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Deputada Carla Zambelli e Walter Delgatti são investigados pela PF por conta de uma invasão ao sistema do CNJ
Deputada Carla Zambelli e Walter Delgatti são investigados pela PF por conta de uma invasão ao sistema do CNJ| Foto: Reprodução/ Twitter

Alvo da Operação 3FA da Polícia Federal, a deputada Carla Zambelli está sendo investigada por ligações com um hacker que invadiu contas do Conselho Nacional de Justiça e também está na mira do Conselho de Ética. A deputada caminha para um possível isolamento político e pode até perder seu mandato.

Zambelli foi surpreendida na última semana com um mandado de busca e apreensão em seu apartamento em Brasília e no gabinete na Câmara. No mesmo dia, teve que se defender no Conselho de Ética por ter xingado um deputado.

Nos bastidores na Câmara, alguns deputados mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro avaliam que a deputada terá que arcar sozinha com as consequências das investigações. Eles dizem preferir manter uma postura mais neutra em relação à Zambelli, temendo que as investigações da Polícia Federal, que resultaram na apreensão de bens e documentos da deputada, possam respingar em Bolsonaro.

A operação da Polícia Federal investiga o suposto envolvimento de Carla Zambelli na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e falsos alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). A deputada teria remunerado o hacker Delgatti Neto para que invadisse os sistemas e emitisse um falso mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Além de cumprir mandados, a Polícia Federal prendeu pela terceira vez o hacker, peça chave da operação, e que já disse à Polícia Federal que teria sido pago pela deputada para invadir os sistemas da justiça e as urnas eletrônicas, e que teria inclusive tentado grampear o celular do ministro.

Hacker já foi preso três vezes pela PF

Delgatti Neto ficou conhecido ao divulgar supostas conversas entre o ex-juiz da Operação Lava Jato, hoje senador Sérgio Moro (Podemos-PR) e o ex-procurador e deputado cassado Deltan Dallagnol.

O suspeito repassou o conteúdo das supostas mensagens entre os coordenadores da Lava Jato ao jornalista do The Intercept, Glenn Greenwald, que posteriormente serviram para que a 13ª Vara Federal de Curitiba anulasse as decisões de Moro contra o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, por exemplo. Os arquivos foram usados ainda para que a defesa de Lula argumentasse a suspeição de Moro para julgar o petista.

Os membros da força tarefa nunca reconheceram a autenticidade das mensagens. Na época, a força-tarefa afirmou em nota que os membros do Ministério Público Federal sofreram um “ataque criminoso”.

A força tarefa da Lava Jato foi considerada a maior investigação contra a corrupção no Brasil, e entre 2014 e 2021 levou dois ex-presidentes (Lula e Temer) à cadeia, além de empresários e políticos, com a devolução de mais de R$ 22 bilhões aos cofres públicos.

Zambelli diz que Bolsonaro não tem nada a ver com investigações contra ela 

Em entrevista coletiva após a ação da Polícia Federal, Carla Zambelli disse que está à disposição da polícia e Judiciário para quaisquer esclarecimentos. Ela admitiu conhecer Delgatti Neto, mas disse que teve “dois ou três” encontros com o hacker, que teria oferecido serviços ao PL.

Segundo a deputada, o hacker teria proposto participar de uma “auditoria” das urnas eletrônicas durante as eleições. Ele foi apresentado ao presidente Bolsonaro, que descartou a hipótese.

“É mentira o que disseram, a impressão que eu tenho é que estão tentando envolver o presidente através de mim, por eu ser bastante ligada ao presidente, e isso não vai acontecer porque não existe nenhuma prova”, declarou a deputada, admitindo que fez um pagamento de R$ 3 mil ao hacker, para serviços no seu site, e que sequer foram concluídos.

Enquanto Zambelli tenta manter viva a proximidade com Jair Bolsonaro, o ex-presidente parece não ter o mesmo apreço pela antiga aliada. Após um encontro com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), nesta segunda-feira (7), Bolsonaro disse que não mantém contato com a deputada desde as eleições do ano passado.

