Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Pedido da Justiça

Governo pede sigilo ao processo de extradição de Oswaldo Eustáquio

Justiça da Espanha intima Oswaldo Eustáquio para julgar prisão
Governo pede sigilo ao processo de extradição de Oswaldo Eustáquio (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

Ouça este conteúdo

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) solicitou ao governo da Espanha que o processo de extradição de Oswaldo Eustáquio, que está no país, corra em sigilo. O ofício teria sido enviado pela Embaixada do Brasil às autoridades do país europeu, que já haviam recusado um pedido de extradição do governo brasileiro anteriormente.

De acordo com a informação revelada pelo portal Metrópoles e confirmada pela Gazeta do Povo, o ofício teve origem na Embaixada do Brasil em Madri e enviado ao Ministério de Assuntos Exteriores, União Europeia e Cooperação da Espanha.

“Essa missão diplomática roga encarecidamente a colaboração para garantir que a informação tramite de forma sigilosa, tendo em conta a importância e a sensibilidade do caso para o governo brasileiro”, diz um dos trechos do documento.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública, pasta que é responsável pelos processos de extradição no Brasil, também teria solicitado que a Advocacia-Geral da União (AGU) fosse ouvida antes de a Espanha tomar uma decisão final sobre o destino de Oswaldo Eustáquio.

Um trecho do documento revelado pelo Metrópoles, pede ainda para que a “autorização à Audiência Nacional espanhola, com oferecimento de reciprocidade, para que um representante do Estado brasileiro [a AGU] intervenha na audiência [de Oswaldo Eustáquio]”. Procurada pela Gazeta do Povo, a pasta não quis comentar os detalhes da decisão.

Em nota enviada à reportagem, o Ministério da Justiça informou que "não se manifesta em relação a casos específicos, recebidos ou não, uma vez que correm em sigilo". O Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, que atua como "ponte" nesses processos entre o MJ e os demais países, também não entrou em detalhes sobre o caso Oswaldo Eustáquio.

"O tratamento dos casos de extradição é classificado de acordo com o sigilo do processo jurídico e os inquéritos em curso. Casos de extradição são de responsabilidade do juízo no qual se origina o processo [...] Em observância à proteção de informações pessoais por órgãos públicos, disposta na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e na Lei de Acesso à Informação, não poderão ser fornecidos dados específicos sobre casos individuais sem a anuência dos envolvidos", declarou através de nota.

Analistas consultados pela Gazeta do Povo explicam que o sigilo em processos de extradição ser um pedido comum em casos que possam representar risco de segurança nacional. Além disso, a Constituição Brasileira e o Manual de Extradição das Nações Unidas, preveem que o país requerente da extradição pode solicitar e até mesmo exigir que tais casos corram em sigilo.

"O Estado Parte requerente poderá exigir que o Estado Parte requerido guarde sigilo sobre o pedido de extradição e o seu conteúdo, salvo na medida do que seja necessário executar. Se o Estado Parte requerido não puder satisfazer esta exigência, informará prontamente o Estado Parte requerente", diz o artigo 20 da Convenção da ONU. O mesmo também é previsto no Tratado de Extradição assinado em 1988 entre Brasil e Espanha.

Apesar do que é previsto nas diretrizes internacionais e na Constituição Brasileira, as razões para o pedido de sigilo no caso de Oswaldo Eustáquio não foram esclarecidas pelo Ministério da Justiça.

VEJA TAMBÉM:

Oswaldo Eustáquio está no alvo do STF

Oswaldo Eustáquio vive em Madri desde 2023 e é um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das milícias digitais e é acusado de envolvimento em organização criminosa “destinada a cometer os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado”.

Considerado foragido, Eustáquio deixou o Brasil logo após as eleições presidenciais de 2022 por receio de ser preso novamente –ele já havia sido detido em 2020 e 2021. Pouco depois da fuga, ele teve a prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Em junho de 2023, Moraes ordenou a inclusão do jornalista na lista vermelha da Interpol de procurados pela Justiça. Em outubro do mesmo ano, o magistrado solicitou sua extradição. Cerca de cinco meses depois, em março de deste ano, o Ministério Público da Espanha negou o pedido de extradição de Eustáquio.

Em documento assinado pelo MP do país, o órgão justifica que os atos atribuídos ao jornalista pelo STF para pedir a extradição não são crimes na Espanha e estão protegidos pela liberdade de expressão.

Há ainda outros casos de brasileiros extraditados que entraram na mira de Alexandre de Moraes. Também em outubro do ano passado, o ministro pediu pela extradição de 63 brasileiros investigados pelos atos de 8/1 que estão foragidos na Argentina. O governo do país chegou a emitir mandados de prisão para estes brasileiros e ao menos dois foram detidos.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros