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Eleições Municipais em 2024

Eleições nas 10 maiores capitais devem refletir disputa entre Lula e Bolsonaro

São Paulo
Disputa na capital paulista conta, até agora, com dois principais candidatos: Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) (Foto: Guilherme Cunha / SMTUR)

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As eleições municipais de 2024 serão realizadas somente em outubro do ano que vem, mas a construção das candidaturas nas maiores capitais brasileiras já indicam que haverá embates entre candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas maiores cidades brasileiras – mesmo que tais candidatos não pertençam aos partidos de ambos.

O pleito municipal é considerado como uma espécie de termômetro para a definição de nomes e apoios que podem se consolidar mais à frente, testando a força dos partidos e a formação de alianças para 2026.

O que significa que, embora nas cidades a definição política ainda dependa de questões locais, o que acontece no cenário nacional acaba afetando também os municípios, e nesse caso, é provável que os embates sejam principalmente entre candidatos apoiados pela esquerda e pela direita.

Apesar de Jair Bolsonaro ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente terá um papel fundamental na definição e escolha de candidatos que defendem bandeiras conservadoras e à direita, segundo avaliam analistas políticos. E a esquerda, por sua vez, vai buscar ampliar seus representantes, todos de olho em 2026.

Veja a seguir como estão as articulações políticas nas dez maiores capitais do país.

São Paulo: Boulos e Nunes são os principais nomes 

Em São Paulo, a maior cidade brasileira, vários nomes estão sendo cotados, mas até agora dois parecem estar mais consolidados: Guilherme Boulos (PSol), que deve contar com o apoio de Lula, prometido durante a campanha presidencial do ano passado; e Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição e negocia apoio do PL, partido de Bolsonaro. Entre outros nomes aventados estão os dos deputados federais Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União), e do senador Marcos Pontes (PL).

Recentemente, o apoio do PT à candidatura de Boulos foi questionado por uma ala do partido, encabeçada pelo secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “A aliança com o PSol é burra. É jogo de perde-perde”, disse em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no começo do mês. “A gente perde bancada porque a aliança fica estreita, não ganha a eleição na capital e perde, mais uma vez, porque o Psol não está votando com o nosso governo”, afirmou, referindo-se à oposição da bancada ao projeto do novo marco fiscal. Gleisi Hoffmann, porém, disse que a aliança está mantida e que "tergiversações agora só ajudam o atual prefeito e candidato à reeleição".

Enquanto isso, a direita ainda não fechou questão. O deputado Ricardo Salles (PL) chegou a dizer que seria o candidato de Bolsonaro na capital paulista, mas depois de declarações do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do próprio ex-presidente questionando essa candidatura, ele disse que não mais concorreria pelo partido.

Nunes vem tentando uma aproximação com Costa Neto e Bolsonaro. Há duas semanas, o ex-presidente se reuniu com o prefeito paulistano e chegou a afirmar que a "tendência" do PL era apoiar Nunes na disputa do ano que vem. O partido poderia indicar o vice da chapa. Se isso se confirmar, a disputa ganhará contornos nacionais com a polarização entre um candidato de Lula e outro de Bolsonaro. O senador Marcos Pontes é cotado como plano B do PL, caso a aliança não se confirme. Nunes também negocia apoio do PP, PSDB e PSD.

Rio de Janeiro: Eduardo Paes deve ter apoio de Lula 

Na cidade do Rio de Janeiro, o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), já disse que pretende lançar sua candidatura à reeleição em 2024, e deve contar com o apoio de Lula – embora uma ala do PT defenda candidatura própria.

O PL, por sua vez, ainda estuda o que fazer. A cidade é reduto eleitoral da família Bolsonaro, mas uma candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) já foi descartada. O general Braga Netto, que foi vice na chapa de Jair Bolsonaro no ano passado, é a opção mais forte até agora, mas o deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ) também trabalha para viabilizar seu nome.

Apesar de esses serem os nomes preferidos da família Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), parece ter outros planos. Ele apoia o nome do secretário de Saúde do Rio, Dr. Luizinho (PP), que já foi cogitado pelo Centrão para assumir o Ministério da Saúde, em uma minirreforma ministerial que ainda está sendo articulada.