“Ela queria falar comigo há um tempo atrás, não respondi, vamos ver o que acontece com esse hacker que estou conhecendo melhor agora, tem um passado bastante rico”, disse. Bolsonaro afirmou ainda: “não tenho nada contra a Carla Zambelli, espero que ela explique tudo que aconteceu”.

Alguns parlamentares garantem, no entanto, que não há intenção de proteger Zambelli. No dia da operação, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, publicou numa rede social que “qualquer operação da Polícia Federal determinada pelo Supremo Tribunal Federal deve seguir rigorosamente a Constituição e se fundamentar em indícios reais de irregularidades”.

Costa Neto disse ainda que “não concordamos com eventuais erros cometidos por parlamentares do partido, mas queremos que lhes sejam garantidos os direitos constitucionais e a presunção de inocência.”

Para o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB), não há provas que justifiquem um mandado de busca e apreensão contra a colega de partido. O deputado criticou a operação da Polícia, “isso é uma aberração, a Polícia Federal ir na casa de um parlamentar, cadê as provas do crime?”

Já o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, afirma que não há hoje muitos apoiadores dispostos a proteger a deputada publicamente, “especialmente porque ela foi alvo da Polícia Federal, e o pessoal fica com receio até de defendê-la de uma forma muito enfática e acabar se comprometendo”.

Carla Zambelli prestaria depoimento na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo nesta segunda-feira (7), mas a oitiva foi adiada porque a defesa da deputada alegou que não teve acesso aos autos. Zambelli também conversou com os jornalistas no local, disse que compareceu para mostrar que está disposta a falar sobre o tema, e assegurou que não se sente isolada pelo seu partido, o PL. Afirmou ainda que apesar de saber o que se espera da justiça, não tem medo de cassação. Ainda não há uma nova data para o depoimento.

Conselho de Ética dá sinal verde para processo por quebra de decoro contra Zambelli 

No mesmo dia em que a Polícia Federal agiu contra a deputada, Zambelli teve que ir até o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados para se defender no caso de uma representação aberta contra ela pelo PSB.

Zambelli é acusada pelo PSD de “extrapolar” as prerrogativas parlamentares por ter mandado o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) “tomar naquele lugar”, durante uma tumultuada sessão da Comissão de Segurança Pública que contava com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino.

A deputada se defendeu das acusações dizendo que a narrativa do colega não refletia exatamente a realidade do ocorrido, e que após ser provocada, teria dito, fora do microfone, “que só faltava ele me mandar tomar naquele lugar”, e chegou a dizer no Conselho, que aceitaria fazer um pedido de desculpas a Duarte Junior em Plenário.

Mas também no Conselho de Ética da Câmara a deputada encontrou poucos deputados dispostos a sair em sua defesa. Zambelli carrega ainda hoje uma marca por ter saído de arma em punho em uma rua movimentada de São Paulo antes do segundo turno das eleições, fator que foi considerado por muitos como importante para tirar votos de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

O relator do processo contra a deputada, deputado João Leão (PP-BA) votou pela admissibilidade da representação, ou seja, deu aval para que o processo siga tramitando, e sugeriu que a deputada apresente a defesa também por escrito. Dois deputados pediram vista, e com isso a discussão e a votação pelo Conselho de Ética da Câmara ficou para quarta-feira (9).

Fontes ligadas à base governista na Câmara defendem que a deputada sofra algum tipo de sanção, mas dizem que a cassação do mandato, por causa de um xingamento seria uma medida excessiva.

O cientista político Cristiano Noronha acredita que tudo vai depender do desenrolar dos fatos, principalmente os ligados à investigação policial contra a parlamentar, mas ele também acha que o Conselho de Ética não tomaria uma medida tão drástica.

Mas há quem aposte que a deputada possa servir de “exemplo” para parlamentares que não têm respeitado as boas regras de conduta e convivência no Parlamento, marcado por inúmeros bate-bocas e tumultos nos últimos tempos.

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