Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prestou segundo depoimento à CPI da Covid.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad
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A segunda participação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI da Covid do Senado indicou que o "gabinete paralelo" tem força e orienta constantemente as decisões do governo federal sobre temas ligados à pandemia. A opinião é de parlamentares que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro e que integram a CPI.

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Para os senadores alinhados ao governo federal, entretanto, Queiroga comprovou o empenho do governo em garantir a vacinação contra a Covid-19 e a CPI demonstrou seu caráter político, ao retirar o ministro de um dia de trabalho. Queiroga afirmou que a meta é vacinar toda a população adulta do país, ou seja, 160 milhões de pessoas, até dezembro.Fonte: Agência Senado

"Não 'existia' o 'gabinete paralelo', ele existe. Não é peça do passado, é peça do presente", disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Para o parlamentar, a fala de Queiroga que mais demonstra a estrutura adicional na órbita de Bolsonaro é o relato do ministro sobre o desligamento da médica Luana Araújo do Ministério da Saúde.

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No depoimento desta terça-feira (8), Queiroga disse que a não efetivação de Luana foi uma decisão sua; na semana passada, a médica falou à CPI que o ministro havia lhe comunicado da decisão "com pesar", e que a informara que o nome havia sido vetado pela Casa Civil. A contradição, segundo Randolfe, mostra que Queiroga não tem autonomia para comandar o ministério e que buscou em seu depoimento blindar o presidente Bolsonaro.

Os senadores de oposição também questionaram Queiroga sobre a continuidade, no ministério, da médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da pasta. Ela é notória defensora do tratamento precoce, que foi rechaçado por Queiroga nesta terça. O ministro disse que não sofre pressões para manter Mayra em sua equipe, e acrescentou que não dialoga, com ela, sobre questões ligadas à pandemia de Covid-19.

Governistas criticam “perda de tempo” da CPI

O senador Roberto Rocha (PSDB-MA), um dos últimos a participar da sessão da CPI desta terça, criticou a comissão por ter destinado um dia inteiro para a oitiva com Queiroga. “Meus colegas senadores deveriam refletir melhor antes de convocar pessoas como o ministro Queiroga, cujo tempo é precioso nesta guerra contra este inimigo invisível e letal, para não fazer com que ele passe um dia inteiro respondendo sucessivamente questões que já foram repetidas", disse o parlamentar.

Em outro momento de sua fala, Rocha falou que o principal problema enfrentado no combate à pandemia no Brasil “não é vacina, e sim vacinação” — na sua avaliação, os imunizantes estão à disposição das redes municipais e estaduais, mas prefeitos e governadores estariam falhando na hora de coordenar a aplicação das doses na população.

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Também alinhado com o presidente Bolsonaro, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse que Queiroga precisava responder “as mesmas perguntas” que já havia atendido na sua participação anterior na comissão.

Em resposta, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que o governo havia “perdido meses” para comprar vacinas, “e se o presidente e o Ministério da Saúde na época tivessem atendido o primeiro telegrama, o primeiro pedido da Pfizer, o ministro não estaria nem aqui hoje".

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Quarta-feira terá definições sobre quebras de sigilo

Um dos últimos anúncios da sessão da CPI desta terça foi o de que a comissão deverá votar já na quarta-feira (9) um requerimento para convocação e quebra dos sigilos telefônico e telemático do servidor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele é apontado como o autor do “relatório paralelo” citado pelo presidente Bolsonaro na segunda-feira (7), que indicaria que metade das mortes registradas por Covid-19 no Brasil teriam, na realidade, outras causas. Bolsonaro, na terça, recuou e disse que o TCU não havia produzido o documento.

O que houve, na verdade, foi um texto de autoria única de Marques, que disse acreditar que a pandemia pode estimular governadores e prefeitos a inflarem o número de mortes por Covid-19 para obterem mais recursos do governo federal. O servidor, no entanto, não apresenta nenhum argumento que justifica seu posicionamento. A hipótese de que o número total de mortos por Covid-19 não corresponde à realidade é habitualmente citada por lideranças alinhadas com o presidente Jair Bolsonaro, embora não encontre respaldo nos parlamentares governistas que integram a CPI.

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O requerimento sobre Marques foi apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), e defendido pelo presidente da comissão, Omar Aziz, e pelo vice Randolfe. Também nesta quarta, a CPI deverá votar um pedido de convocação do deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS), apontado como um dos líderes do “gabinete paralelo". Na sessão desta terça, foi exibido na CPI um vídeo com uma coletânea com pronunciamentos e entrevistas de Terra sobre a pandemia em que o deputado faz previsões que não se concretizaram — em diversas ocasiões ao longo do ano passado, ele disse que a pandemia se finalizaria em semanas.

A quarta-feira terá o depoimento de Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde durante a gestão de Eduardo Pazuello. Ele foi citado pelo gerente-geral da Pfizer, Carlos Murillo, como o interlocutor entre a empresa e o governo federal durante as negociações para a compra de vacinas, e um dos supostos responsáveis pelo atraso do Ministério em responder as ofertas para aquisição dos imunizantes.

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