Ex-ministro Marco Aurélio Mello criou a TV Justiça em 2002 para dar transparência à sociedade dos trabalhos do Judiciário.| Foto: Nelson Jr./STF
Ouça este conteúdo

O ex-ministro Marco Aurélio Mello, aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por defender que os votos dos magistrados da mais alta Corte do país sejam secretos e sem acesso público. Ele foi o responsável pela criação da TV Justiça em 2002 para dar transparência às atividades das sessões de julgamento.

CARREGANDO :)

De acordo com ele, Lula pode ter cometido um “ato falho”, mas, ainda assim, um “arroubo de retórica inconcebível” ao defender que “ninguém precisa saber” como votaram os ministros. A fala, dada na manhã desta terça (5) na live semanal, não repercutiu bem entre parlamentares de centro e de direita.

“A publicidade é desinfetante, é o que clareia, o que direciona a dias melhores. Não há espaço para mistério, não podemos voltar à época das cavernas. Os ministros do STF têm que prestar contas para a sociedade, todo homem público têm que prestar contas”, disse em entrevista ao jornal O Globo.

Publicidade

Marco Aurélio Mello ainda questionou se Lula está “convencido do que falou”, e ressaltou que a TV Justiça “aproximou o Judiciário da sociedade, e a sociedade do Judiciário”.

“Isso é salutar. A TV Justiça veio para ficar, duvido que alguém tenha coragem de acabar”, completou.

A TV Justiça foi criada no período em que o magistrado presidiu a Corte e transmite as sessões do plenário para todo o país. A lei que permitiu a instalação do canal foi promulgada pelo próprio ex-ministro quando ocupou interinamente o cargo de presidente da República no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

“Qual é a mola mestra da administração pública? É a publicidade. É o que permite à imprensa ter acesso ao dia a dia da máquina pública e informar aos contribuintes para que cobrem uma postura exemplar de todos, dos magistrados, dos agentes políticos e públicos”, completou o ministro.

Pela manhã, durante a live semanal, Lula defendeu o sigilo nos votos dos ministros do STF por uma questão de segurança, por conta das hostilidades que ministros têm sofrido por causa dos votos. A declaração remete ao próprio indicado à Corte, Cristiano Zanin, que tem dado decisões fortemente criticadas pela esquerda.

Publicidade

Apesar da medida ser inconstitucional, a possibilidade de uma discussão também foi defendida pelo ministro Flávio Dino, da Justiça, que, além de político, foi também juiz federal e presidiu a Associação Nacional de Juízes Federais (Ajufe).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]