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Lula Lira Pacheco
Lula busca nova dinâmica de relacionamento com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por meio de encontros informais com parlamentares.| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inaugurou uma abordagem inovadora na articulação de seu governo com o Congresso. Por meio de reuniões informais noturnas no Palácio da Alvorada, ele busca estabelecer uma dinâmica mais eficaz com os líderes de sua base parlamentar, assumindo pessoalmente as negociações. Diante de uma série de falhas por parte dos articuladores do Planalto, Lula procura criar canais diretos de comunicação com deputados e senadores para evitar controvérsias e agilizar o processo de negociação e tomada de decisões.

Analistas consultados pela Gazeta do Povo sugerem que os gestos amigáveis e as demonstrações de prestígio nessas reuniões têm como objetivo reativar o diálogo entre o Executivo e o Legislativo, após a série de conflitos em 2023.

Os happy hours de Lula também visam evitar que a oposição no Congresso ganhe ainda mais espaço na agenda de votações e em cargos estratégicos, enquanto tenta conter a crescente independência dos parlamentares, especialmente em relação ao Orçamento da União.

Após os encontros iniciais com presidentes e líderes da Câmara em 22 de fevereiro e do Senado na última terça-feira (2), Lula já até fala em uma "nova fase" para o governo. Durante a cerimônia de apresentação dos resultados do Novo PAC Soluções na quinta-feira (7), com previsão de investimentos de R$ 65,2 bilhões em todo o país, ele destacou essa impressão de novo momento para sua gestão.

Lula ressaltou os esforços nos primeiros 13 meses para "arrumar a casa" e anunciou uma série de obras e investimentos para a "nova fase". O presidente também mencionou o aumento da arrecadação da União em janeiro e indicou a necessidade de negociar com o Congresso a possibilidade de ampliar os investimentos em proveito desse ganho inesperado.

Para Marcus Deois, diretor da consultoria Ética Inteligência Política, é urgente para Lula restabelecer um diálogo produtivo entre o Planalto e o Congresso diante da polarização persistente no país. No entanto, ele ressalta que é prematuro afirmar se os recentes esforços de articulação indicam o início de uma "nova fase" governamental. Segundo Deois, uma abordagem mais consistente e rotineira será necessária para alcançar uma mudança efetiva nas relações cotidianas entre Parlamento e Planalto.

Lula aposta nas relações pessoais para melhorar ambiente político

Esse redirecionamento proposto ocorre em um momento em que a gestão petista enfrenta queda nos índices de aprovação popular e a oposição se mobiliza para criar obstáculos ao presidente, sobretudo em um ano de eleições municipais consideradas cruciais para o cenário político em 2026.

O professor Eduardo Galvão, especialista em políticas públicas e relações institucionais, destaca que a adoção dos happy hours por Lula reflete o reconhecimento do papel das relações interpessoais na política, sendo um esforço para adaptar estratégias de comunicação e negociação a um contexto dinâmico.

O professor do Ibmec-DF observa que a estratégia de confraternizações é antiga, mas poderosa ao criar um ambiente propício para interações mais humanas entre líderes políticos. Ele espera que esses encontros se tornem ferramentas de negociação, permitindo abordar assuntos delicados de maneira menos confrontadora.

“Se a nova abordagem levará a uma nova fase do governo, só o tempo dirá. De toda forma, é inegável que ela representa uma tentativa de engajamento político, com potencial para fortalecer alianças e facilitar a governabilidade”, sublinhou.

No encontro na residência oficial com senadores aliados e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ficou evidente que o objetivo principal é investir no espírito de confraternização e de maior proximidade entre os atores, para fortalecer as relações pessoais.

“No happy hour, se conversa sobre tudo”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na ocasião regada a whisky, sem deixar de listar as prioridades do governo no ano, como a reoneração da folha de pagamentos de 17 setores.

Lula aproveitou a oportunidade, tal qual fez no encontro informal anterior, com deputados no Alvorada, para agradecer a aprovação no Congresso da agenda da economia em 2023, com o marco fiscal e a reforma tributária, e exaltar investimentos.

O único pedido que o chefe do Executivo ouviu veio da senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Ela cobrou dele uma reunião com a bancada feminina do Senado e ouviu que um jantar deverá ser agendado. Ela tenta construir uma candidatura alternativa à sucessão de Pacheco e busca o apoio improvável de Lula, que já se comprometeu com apoio a Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Presente ao encontro, Alcolumbre se apresentou como nome capaz de garantir votos em pautas sem consenso fácil, fazendo a ponte entre senadores de opiniões adversas.

De um modo geral, Lula percebeu as críticas de senadores de que tem dado mais atenção às relações com representantes da Câmara. Ele prometeu mais conversas, mas evitou fixar datas de novos encontros.

Apesar da cobrança de Lira, Padilha continua ministro

Durante o happy hour com os deputados, Lula também se comprometeu a ficar mais próximo dos congressistas neste ano, mas sem institucionalizar os contatos.

No primeiro ensaio dessa estratégia, Lula não deu mostras de que afastará o ministro Alexandre Padilha do posto de principal articulador do Palácio, uma velha cobrança de Lira. O clima era de descontração entre ministros e parlamentares, com exceção de Padilha e Lira, que quase não mais se falam desde o fim do ano. Os ruídos da relação entre Congresso e Planalto se acentuaram em dezembro, com reclamações dos parlamentares sobre bloqueio na liberação de emendas.

O presidente da Câmara já havia aconselhado a Lula na sua última reunião com ele, antes do Carnaval, a ter uma rotina de rodadas de encontros informais com representantes do Congresso como forma de aproximá-los do Planalto.

Com arrecadação em alta, a articulação política parece ganhar tempo para negociar com líderes. Mesmo assim, logo após o happy hour com líderes da Câmara, Lula autorizou pagamento de R$ 20,5 bilhões em emendas antes de eleições municipais e encaminhou mudanças na Medida Provisória (MP) que afronta diferentes decisões do Congresso.

Os desafios para o novo modelo de articulação são muitos e já ganharam novos complicadores, mesmo após as confraternizações no Alvorada. Em derrota para Lula, a oposição conquistou nesta semana comissões centrais da Câmara, com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que comandarão colegiados mais cobiçados e poderão perturbar os planos do governo.

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