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Bolsonaro com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, em evento recente: eleições para prefeitura do Rio de janeiro têm vários pré-candidatos identificados com o bolsonarismo.
Bolsonaro com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, em evento recente: eleições para prefeitura do Rio de janeiro têm vários pré-candidatos identificados com o bolsonarismo.| Foto: Marcos Corrêa/PR

Em 2020, pela primeira vez, Jair Bolsonaro votará para prefeito do Rio de Janeiro na condição de presidente da República. E a definição de quem receberá seu voto é, até agora, um dos principais debates da pré-campanha na capital fluminense. Todos almejam ter o selo de "candidato do Bolsonaro", mas o chefe do Executivo nacional disse que não quer se envolver no primeiro turno das eleições municipais, apesar da pressão que recebe de aliados.

Há um número expressivo de pré-candidatos no campo da direita e da centro-direita, que é por onde transita o bolsonarismo. Eles são Eduardo Paes (DEM), Rodrigo Amorim (PSL), Luiz Lima (PSL), Marcelo Crivella (Republicanos), Cristiane Brasil (PTB), Otoni de Paula (PSC), Paulo Marinho (PSDB) e Fred Luz (Novo).

Embora nem todos busquem o apoio declarado de Bolsonaro — Marinho, pelo contrário, é inimigo do chefe do Executivo —, eles querem votos de quem elegeu o presidente em 2018. Na última eleição, Bolsonaro foi o mais votado na cidade do Rio de Janeiro, e com larga margem, nos dois turnos.

A definição do voto de Bolsonaro passa, entre outros fatores, pelo seu processo de reaproximação com o PSL. Seu antigo — e talvez futuro — partido trabalha com três cenários distintos para as eleições municipais: a candidatura própria, que seria encabeçada por Rodrigo Amorim ou Luiz Lima, ou indicar o vice de Eduardo Paes ou Marcelo Crivella.

"Estamos tentando entender o cenário geral para tomar uma decisão. Queremos tomar uma decisão que seja boa para o Rio de Janeiro. Sabemos que o PSL tem um papel importante. Nosso movimento pode vir a definir a eleição, dependendo de para onde nos inclinarmos", afirmou o presidente estadual do PSL, o deputado federal Sargento Gurgel.

Segundo o parlamentar, o partido leva em conta critérios como priorizar a gestão da cidade ou dar mais foco ao embate esquerda versus direita. Se este último aspecto for definido como prioritário, de acordo com Gurgel, é mais provável que o PSL opte por apoiar a candidatura de Crivella à reeleição. O atual prefeito tem se aproximado do bolsonarismo nos últimos tempos e conseguiu filiar ao seu partido dois filhos do presidente, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro.

Crivella, entretanto, tem no passado conexões com a esquerda brasileira, que serão exploradas por seus adversários na briga pela vaga de candidato "oficial" do bolsonarismo. O prefeito foi apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em algumas disputas eleitorais e exerceu o cargo de ministro da Pesca do governo de Dilma Rousseff (PT) entre 2012 e 2014. Pré-candidatos como Cristiane Brasil e Otoni de Paula têm mencionado que Crivella não seria um bolsonarista "da gema", em virtude das alianças passadas.

A relação contraditória com o bolsonarismo é algo que marca também a pré-candidatura de Paulo Marinho. O tucano foi um dos principais articuladores da campanha de Bolsonaro em 2018 e se elegeu como primeiro suplente de Flávio no Senado. No entanto, rompeu com a família Bolsonaro pouco após o término daquela disputa eleitoral. Foi para o PSDB sob as bênçãos do governador paulista, João Doria, e seu plano inicial era lançar como candidato o ex-ministro Gustavo Bebianno. Mas Bebianno morreu em março.

Marinho foi alçado como candidato, movimento que desagradou membros históricos do PSDB. O deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha se desfiliou da sigla após 27 anos, chamou Marinho de "golpista neófito" e ironizou a pré-candidatura, ao dizer que uma "cópia" do bolsonarismo não tenderia a ter sucesso, já que a população poderia votar no modelo original.

Eleições de 2022 no radar

A candidatura de Marinho se conecta com os planos presidenciais do governador Doria, que busca fortalecer o PSDB no estado e ter um palanque mais forte para a disputa de 2022.

Outros movimentos conectam a corrida atual do Rio com a eleição de 2022. A pré-candidatura de Cristiane Brasil, e sua tentativa de ser vista como uma candidata autenticamente bolsonarista, é também uma iniciativa para aproximar o PTB do presidente da República. O partido de Brasil e do seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson, já foi o de Bolsonaro nos anos 2000 e busca ter o presidente como candidato em 2022. Jefferson disse publicamente em mais de uma ocasião que concede a legenda para Bolsonaro concorrer à reeleição pelo PTB.

