Deputado Nilto Tatto anunciou a decisão do PT que ocorre após o governo ter feito acordo com bancada do agro para derrubar veto ao marco temporal, mas mantendo de outros.| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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O PT decidiu que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (PT) para tentar reverter a derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao marco temporal de demarcação das terras indígenas, no final da tarde de quinta (14). O partido pretende argumentar que a legislação aprovada por maioria no Congresso é inconstitucional e viola cláusulas pétreas da Constituição.

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O veto de Lula foi derrubado por 321 votos dos deputados e 53 dos senadores após muita pressão principalmente das bancadas ligadas ao agronegócio, que afirmam que tiveram a decisão da maioria ignorada pelo presidente.

A intenção do partido de recorrer ao STF foi informada pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP) após a derrubada do veto. O ato, no entanto, vai de encontro a um acordo entre produtores e o governo, que permitiu que a derrubada fosse parcial, mantendo outras três vedações.

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Segundo Tatto, o próprio STF já havia decidido pela inconstitucionalidade da demarcação, que ficou pendente de análise no Congresso até os magistrados começarem a decidir sobre um caso passado que criou uma jurisprudência.

“É uma afronta à própria Constituição, e espero que essa questão deve ser encarada como uma cláusula pétrea. Todos sabem que a existência de determinado povo indígena depende de ter o seu território da forma como foi gravado na Constituição e definido pelos deputados-constituintes em 1988”, disse Tatto afirmando que a atual composição da Câmara não pode tomar uma decisão contra a Constituição.

Além de Tatto, outros parlamentares da base governista saíram em defesa do veto, como Ivan Valente (PSOL-SP) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Antes da votação, a ministra Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, chegou a conduzir um protesto com outros indígenas pelo Congresso, e a segurança precisou ser reforçada.

O presidente Lula não comentou a derrubada do veto. Os ministros Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência - Secom) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que costumam atuar como porta-vozes do governo, também mantiveram o silêncio.

Embora já julgado inconstitucional pelo STF, o marco temporal definido pelo projeto restringe a demarcação de terras indígenas àquelas já tradicionalmente ocupadas por esses povos em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da nova Constituição Federal.

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Para serem consideradas terras ocupadas tradicionalmente deverá ser comprovado objetivamente que elas, na data de promulgação da Constituição, eram, ao mesmo tempo, habitadas em caráter permanente, usadas para atividades produtivas e necessárias à preservação dos recursos ambientais e à reprodução física e cultural.

Entre os pontos que foram mantidos vedados, estão a plantação de transgênicos nos territórios, o acesso a povos isolados e a retomada de áreas demarcadas pela União “em razão da alteração dos traços culturais da comunidade ou por outros fatores ocasionados pelo decurso do tempo”.

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