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Eduardo Bolsonaro
Deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) festejou a vitória do direitista Javier Milei nas eleições primárias da Argentina e torce para virada também no Brasil.| Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados

A oposição brasileira celebrou a vitória do candidato libertário Javier Milei nas eleições primárias para a Presidência da Argentina, ocorridas no domingo (13). Além disso, parlamentares e dirigentes partidários enxergaram nesse resultado uma possível antecipação do cenário que poderá ocorrer no restante da América Latina, sobretudo em relação à corrida presidencial no Brasil em 2026. Eles apostam no chamado "efeito Orloff", usado para ilustrar a continuidade de tendências políticas entre Brasil e Argentina. Nessa ótica, uma rejeição gerada por maus resultados de políticas populistas de esquerda abriria o caminho para a volta da região à dominância de centro-direita e direita.

A expressão popular conhecida como o “efeito Orloff” surgiu nos anos 1990 e é usada para estabelecer paralelos entre Brasil e Argentina. Ela veio de famosa propaganda televisiva da vodca Orloff, veiculada nos anos 1980, na qual o personagem principal falava com ele mesmo no dia seguinte e, de ressaca devido ao consumo de bebida de baixa qualidade, pronunciava a frase: “Eu sou você amanhã”. Na metáfora, a ressaca espelhava as dificuldades que atingiam primeiro a Argentina e, em seguida, o Brasil. Assim, a hiperinflação ocorreu lá primeiro, e depois veio para cá. Assim, virou uma forma de especular sobre fatos históricos no país vizinho que se repetiriam no Brasil.

As eleições primárias na Argentina são obrigatórias para a maioria dos adultos, servindo como ensaio geral para o pleito definitivo marcado para 22 de outubro. Mesmo sem estrutura partidária, o economista Javier Milei emergiu como vitorioso em 16 das 24 províncias, incluindo aquelas nas quais o peronismo, que atualmente governa o país, raramente perde. