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Manifestação contra cortes na educação em maio de 2019.
Dois atos contra contingenciamento de recursos da educação foram promovido pela oposição no primeiro semestre.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

As declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre o regime militar, que despertaram críticas até de lideranças que o apoiaram durante a eleição, e o controverso episódio da quase transferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para São Paulo não modificaram o quadro político a ponto de levar às ruas na manifestação desta terça-feira (13) grupos além dos que já fazem oposição habitual ao governo. Os atos contra a gestão Bolsonaro terão a política educacional como principal foco.

Para o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania-PE), "os protestos não são apenas sobre educação". "Reconheço o direito ao protesto, e os atos serão legítimos. Mas são partidarizados, são utilizados também para a divulgação de outras agendas relacionadas ao PT", disse. O deputado e seu partido têm adotado postura independente do governo. Por exemplo, todos os integrantes do Cidadania votaram pela reforma da Previdência; mas, na sexta-feira (9), o deputado Marcelo Calero (RJ) entrou com um mandado de segurança contra a nomeação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, à embaixada brasileira nos EUA.

As manifestações do dia 13 foram convocadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e por partidos como PT, PSOL e PCdoB. O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também tem divulgado o ato. As ações dão continuidade a dois protestos ocorridos no primeiro semestre, em 15 e 30 de maio, que foram as duas principais mobilizações de rua contra o governo Bolsonaro até o momento.

Além das lideranças políticas, os atos têm sido promovidos por artistas como Paulo Betti, Marcelo D2 e Chico Buarque. As hashtags #Dia13ÉRua e #novotsunamidaeducação são utilizadas para divulgação nas redes sociais.

Manifestações: deputados evitam polarização

Daniel Coelho disse que não irá aos atos. Crítico da política educacional do governo Bolsonaro, Felipe Rigoni (PSB-ES) também falou que não comparecerá. O parlamentar avalia que o governo tem falhado na gestão da educação, da saúde e da ciência e tecnologia, embora reconheça que a situação fiscal do país esteja comprometida, o que impede a realização de alguns investimentos de maior intensidade. Rigoni foi um dos dez deputados de seu partido que votou a favor da reforma da Previdência nos dois turnos.

Para o deputado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, têm adotado uma atitude provocativa que pouco contribui para a gestão – o titular da pasta se notabilizou por publicações nas redes sociais em que provoca os opositores do governo.

Por outro lado, o parlamentar acredita que os protestos, do modo como estão planejados, contribuem para o cenário de polarização política que tem caracterizado o país. "Protestos são importantes, mas eles acabam sendo utilizados para promover bandeiras partidárias. Então prefiro não comparecer, para não polarizar ainda mais o cenário", afirmou.

Transferência de Lula também não altera cenário

O apoio que o PT e outros partidos de esquerda receberam no episódio da quase transferência de Lula para a penitenciária de Tremembé não se repetirá nos protestos desta terça. Para os deputados, foi uma movimentação correspondente a uma ocasião isolada, sem indicar um novo rumo para o cenário político.

Durante a última quarta-feira (7), quando a decisão de retirar o ex-presidente de Curitiba e levá-lo ao presídio onde estão detentos "famosos" foi tornada pública, o Congresso Nacional viu uma reação quase unânime de contrariedade à decisão. Integrantes de partidos de centro e mesmo de DEM e PSDB, opositores históricos do PT, falaram contra a medida. Os parlamentares do PSL foram vozes quase isoladas na defesa da transferência.

O deputado federal Lafayette de Andrada (PRB-MG) foi um dos que se pronunciou publicamente contra a decisão do Judiciário. "Minha crítica foi específica àquele ato, que considerei equivocado. Não acho que aquele movimento represente alguma alteração na conjuntura política", declarou. O PRB costuma votar com o governo – apenas dois deputados da legenda foram contra a reforma da Previdência. O partido é o do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), que foi um dos deputados presentes na audiência dos parlamentares com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que contribuiu para que Lula não fosse transferido para Tremembé.

A opinião de Andrada é endossada por Felipe Rigoni: "o que houve no caso Lula foi uma decisão judicial equivocada e que, por isso, recebeu críticas. Lula está preso e a lei tem que ser cumprida".

Já o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que também esteve na audiência do STF, tem avaliação diferente. Ele acredita que pode haver uma aproximação de parlamentares de diferentes partidos contra o que chamou de "escalada de autoritarismo".

"A questão que houve com o Lula foi muito exagerada, e por isso nós tivemos que tomar uma posição. E acredito que os parlamentares devem se unir mais para evitar esse tipo de abuso", disse.

Paulinho é um dos principais líderes do chamado "centrão" da Câmara e tem posições políticas de difícil previsão. Apoiou Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial de 2014 e votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Mas se posicionou de modo similar ao PT nas votações da reforma trabalhista, durante a gestão de Michel Temer (MDB), e na da reforma da Previdência. Ele avalia a possibilidade de comparecer aos protestos contra Bolsonaro da próxima terça: "se houver atos em Brasília, é possível que eu esteja lá".

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