

“Não vejo responsabilidade direta dele. Seria impossível para Bebianno, que tinha esse papel de presidente do partido e acompanhava permanentemente a candidatura de Jair, fazer o controle disso, até porque não estava dentro da responsabilidade”, afirmou o senador.

“Espero que (o problema) já se resolva e se esclareça para que não possa gerar uma crise de maior consequência”.

Questionado se a ingerência dos filhos de Jair Bolsonaro no governo não o incomoda, respondeu que vê a questão com naturalidade. “Os filhos são parlamentares, têm vivência real na política e são da extrema confiança do pai. Têm um papel que transcende a questão familiar e são conselheiros de primeira hora do presidente. É absolutamente natural”. Segundo Olímpio, é questão de dias para que cada um “vá se acomodando no seu papel”.

Bebianno diz que está triste e decepcionado após fala de Bolsonaro

Gustavo Bebianno fez um desabafo com amigos mais próximos na noite de quarta, pouco depois de Jair Bolsonaro afirmar à TV Record que ele pode “voltar às origens”, ou seja, sair do governo.

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Bebianno disse que está triste e sem palavras para definir o tamanho da decepção que sente. O ministro foi um dos primeiros a se engajar na campanha eleitoral do agora presidente, quando, segundo seus amigos, nem mesmo o próprio Bolsonaro acreditava nela.

A relação dele com os filhos do então candidato, no entanto, sempre foi conturbada. Em especial com o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), que nunca escondeu seu desapreço pelo ministro.