O tenente-coronel da reserva Helcio Bruno, que prestou depoimento nesta terça-feira (10) na CPI da Covid do Senado, confirmou que apresentou a empresa Davati a integrantes do Ministério da Saúde. Ele teve uma reunião no ministério em 12 de março e, segundo seu relato à CPI, aceitou dividir a agenda com representantes da Davati.
A empresa está sob investigação pela CPI por ser pivô de um possível esquema de privilégio e cobrança de propinas para a venda de vacinas ao Ministério da Saúde. Membros da empresa teriam oferecido à pasta uma oferta de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca, o que a empresa farmacêutica disse não ter tomado conhecimento.
Bruno falou à CPI que não tinha conhecimento de irregularidades por parte da Davati e que aceitou apresentar a empresa por um pedido do líder religioso Amilton Gomes de Paula, conhecido como Reverendo Amilton, que depôs à comissão na semana passada. Perguntado pelos senadores como conheceu Amilton, o militar não respondeu — ele falou à CPI amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que deu a ele o direito ao silêncio diante de questões que poderiam incriminá-lo. A situação irritou alguns parlamentares.
O coronel foi chamado à CPI por meio de um requerimento feito pelo vice-presidente da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Foram duas as motivações para a convocação de Bruno: uma é o possível envolvimento dele no caso Davati; a outra é a acusação de que ele seria um propagador de fake news sobre a pandemia de coronavírus. Bruno é fundador da ONG Instituto Força Brasil, que mantém um site com artigos e notícias favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro e textos que contrariam as diretrizes básicas sobre a Covid-19, como o uso de máscaras e a defesa da vacinação.
O depoimento de Bruno começou com um atraso superior à média. Isso porque as primeiras horas da reunião da CPI foram dedicadas a críticas dos senadores ao desfile militar na Esplanada dos Ministérios.
Sem influência no governo, mas com agenda
O coronel buscou, ao longo do seu depoimento, expor que não é uma figura com influência e trânsito no governo federal. Mas suas falas foram confrontadas com imagens e a agenda de autoridades.
Um dos encontros expostos pelos senadores foi uma reunião entre Bruno, o presidente Bolsonaro e mais duas pessoas. Segundo o coronel, tratava-se de um encontro de formandos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
Randolfe elencou agendas públicas de autoridades, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), que expunham encontros com Bruno. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também questionou Bruno sobre um contrato firmado entre uma empresa de sua posse e o Ministério da Defesa — antes da pergunta da parlamentar, o coronel havia dito que não tinha negócios com o poder público.
Negacionista ou interessado em vacinas?
Os senadores questionaram Bruno sobre uma possível contradição entre sua atuação na venda de vacinas ao Ministério da Saúde e a linha editorial do site do Força Brasil, que contém textos que fazem ressalvas à imunização.
A exposição de publicações de Bruno e o pedido "ao vivo" de esclarecimentos foi uma constante na reunião desta terça. Os parlamentares recuperaram uma postagem do coronel no Twitter em que ele chamava a comissão de "CPI do Circo" e seus integrantes de palhaços. Também destacaram publicações compartilhadas por ele que pediam o fechamento do STF ou outras medidas enérgicas do presidente Bolsonaro contra a corte.
Uma dessas imagens tinha em primeiro plano a foto da ministra Cármen Lúcia — que foi a responsável pela concessão do habeas corpus que garantiu a Bruno o silêncio parcial na CPI. A ironia foi destacada pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar chamou Bruno de "fruto da democracia", em referência à trajetória do militar no serviço público, que teve como ponto alto o desenvolvimento na gestão de presidentes civis.
Aziz falou também que a CPI buscará a investigação das fontes de recurso do Força Brasil. Bruno disse, durante o depoimento, que sua ONG não recebe verbas públicas e que todo o seu orçamento é formado por doações de seus membros.
A Força Brasil já está na mira do Congresso, no radar da CPI Mista das Fake News, que une Câmara e Senado. A comissão ainda está formalmente em atividade, mas não tem reuniões desde março do ano passado, por conta da pandemia.
Agenda da CPI tem Barros e representante de farmacêutica
O depoimento previsto para a CPI nesta quarta-feira (11) é o do diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista. A empresa fabrica, entre outros medicamentos, a ivermectina, que tem sido utilizada como base do chamado tratamento precoce contra a Covid-19. A Vitamedic viu as vendas de ivermectina saltarem 1.105% na comparação entre 2019 e 2020.
Para quinta-feira (12), a audiência será com o líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR). O parlamentar entrou no foco da comissão após outro deputado, Luís Miranda (DEM-DF), dizer ao colegiado que ouviu do presidente Bolsonaro que um esquema de corrupção no Ministério da Saúde seria de responsabilidade de Barros. Desde que Miranda falou sobre isso à CPI, Bolsonaro não confirmou nem desmentiu a declaração. Já Barros alega inocência e chegou a acionar o Judiciário para antecipar o seu depoimento à CPI.
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