Mas uma eventual discussão sobre o futuro partidário de Bolsonaro só faz sentido se o projeto Aliança Pelo Brasil realmente não se concretizar. O partido idealizado pelo presidente e seu "núcleo duro" foi lançado em novembro do ano passado, não conseguiu se formalizar a tempo de disputar as eleições de 2020 e seus integrantes já consideram não concorrer em 2022.

Segundo o deputado Gurgel, a disputa entre Aliança e PSL não afeta as negociações no Rio de Janeiro. "Aqui, não existe esse debate. Não separamos o partido em diferentes alas. Procuro manter um excelente relacionamento com todo mundo", disse.

Afastamento de Witzel também mexe com as eleições do Rio

O afastamento do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), na última sexta-feira (28), deve influenciar na composição de forças do bolsonarismo com vistas à disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro.

O deputado federal Otoni de Paula (PSC) é um dos aliados de primeira hora do presidente da República e quer sair candidato a prefeito nas eleições deste ano. O problema é que ele nunca recebeu as bênçãos do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC e padrinho político de Witzel, que foi preso pela Polícia Federal. Muito pela proximidade que Otoni tem com Bolsonaro.

Everaldo apoia a pré-candidatura da ex-juíza Glória Heloíza Lima da Silva, que largou a magistratura para ser candidata à prefeitura do Rio pelo PSC. Mas agora, com a prisão do pastor e o afastamento de Witzel, Otoni ganha força dentro do partido para encampar o projeto da sua candidatura e aproximar a legenda de Bolsonaro.

Integrantes do PSC admitem que Everaldo era visto como uma “pedra no sapato” na relação do partido com o Planalto. O pastor nunca perdoou Bolsonaro pelo fato de ele ter trocado a sigla pelo PSL, em 2018, na disputa pela Presidência da República.

Com a prisão de Everaldo, o ex-senador e ex-deputado pela Paraíba Marcondes Gadelha, vice-presidente do partido, assumiu provisoriamente o cargo.

Esquerda também tem divisões

O ambiente de falta de consenso também se encontra na esquerda do Rio de Janeiro. Segundo colocado nas eleições municipais de 2012 e 2016, o deputado federal Marcelo Freixo (Psol) era pré-candidato para 2020, mas desistiu da candidatura em maio por entender que não haveria a construção de uma "frente ampla" contra os bolsonaristas. Seu partido lançou o nome da deputada estadual Renata Souza.

O PT terá como candidata a deputada Benedita da Silva, que já concorreu ao cargo em 1992. O PDT também apresentará uma candidatura feminina, a da deputada estadual Martha Rocha. A parlamentar é ex-delegada e ganhou notoriedade ao chefiar a Polícia Civil do Rio.

A candidatura de Martha terá o apoio de Rede e PSB. A aliança destes partidos foi um dos elementos que levou à desistência de Freixo, que reclamou do fato de não ter tido a oportunidade de se reunir com os dirigentes das legendas.

Pesquisas colocam Paes na frente

O ex-prefeito Eduardo Paes é o favorito de momento para vencer as eleições para a prefeitura. Ele figura em primeiro lugar em pesquisa de intenção de voto, com o prefeito Marcelo Crivella em segundo lugar (veja a metodologia da pesquisa no final desta reportagem).

Paes ganhou um reforço adicional na última quarta-feira (26), quando o deputado Marcelo Calero (Cidadania) retirou sua pré-candidatura e disse que apoiará o candidato do Democratas.

Presidente estadual do DEM, o vereador e ex-prefeito César Maia disse que "só ele [Paes] pode responder" os critérios que serão adotados na escolha do candidato a vice-prefeito. Maia colocou também que vê como mais provável um cenário de segundo turno entre Paes e Crivella.

Paes foi eleito prefeito do Rio em 2008 e reeleito em 2012. Na segunda disputa, venceu em primeiro turno. Ele concorreu ao governo do estado em 2018 e era o favorito até poucos dias antes da realização do primeiro turno, quando foi superado pelo surpreendente Wilson Witzel (PSC), que contou com o apoio da família Bolsonaro.

Metodologia da pesquisa citada

O Paraná Pesquisas ouviu 910 eleitores com 16 anos ou mais do Rio de Janeiro, de forma presencial, entre os dias 15 e 19 de agosto de 2020. A pesquisa tem um grau de confiança de 95% e uma margem de erro de 3,5% para mais ou para menos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número RJ- 02794/2020.

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