O vice-presidente da CPI da Covid do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), publicou em suas redes sociais na noite desta quarta-feira (1) que a comissão terá na quinta (2) o depoimento de Marconny Faria, que é citado como um lobista que atuou a favor da Precisa Medicamentos dentro do Ministério da Saúde. Faria tinha seu depoimento agendado para a própria quinta; ao longo da tarde desta quarta, porém, ele apresentou à CPI um atestado médico que deu a ele direito de se afastar por 20 dias, em razão de um problema pélvico.
"URGENTE! O médico que concedeu o atestado do Sr. Marconny Faria, entrou em contato conosco e disse que foi ele que concedeu o atestado, mas que notou uma simulação por parte do paciente e que deseja cancelar o mesmo. Com isso, amanhã receberemos o Sr. Marconny na #CPIdaCovid", escreveu Randolfe em seu perfil no Twitter.
O atestado de Faria havia sido questionado pelos senadores da CPI que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Os parlamentares também apresentaram ressalvas ao atestado do empresário Marcos Tolentino, que deveria ter falado à comissão nesta quarta.
Os membros da comissão questionaram o fato de os atestados terem sido apresentados poucas horas antes do momento agendado para os depoimentos de Faria e Tolentino e também o fato de ambos alegarem estar internados em unidades do hospital Sírio Libanês - Faria em Brasília e Tolentino em São Paulo.
No caso de Tolentino, um agravante que incomodou os senadores foi o fato de ele ter concedido na noite de terça uma entrevista em vídeo ao site O Antagonista, na qual não aparentou estar com problemas de saúde.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chegou a telefonar para um diretor do Sírio Libanês ao longo da reunião do colegiado desta quarta e disse que médicos do hospital poderiam ser chamados para falar à comissão, caso fossem descobertas inconsistências nos atestados.
Faria entrou no escopo da CPI por ter sido citado como um suposto lobista da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde. A empresa atuou junto à pasta para fazer a intermediação da negociação das vacinas Covaxin, produzidas pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
A transação foi questionada por ter se dado com valores superiores à compra de outros imunizantes e também porque a Covaxin teria sido contemplada com privilégios e com uma tramitação mais rápida de seu contrato, na comparação do registrado com outros laboratórios. O contrato entre o Ministério e a Precisa acabou cancelado.
O lobista foi citado em reportagem publicada nesta quarta-feira da Folha de S. Paulo que o mencionou como parceiro de Jair Renan Bolsonaro, o filho adulto mais jovem do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a matéria, Faria teria auxiliado Jair Renan nas tratativas para a abertura de uma empresa em Brasília.
Quebras de sigilo e convocações
A reunião da CPI desta quarta, em que o depoimento foi o do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, teve entre seus resultados a quebra de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático do próprio motoboy e também a convocação de Zenaide Sá Reis, funcionária do setor financeiro da VTC Log.
Silva também trabalha para a VTC Log e, em seu depoimento, disse aos senadores que fazia transações financeiras para a empresa sob demandas de Zenaide. Suas atividades consistiam, de acordo com o seu relato, em receber cheques administrativos, ir até a agência da Caixa Econômica Federal no Aeroporto de Brasília e lá fazer saques em dinheiro e efetuar o pagamento de boletos bancários que lhe seriam repassados também por Zenaide. Os montantes em espécie que excediam os valores dos boletos eram levados por Silva de volta à VTC Log.
O motoboy, ao longo de sua fala, disse não ter conhecimento sobre quem eram os contemplados com os pagamentos que ele efetuava. Ele também afirmou que não chegou a entregar quantias em espécie para nenhuma pessoa.
A CPI identificou que Silva esteve na agência bancária no mesmo instante em que um boleto de Roberto Dias, ex-diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde, foi pago. Para senadores da comissão, isso representa um indício de que Dias teria sido beneficiado com pagamentos por parte da VTC Log. O ex-diretor foi um dos participantes do "jantar da propina", em que um pedido de vantagens indevidas teria sido apresentado durante uma negociação para a compra de imunizantes por parte do Ministério da Saúde.
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