Bolsonaro ao lado do presidente francês Emanuel Macron e do príncipe saudita Mohamed Bin Salman, em reunião do G-20.| Foto: Clauber Cleber Caetano / PR

É natural que uma mudança de governo como a que aconteceu no Brasil com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) direcione os holofotes do mundo para o país. As declarações do presidente e ações que envolvam o governo ou servidores repercutem não só no país, mas também no exterior.

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Para ficar em exemplos recentes, a prisão do sargento da Aeronáutica Manoel da Silva Rodrigues na Espanha com 39 quilos de cocaína em avião da comitiva presidencial levantou o debate sobre a imagem do país no cenário internacional. Dias depois, Bolsonaro retrucou críticas à condução da questão ambiental no país. "Eles não têm autoridade para discutir conosco essa questão", disse o presidente, referindo-se a líderes europeus, mais diretamente aos de França e Alemanha.

E mesmo antes da posse já havia quem alertasse sobre a imagem que os estrangeiros poderiam formar do Brasil de Bolsonaro. Em novembro passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ponderava que poderia haver impactos negativos no exterior. À época, Bolsonaro criticava bastante o Mercosul, coisa que agora ficou para trás.

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Mas o que têm falado e como têm reagido, de fato, os líderes estrangeiros em relação ao Brasil de Bolsonaro e sua política externa? Separamos algumas declarações que mostram a percepção do país lá fora.

Trump e Maduro

O governo Bolsonaro desperta reações opostas de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Nicolás Maduro, ditador da Venezuela.

Em comunicado de março, o Ministério das Relações Exteriores de Maduro disse, referindo-se a Bolsonaro e Trump, que é "grotesco ver dois chefes de Estado com grandes responsabilidades internacionais fazendo apologia da guerra sem qualquer cerimônia, em flagrante violação da Carta das Nações Unidas". Dois meses antes, Maduro tinha afirmado que Bolsonaro é "Hitler em tempos modernos".

Com Trump, Bolsonaro mostra uma grande afinidade, que surpreendeu quem acompanhou a visita do líder brasileiro a Washington em março. O presidente dos EUA disse em junho que considera Bolsonaro "um homem especial". Trocas de afagos à parte, a parceria entre Trump e Bolsonaro também tem consequências políticas concretas: em maio, o governo dos Estados Unidos apoiou a candidatura do Brasil à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Agora, Bolsonaro pensa em indicar o filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL-SP, para assumir a embaixada brasileira nos Estados Unidos e já usou a proximidade com a família Trump para justificar a decisão.

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Israel e Palestina

"Meu amigo, estamos fazendo história. Quando você assumiu a Presidência, em janeiro, abrimos uma nova era nas relações entre Brasil e Israel. Você chega a Israel para levar as nossas relações a um novo ápice", disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na visita de Bolsonaro ao país em março.

Na ocasião, o brasileiro anunciou a criação de um escritório de relações comerciais sediado em Jerusalém, o que muitos entenderam como uma primeira sinalização para reconhecer a cidade como capital de Israel.

A notícia foi mal recebida entre os palestinos. O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina disse que considerava a decisão brasileira "uma violação descarada da legitimidade e das resoluções internacionais, uma agressão direta ao nosso povo e a seus direitos e uma resposta afirmativa para a pressão israelita-americana que mira reforçar a ocupação, a construção de assentamentos e a judaização da área ocupada em Jerusalém".

Dez dias depois do ocorrido, Bolsonaro se reuniu com embaixadores de 36 países de maioria muçulmana na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brail (CNA), em Brasília.

União Europeia

Uma das maiores conquistas da política externa brasileira foi finalizada no governo Bolsonaro: o acordo de livre comércio firmado em 28 de junho entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, definiu o pacto como o maior já feito pela UE.

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Antes do acordo, no entanto, alguns políticos europeus criticaram o presidente do Brasil. No começo de junho, o eurodeputado alemão do Partido Verde Martin Häusling, integrante de comissões do parlamento europeu relacionadas a agricultura e meio ambiente, disse que "Bolsonaro não é um defensor dos direitos humanos, dos direitos das mulheres e nem dos direitos ambientais" e que "com uma pessoa assim, não dá para negociar nada".

No parlamento de Berlim, a deputada alemã Anja Hajduk dirigiu-se à chanceler da Alemanha Angela Merkel para criticar a possibilidade de acordo com o Mercosul, tendo em vista as ideias do atual governo brasileiro para a área ambiental. Merkel demonstrou sintonia com a opinião de Hajduk. "Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro", disse a chanceler. "Eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, acrescentou. A Alemanha é um dos principais doadores do Fundo Amazônia, que vem sendo foco de conflitos entre os países e a Noruega neste governo.

A opinião de Merkel era compartilhada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, antes da reunião do G20. No entanto, segundo o francês, sua opinião mudou quando o líder brasileiro "confirmou o seu compromisso, ao contrário das preocupações que se podia ter, com o Acordo de Paris e a luta pela biodiversidade". Segundo Macron, isso foi decisivo para que o pacto comercial entre Mercosul e União Europeia fosse firmado.

Mercosul

A primeira visita de um presidente a Bolsonaro foi a do argentino Mauricio Macri, em janeiro. O brasileiro retribuiu a visita em junho. A sintonia entre os dois governos parece dar-se sobretudo no âmbito econômico. Os dois engajaram-se, em conjunto, pelo acordo firmado entre Mercosul e União Europeia. Em janeiro, Macri já afirmava que "com a chegada de Bolsonaro, temos chance de renovar o compromisso político e dar vantagens aos dois blocos".

O presidente de outro parceiro do Mercosul, o paraguaio Mario Abdo Benítez, visitou o Brasil em março. Em declaração conjunta publicada após o encontro, os presidentes ressaltaram "o excelente momento em que se encontram as relações entre Brasil e Paraguai". Em termos mais concretos, iniciaram negociações para a revisão de cláusulas do Tratado de Itaipu, como publicou a agência ANSA [].

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