Outros nomes cotados são Tarcísio Motta e Renata Souza, ambos do PSol, e o deputado federal Ottoni de Paula (MDB), que foi oficializado como pré-candidato à prefeitura do Rio, com o apoio do deputado Baleia Rossi, presidente nacional do MDB.

Fortaleza: José Sarto busca apoio para fortalecer candidatura à reeleição 

Na capital cearense, o prefeito José Sarto (PDT) busca fortalecer a candidatura à reeleição pelo PDT, mas pode ter a situação dificultada pela possibilidade do PT entrar na briga entre os irmãos Ciro e Cid Gomes. Ciro defende candidatura única do PDT na capital, enquanto Cid, que assumiu o comando do partido no Ceará, busca uma aproximação com o PT, que pode implicar na indicação de um vice para a chapa que seria encabeçada por Sarto. Mas outros integrantes do PT apostam que o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), seria uma alternativa na corrida pela prefeitura de Fortaleza em 2024.

As diferenças dentro do PDT podem fortalecer a candidatura do ex-deputado federal e alinhado à direita de Jair Bolsonaro, Capitão Wagner, que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo estadual em 2022 e atualmente é secretário de Saúde de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza.

Outros nomes ainda aparecem como apostas para a prefeitura de Fortaleza, como o da deputada petista Luizianne Lins, que já foi prefeita da capital por duas vezes, e o deputado André Fernandes, que preside o PL em Fortaleza, e também é próximo ao ex-presidente Bolsonaro.

Bruno Reis tenta reeleição em Salvador com apoio de políticos tradicionais na capital

Em Salvador, a disputa entre União Brasil e PT, que devem se aproximar na esfera federal após a minirreforma da Esplanada dos Ministérios, tende a ficar mais acirrada. O atual prefeito Bruno Reis (União) é forte candidato a mais um mandato, e conta com o apoio do ex-prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto (União). O atual administrador integra um grupo que já vem há dez anos liderando a política soteropolitana, e ainda teria a seu favor aliados em três ministérios de Lula.

Outro fator histórico que pode ajudar a candidatura de Reis seria o fato de que desde 2000 todos os prefeitos de Salvador que disputaram o cargo foram reeleitos. Mas ela pode esbarrar no surgimento de novos nomes como o do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e do ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, João Roma (PL).

Além disso, a disputa política dentro do PT baiano, entre aliados do senador Jaques Wagner e do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, pode complicar o lançamento de um nome de esquerda para a prefeitura de Salvador. Geraldo Júnior teria a simpatia de Wagner, e de parte do empresariado local. Outros nomes cotados para concorrer em Salvador são os da deputada federal Lídice da Mata e do vereador Sílvio Humberto, do PSB. A definição de um candidato de oposição em Salvador ainda está sendo alinhada, mas deverá sofrer influência do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que defende uma única candidatura mais à esquerda.

À direita, quem também pode aparecer como candidato é o Padre Kelmon (PTB), ex-candidato à Presidência da República em 2022, e que já admitiu a possibilidade de disputar a prefeitura de Salvador.

Belo Horizonte: disputa pela prefeitura deve colocar frente a frente candidatos de direita

O senador Carlos Viana (Podemos) já anunciou que tem vontade de ser prefeito de Belo Horizonte e que vai disputar as eleições municipais em 2024. Ex-integrante do PL e aliado de Bolsonaro, o parlamentar se movimenta para articular com legendas e pré-candidatos ao Palácio da Liberdade, como já fez com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD). Em entrevistas, Viana já disse que se sente preparado para a disputa. “Quero ser candidato a prefeito, penso que posso ajudar”, declarou em entrevista ao jornal O Estado de Minas, em abril.

O deputado estadual Bruno Engler, do PL, o mais votado de Minas em 2022, também aparece como pré-candidato à prefeitura da capital mineira. O parlamentar já anunciou a vontade de disputar a eleição em Belo Horizonte, e conta com a simpatia do PL de Jair Bolsonaro. Além disso, o deputado aposta na defesa dos valores conservadores e da família para conquistar o voto do eleitorado de Belo Horizonte. Engler já disse em entrevistas que Bolsonaro, mesmo estando inelegível, não perdeu força como cabo eleitoral de peso para qualquer candidatura. Sobre um eventual apoio do governador Romeu Zema, Engler tem dito que tem um “bom” diálogo com o Novo, e não descarta a composição de uma chapa futura com a legenda.

Também estão cotados para concorrer ao comando da capital mineira nomes como os do deputado Rogério Correa, do PT, que teria o apoio inclusive da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffman – apesar de uma ala petista defender apoio à candidatura da deputada federal Duda Salabert (PDT), que também desponta como possível nome na disputa do ano que vem. O atual prefeito, Fuad Norman (PSD), deverá tentar a reeleição.

O nome do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que teve um milhão e meio de votos para a Câmara dos Deputados, também é ventilado como possível candidato em Belo Horizonte, mas alguns setores consideram que ele ainda é muito novo e não tem experiência administrativa para tocar uma cidade do porte da capital mineira. Outra possível candidatura seria a do deputado federal Newton Cardoso Jr (MDB).

Manaus: David Almeida deve buscar a reeleição na maior capital da região Norte 

Na maior cidade do Norte do país, Manaus, a disputa pela prefeitura em 2024 deve ter o atual prefeito, David Almeida (Avante), tentando se reeleger para mais um mandato. Almeida tem experiência como parlamentar, foi deputado estadual entre 2007 e 2018 e passagem por cinco partidos políticos.

Como um dos prováveis adversários pela prefeitura, ele pode enfrentar o jovem Amon Mendel (Cidadania), recordista de votos na eleição para a Câmara dos Deputados em 2022.

A esquerda local poderá ser representada por José Ricardo Wendling (PT), enquanto Roberto Cidade (União Brasil) e Alberto Neto (PL) podem surgir como alternativas de escolha para a prefeitura mais à direita, assim como o Coronel Menezes, que foi nomeado superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) durante a gestão de Bolsonaro.

Corrida para prefeitura em Curitiba ainda está indefinida 

Em Curitiba, capital paranaense, o PSD, partido do prefeito Rafael Greca, deve apostar as fichas no atual vice-prefeito da cidade, Eduardo Pimentel (PSD), neto do ex-governador Paulo Pimentel e atualmente secretário de Cidades do governador Ratinho Jr (PSD). A articulação para essa candidatura teve início ainda nas eleições de 2020, fruto de uma aliança entre Ratinho Junior (PSD) e Greca.

Entre os possíveis candidatos à prefeitura da capital paranaense estão ainda Ney Leprevost, do União Brasil, e Paulo Marins (PL), aliado do ex-presidente Bolsonaro que disputou uma vaga ao Senado no ano passado.

A oposição ao governo Greca ainda está dividida e terá que decidir se lança candidato próprio ou aposta em uma frente ampla de esquerda. Um dos nomes que pode surgir nesse cenário é o do deputado federal Luciano Ducci (PSB), mas que pode enfrentar resistências dentro do Partido dos Trabalhadores por conta da aproximação com o PSDB local, já que foi vice do ex-governador Beto Richa.

Outro nome de esquerda que pode disputar a prefeitura seria Jorge Brand, tratado como um nome forte no PDT para concorrer em 2024, liderando uma frente de esquerda na disputa local. No caso de candidatura própria do PT, há nomes cotados como o da deputada Carol Dartora.

Para o consultor eleitoral Luiz Eduardo Peccinin, mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o cenário em Curitiba ainda pode ser bastante alterado, já que a candidatura de Deltan Dallagnol (Podemos) era tida como certa até a cassação e a inelegibilidade declaradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em maio, o TSE cassou o registro de candidatura do ex-procurador e ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato por entender que ele pediu exoneração do cargo para evitar possíveis processos administrativos disciplinares. Dallagnol se disse condenado por ter combatido a corrupção e recorreu, mas o ministro do STF Dias Toffoli negou e considerou correto o entendimento da justiça eleitoral.

