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Chapa Moro e Huck para as Eleições 2022 começou a ser costurada. Irá adiante?
Chapa Moro e Huck para as Eleições 2022 começou a ser costurada. Irá adiante?| Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

A confirmação de um encontro entre dois nomes de peso na corrida pela Presidência da República em 2022 movimentou o xadrez político nas últimas 48 horas. A Folha de São Paulo revelou no último domingo (8) que o ex-juiz federal Sergio Moro recebeu o apresentador de TV Luciano Huck em Curitiba, no mês passado, para discutir o panorama eleitoral e uma possível aliança.

Na mesa, a tentativa de viabilizar uma candidatura de centro para enfrentar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro e a esquerda representada pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A alternativa passaria por uma composição com nomes como o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e até do vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB).

Apontado como presidenciável desde as eleições de 2018, apesar de nunca ter disputado cargo eletivo, Huck tem se movimentado nos bastidores da política com desenvoltura. Nesta segunda-feira (9), segundo o jornal O Globo, o apresentador de TV almoçou com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), no Rio de Janeiro. A interlocutores, Huck teria dito que esse é o momento para se conversar.

Em setembro último, o governador João Doria, um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, também se encontrou com Moro para tratar do pleito de 2022.

Composição de Huck com ex-juiz enfrenta resistência

O nome de Sergio Moro enfrenta resistência para se formar uma articulação de centro em 2022. O fato de o ex-juiz ter integrado até recentemente o governo Bolsonaro como ministro da Justiça e Segurança Pública é visto com ressalvas por nomes tanto de centro-esquerda quanto de centro-direita. Rodrigo Maia, por exemplo, deixou claro que não apoia uma chapa com Moro por considerar o ex-juiz de "extrema-direita".

Outros nomes do Centrão, integrantes de partidos como Republicanos e PP, por exemplo, também não apoiam o nome de Moro por considerarem sua atuação na Lava Jato como uma agenda antipolítica.

Já o núcleo que acompanha os movimentos de Huck vê Moro como um nome ainda muito ligado à direita. Embora tenha rompido com Bolsonaro, a passagem do ex-juiz pelo governo federal poderia tirar o caráter centrista que os apoiadores de Huck gostariam de dar a uma eventual candidatura.

Presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, que já abriu as portas do partido para o apresentador e tem atraído líderes de movimentos de renovação, disse que já sabia que Huck se encontraria com Moro. Ao jornal O Estado de São Paulo, ele defendeu o diálogo, apesar das diferenças políticas que tem com o ex-juiz, e afirmou que a prioridade para 2022 deve ser combater Bolsonaro.

"(Uma eventual união de Huck com Moro) é problemática? Claro que sim, mas (o debate) tem que começar agora para dar tempo de as pessoas se convencerem de que é importante unir oposições democráticas contra o bolsonarismo. Veja o que os Estados Unidos fizeram (na vitória de Joe Biden). Não vejo convergência entre meu partido e o Moro, mas prefiro a direita lavajatista do que Bolsonaro. Se a pessoa quiser se integrar, não podemos excluí-la por causa das companhias com quem ela andava", afirmou.

O encontro entre Huck e Moro repercutiu negativamente entre integrantes de movimentos de renovação política, como o RenovaBR e o Agora!, apadrinhados por Huck. Esses grupos tentam manter um caráter apartidário, recebendo integrantes de diferentes espectros políticos, e acham que a identificação de Moro com a direita pode atrapalhar a divulgação dessa bandeira.

Em nota, o RenovaBR, que tem Huck no Conselho Consultivo, disse que "questões políticas particulares" do apresentador "não dizem respeito ou afetam o trabalho" do grupo.

O que diz Moro sobre a articulação para 2022

Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (9), Moro criticou o ambiente de polarização entre esquerda e direita no país e admitiu que tem conversado com nomes que buscam construir uma alternativa.

