O Podemos, partido do senador Alvaro Dias, vem colando sua imagem à Operação Lava Jato e vem conseguindo crescer no Congresso. Esse movimento até atraiu a ira do bolsonarismo, que vê uma tentativa de se apropriar do espólio da operação e da imagem popular do ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça.
Na semana passada, uma postagem do vereador licenciado Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, escancarou o incômodo com o crescimento da sigla. "É impressão minha ou esse tal de Podemos já faz bastante tempo quer tomar o lugar de um partido vermelho? A metamorfose não para um segundo!", escreveu Carlos no Twitter.
No mesmo dia, parlamentares do Podemos participaram de um protesto em Brasília contra o Supremo Tribunal Federal, ao lado de grupos que, no passado, lideraram manifestações contra o PT - como o Nas Ruas, o MBL e o Vem Pra Rua.
O Podemos tem atraído nos últimos meses parlamentares da centro-direita descontentes com o governo. Só no Senado, foram seis novas filiações desde o início do ano, o que fez o partido pular para uma bancada com 11 nomes - só atrás do MDB, com 13 integrantes. Entre esses novos filiados, está a senadora Juíza Selma (MT), que deixou o PSL há duas semanas insatisfeita com posições recentes da sigla do presidente Jair Bolsonaro e depois de entrar em atrito com o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Selma afirma que foi pressionada a tirar seu apoio à CPI da Lava Toga, que tem o objetivo de apurar "ativismo" no Judiciário. As críticas partem também do líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que rompeu com Flávio e quase seguiu o caminho de Selma. "O Flávio que fique no canto dele. Ele falou que a CPI era uma sacanagem, que ia travar o país. Quem não está em sintonia com a sociedade e com os princípios do partido é ele, não eu", disse.
Dos 21 integrantes do grupo "Muda, Senado", principal base de defesa da CPI e que defende até o impeachment de ministros do STF, sete são do Podemos. Pelos menos seis senadores de outras siglas que integram o grupo - PSD, PSL, Rede, Cidadania, PP, PSB e PSDB - mantiveram negociações recentes para migrar para o Podemos.
Filiação de Sergio Moro
Em entrevista ao Estado, o senador do Podemos Alvaro Dias (PR) afirmou que a filiação de Sergio Moro é um "sonho de consumo" da direção da legenda. Por enquanto, porém, é vista como improvável. "Minha percepção é que o objetivo dele é retornar à Justiça na Corte maior." Ainda assim, o discurso de defesa de Moro e da Lava Jato foram repetidos pelo senador, que pretende usar o crescimento do Podemos para viabilizar uma nova candidatura à Presidência em 2022.
Apesar do nome importado da esquerda espanhola, o Podemos nada tem de "vermelho". Oriundo do antigo Partido Trabalhista Nacional (PTN), agora unido ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS), duas siglas de histórico fisiologista, o partido é comandado há anos pela família da deputada Renata Abreu (SP), que preside o Podemos e é vista como hábil negociadora no mercado de trocas partidárias.
Foi prometendo o controle da legenda nos estados - e de verbas públicas atreladas a cargos - que o Podemos se expandiu. Sobre o tuíte de Carlos Bolsonaro, Renata disse que o crescimento da sigla "não deveria causar temor ao governo". "Somos independentes, mas votamos com eles em tudo o que achamos importante para o país."
Apesar do atrito com o PSL, o Podemos tem uma ala de parlamentares próxima do Palácio do Planalto, que possui apadrinhados em cargos federais. Três deles são vice-líderes do governo: o deputado paulista Marco Feliciano no Congresso, o senador piauiense Elmano Férrer no Senado e o deputado mato-grossense José Medeiros na Câmara.
O comportamento de alguns deles, como Feliciano - que tem porta aberta no gabinete de Jair Bolsonaro no Planalto - incomoda os senadores. Alvaro Dias já cobrou a saída dele do partido. "Se alguém desejar se posicionar como candidato a vice-presidente com Bolsonaro (nas eleições de 2022), deve deixar o Podemos", afirmou o senador.
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