Diante disso, Peccinin acredita que Pimentel deve conseguir mais apoio, levando em conta que o governador Ratinho Júnior ajudou a eleger 240 prefeitos nas eleições passadas. Mas ele lembra que as realidades municipais são bastante diferentes, com maior autonomia na formação de alianças. Ele disse acreditar ainda que o PL tenha participação mais expressiva na disputa, levado-se em conta o discurso mais “conservador”.

Roosevelt Arraes, da Escola Paranaense de Direito, acredita que os arranjos político locais e regionais no Paraná podem fazer surgir novos nomes, até mesmo alguém ligado à Lava Jato, e que aglutine mais forças em torno das alianças. “Me parece que quem se fragmentar nessa disputa eleitoral terá menos chance de se eleger”, afirma. “As conversas ainda estão acontecendo, mas me parece que esse ponto de reunião de forças vai ser determinante para a construção de candidaturas competitivas”, completa.

João Campos tenta se reeleger em Recife 

Na capital pernambucana, Recife, a disputa pela prefeitura ainda está indefinida em relação ao candidato de oposição que enfrentará o atual prefeito João Campos (PSB), que deve disputar a reeleição.

Os nomes que estão sendo cogitados para concorrer contra Campos são o de Gilson Machado, aliado de Bolsonaro que deverá contar com apoio do PL para a prefeitura, com possível apoio de PP e Republicanos na disputa; a ex-deputada Marília Arraes (Solidariedade), prima de Campos; Priscila Krause, do Cidadania; e João Paulo Lima, do PT.

Goiânia: Rogério Cruz em busca de apoio para garantir reeleição 

Goiânia também deverá ter o atual prefeito, Rogério Cruz (Republicanos), que herdou o cargo depois da morte de Maguito Vilella (MDB) em 2021, em busca da reeleição em 2024, numa possível disputa com o atual deputado federal Gustavo Gayer, do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. Cruz teria apoio do governador Ronaldo Caiado e do União Brasil na disputa.

Já o MDB pode lançar candidato próprio. A cotada é Ana Paula Rezende, filha do ex-prefeito Íris Rezende, político tradicional no estado.

O senador Vanderlan Cardoso (PSD) também é cotado como candidato à prefeitura da capital goiana, além das deputadas Silvye Alves (União Brasil) e a petista Adriana Acoorsi, o nome de esquerda para a prefeitura, que tem bom trânsito entre partidos, inclusive de direita.

Porto Alegre: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição na capital gaúcha 

Em Porto Alegre, a disputa pela prefeitura também deve contar com o atual ocupante do cargo tentando se reeleger. Sebastião Melo, do MDB, é representante da direita na capital gaúcha. O ex-ministro de Bolsonaro e ex-deputado Onyx Lorenzoni (PL) também pode surgir no cenário político gaúcho como outra alternativa da direita, enquanto a esquerda ainda tenta buscar um nome forte para enfrentar a situação.

Um dos nomes cotados pelo PT, o deputado estadual Miguel Rosseto disse que a disputa em Porto Alegre deverá ser focada entre o prefeito Melo e uma força de oposição. Em conversas, ele tem afirmado que a oposição gaúcha precisa estar unida e diz que há vários nomes com potencial para a disputa. Alguns dos possíveis candidatos nessa área seriam a deputada federal Maria do Rosário (PT), Manuela D’Ávilla (PCdoB), que já concorreu à prefeitura de Porto Alegre, e Juliana Brizola (PDT), neta do ex-governador do estado Leonel Brizola.

Eleições municipais têm características próprias 

“A política municipal é uma coisa à parte”, afirma Roosevelt Arraes, advogado eleitoralista, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), e professor da Escola Paranaense de Direito. Isso, segundo ele, faz com que as realidades nas eleições municipais, embora sigam o embate natural entre situação e oposição na esfera federal, tenham características próprias. “Eventualmente um partido que é oposição no governo federal é situação em determinado município”, diz ele.

Nas eleições municipais, os partidos que têm melhor desempenho costumam ser aqueles mais estruturados, com diretórios montados e candidatos com prestígio local e apoio de deputados estaduais e federais, além da influência dos governadores, de acordo com Roosevelt.

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