“Eu ficaria bastante desapontado se chegássemos em 2022 e tivéssemos apenas, como perspectivas eleitorais, dois extremos polarizados, a esquerda e a direita. O brasileiro tem um perfil mais moderado, e essa moderação favorece comportamentos de tolerância, que é o que nós precisamos, e o fim desse ciclo de ódio, que envolve principalmente as figuras do presidente (Bolsonaro) e igualmente do PT, especialmente o ex-presidente Lula. A construção disso é uma coisa importante, e não necessariamente passa por mim. Existem várias pessoas”, disse Moro.

Além de Huck, o ex-juiz citou outros possíveis candidatos para as próximas eleições presidenciais, como João Doria, Mourão, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o empresário João Amoêdo (Novo), que foi candidato a presidente em 2018. “Todo mundo está conversando, mas isso não significa que vou ser candidato. Minha preocupação é com o momento atual”, afirmou o ex-juiz.

Huck de volta ao páreo: "estou aqui"

Enquanto a eleição não chega, Huck faz movimentos à esquerda e à direita em busca de articulação para uma eventual candidatura à Presidência da República. Nos últimos meses, Huck se reuniu com os governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), além de políticos, pesquisadores e representantes de setores empresariais.

Em setembro, em evento na Associação Comercial de São Paulo, Huck foi questionado se tinha "coragem" de ser candidato a presidente. "Estou aqui", respondeu. A declaração destoou de comentários anteriores em que o apresentador evitava sinalizar de forma objetiva se pretende ser candidato.

O apresentador tem conversado com várias correntes políticas, mas evita ser assertivo sobre seu futuro político. Aliados de Huck temem que, uma vez que a pré-candidatura seja oficializada e ele se filie a uma sigla, o apresentador perca espaço na TV e entre grupos da sociedade que não querem se associar a um determinado grupo político.

Qual partido pode encabeçar chapa de centro

Além das especulações sobre alianças para 2022, ainda há outro ponto que precisa ser definido. Qual será o partido que encabeçaria uma chapa de centro para a eleição presidencial?

Se Huck decidir se candidatar ao Palácio do Planalto, há opções sobre a mesa. Maia tenta atrair o apresentador de TV para o DEM e já disse, em entrevista à Veja, que seu partido prefere Huck como candidato ao invés de Doria, por exemplo.

Mas Huck também é ligado ao tucano e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que pode atraí-lo para o PSDB. Há, ainda, o Cidadania de Freire, que já abriu as portas do partido para o apresentador de TV.

Quem será o nome da esquerda para enfrentar Bolsonaro

Huck também já conversou com lideranças de esquerda em busca de uma união contra Bolsonaro em 2022, mas ainda não há definição sobre como poderia funcionar uma frente ampla incluindo esses partidos.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é um dos principais interlocutores de Huck na esquerda e já foi apontado como possível vice em uma chapa com o apresentador. Ele defendeu publicamente a aproximação entre o apresentador e Lula, de quem é aliado.

Mas Dino não ficou satisfeito ao saber da aproximação de Huck com Moro. O governador disse ao jornal O Estado de São Paulo que o apresentador "explode pontes" ao se aproximar do ex-juiz da Lava Jato. "Existe uma rejeição profunda a Moro na política e no mundo jurídico. É visto como extremista e mau caráter. Quem com ele se junta explode pontes e abre mão de ser um aglutinador", disse.

Com Lula inelegível por causa das condenações em segunda instância na Lava Jato, a esquerda ainda busca um nome de consenso para disputar as eleições de 2022. O mais cotado, até o momento, é Ciro Gomes (PDT), que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial de 2018.

Nesta segunda, durante evento público em São Paulo, Ciro reagiu à articulação por uma candidatura de centro em 2022. "A fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda, o que eu nunca fui", afirmou Ciro. "Moro vendeu a toga em troca de um cargo e é um cara da extrema direita. O Moro se veste como os fascistas italianos da década de 30. O Moro é fascista", atacou Ciro.

A chance de uma união entre o ex-juiz e o apresentador também foi tratada com ironia pelo ex-presidente Lula. “Agora tentam preparar uma chapa Huck/Moro… Cada hora inventam uma coisa. A única coisa que eles não admitem voltar é o PT e o Brasil da inclusão social. Basta ver meu habeas corpus que está há dois anos esperando julgamento. Porque politicamente pra eles não é conveniente”, disse o petista.

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