Ouça este conteúdo
A Justiça do Amazonas condenou Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, a 36 anos de prisão por homicídio qualificado e participação em organização criminosa. A sentença de uma das figuras mais influentes do Comando Vermelho (CV) no estado foi proferida pelo Tribunal do Júri de Manaus, na última quarta-feira (9).
VEJA TAMBÉM:
De acordo com as investigações, Clemilson foi o mandante do assassinato de Adriana Monteiro da Cruz, morta a tiros em frente à própria casa, no bairro Novo Aleixo, em julho de 2017. A vítima, no entanto, teria sido executada por engano: o alvo real era sua irmã, Simone — conhecida como “Nega” — então companheira de um traficante rival à facção de Clemilson.
O crime, cometido à luz do dia e na presença da mãe da vítima, chocou a vizinhança e teve forte repercussão em Manaus. Dois homens armados se aproximaram a pé e atiraram contra Adriana, que estava sentada na calçada. Ela foi atingida no peito e morreu após ser socorrida ao hospital.
Os executores, Mardson de Oliveira Serrão e Rodrigo Pereira da Silva, morreram durante o curso do processo, assim como Alessandro Campos da Costa, apontado como segundo mandante. Com isso, suas punições foram extintas.
VEJA TAMBÉM:
Ligação com a "Dama do Tráfico"
Clemilson é casado com Luciane Barbosa Farias, conhecida nacionalmente como a “Dama do Tráfico”. Formada em direito, Luciane se apresentou por anos como defensora dos direitos de presos no sistema carcerário. No entanto, foi condenada a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e participação no Comando Vermelho.
Investigações revelaram que ela usava um salão de beleza para movimentar dinheiro da facção. Em apenas um ano, seu patrimônio declarado saltou de R$ 30 mil para R$ 346 mil. Atualmente, ela e Clemilson são registrados como sócios em uma empresa de transporte.
Luciane ganhou notoriedade em 2023 ao participar de reuniões com autoridades do Ministério da Justiça, em Brasília. Embora sua presença não constasse nas agendas oficiais, ela foi recebida por secretários da pasta, como Elias Vaz (Assuntos Legislativos) e Rafael Velasco Brandani (Políticas Penais). O ministério alegou que Luciane acompanhava membros da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim), responsável por solicitar os encontros.
Ao rebater as críticas sobre a reunião no ministério, a "dama do tráfico amazonense" disse que “luta por garantir dignidade e direitos fundamentais” ao seu esposo, que é considerado um criminoso de “altíssima periculosidade”, de acordo com o Ministério Público do Amazonas. “Não sou faccionada de nenhuma organização criminosa e venho, como inúmeras outras esposas e familiares, sendo criminalizada pelo fato de ser esposa de um detento”, escreveu em nota publicada no Instagram.
Perfil e histórico criminal do "Tio Patinhas"
Conhecido pelo apelido “Tio Patinhas” por sua suposta atuação no setor financeiro da facção, Clemilson, de 45 anos, já havia sido condenado em 2022 a 31 anos de reclusão por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em 2018, ele foi capturado em um apartamento de luxo em Recife, após figurar entre os criminosos mais procurados do Amazonas.
Mesmo após ter a prisão revogada por falta de provas em 2022, permaneceu por pouco tempo em liberdade. Uma nova ordem de prisão foi expedida dias depois, com base em novos elementos levantados nas investigações.
Durante o processo, Clemilson negou envolvimento com o tráfico e disse ter construído sua vida por meio de trabalhos humildes, alegando ter começado a trabalhar aos 10 anos e chegado a ser dono de um micro-ônibus de lotação.
VEJA TAMBÉM:
- PCC e Comando Vermelho fecham nova parceria em contrato e abrem empresas para “lavar” R$ 6 bilhões
- “ADPF das Favelas”: decisão final do STF vai melhorar ou piorar de vez a segurança do Rio?
- Por que 46 das 88 organizações criminosas brasileiras estão no Nordeste
- Deputada propõe equiparação de crimes de facções a atos terroristas