Ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
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Quatro anos depois de ter feito um acordo de delação premiada após ser condenado a mais de 340 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e peculato, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, diz que abomina a colaboração e pediu “desculpas às pessoas citadas”.

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O arrependimento de ter colaborado com a Justiça é citado em uma entrevista publicada pelo jornal Folha de São Paulo nesta quinta-feira (9), em que Cabral conta como está tentando refazer sua imagem após ter a prisão convertida em medidas cautelares há pouco mais de um mês. O ex-governador passou seis anos atrás das grades.

Ao todo, Cabral responde desde 2016 a 36 ações penais por crimes relacionados a desdobramentos de investigações da Operação Lava Jato, uso de helicópteros do Rio para viagens pessoais, recebimento de propinas para a realização de obras no estado, como a reforma do estádio do Maracanã para os jogos da Copa do Mundo de 2014, a terraplanagem do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), entre outros.

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Em 2019, Cabral admitiu ter recebido propina na execução de contratos de concessão do metrô e do estádio do Maracanã, e confessou atos de corrupção nas desapropriações do porto de Açu. “Algo em torno de R$ 100 mil a R$ 150 mil” por mês, disse em uma entrevista na época.

A delação premiada que ele se arrepende citava, em mais de 900 páginas, empresários envolvidos nos esquemas de corrupção e, ainda, uma suposta venda de sentenças por parte do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). O acordo firmado com a Polícia Federal foi contestado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e anulado em 2021, inviabilizando a investigação contra o magistrado.

Embora a delação esteja sob sigilo, a parte envolvendo Dias Toffoli foi tornada pública e apontava um suposto favorecimento para a venda de sentenças no valor de R$ 4 milhões para ajudar dois prefeitos do estado do Rio, em processos que tramitavam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Cabral,  os pagamentos teriam sido efetuados pelo ex-secretário de obras, Hudson Braga, por meio do escritório da advogada Roberta Rangel, mulher de Toffoli.

Cabral diz que a delação foi feita num momento em que “estava completamente arrasado” com as denúncias após ser preso. As investigações levaram a problemas familiares e fizeram a então esposa, Adriana Ancelmo, também entrar na mira da Lava Jato.

O ex-governador do Rio diz que foi “manipulado” a aceitar o acordo, mesmo tendo afirmado na época que queria “ser parceiro do Ministério Público”.

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“Abomino delação. Em 2019, estava completamente arrasado. Família destruída, casamento acabado, filho perseguido. Já estava há quase três anos preso e fui manipulado. Graças a Deus o Supremo [Tribunal Federal] tornou ela inválida. Reitero aqui o pedido de desculpas às pessoas citadas. Eu não trago comigo o fardo dessa história”, disse na entrevista.

Ele cita, ainda, que a investigação que apurou uma posse de US$ 100 milhões no exterior não é relativa a ele, e que tinha gente no caixa dois que o ajudava. Segundo Cabral, os dois doleiros indiciados, Renato e Marcelo Chebar, “cuidaram de um monte de gente” e que não havia documento que comprovasse que o dinheiro era dele.

“É a verdade. Porque quando começa a torturar a família, o buraco é um pouco mais embaixo. Se quiser me torturar, me bota no pau de arara. Agora, não mexe com meu filho, meu irmão, minha mãe, as mães dos meus filhos. Eles fizeram isso de uma maneira fascista, nojenta e covarde”, disparou.

Processos julgados pelo “juiz da Lava Jato do Rio”

Durante a entrevista, Sérgio Cabral não quis entrar em detalhes sobre os processos que o levaram à prisão. No entanto, mesmo com a materialidade das provas nos autos e na delação premiada, ele diz que o então juiz Marcelo Bretas fez “de um pingo um oceano” – o magistrado foi afastado das funções pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na semana passada a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Corregedoria Nacional de Justiça e do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD-RJ).

“De um pingo fizeram um oceano. De uma situação, o juiz Bretas faz 35 processos sobre as minhas atitudes públicas, distorce tudo, mente e confunde. Nunca superfaturei”, afirmou.

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O ex-governador do Rio ainda minimizou a prática de caixa dois em eleições e na prestação de serviços para o governo do estado, admitindo ser algo “errado”.

“É errado caixa dois? É errado. Mas os prestadores de serviços diziam nos bastidores: ‘governador, é a primeira vez que a gente tem alguém aqui que não queira ser sócio nosso’. Mas eu cometi erros e tenho que enfrentá-los, como enfrentei. Fiquei seis anos preso injustamente diante das circunstâncias e do número de processos que essa pessoa inventou para mim”, disse.

Desde que foi liberado da prisão domiciliar há pouco mais de um mês, Sérgio Cabral vem tentando refazer sua imagem perante a sociedade. No último domingo (5), o político concedeu uma entrevista ao portal Metrópoles em que teceu elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criticou os responsáveis pela Operação Lava Jato no Paraná e no Rio de Janeiro.

E, na segunda (6), criou um perfil no Instagram onde se apresenta como jornalista e gestor de cargos que não exerce mais. Cabral diz que não tem pretensão de voltar a disputar um cargo público, mas que pretende seguir na carreira de jornalista e, até mesmo, como consultor de campanha eleitoral.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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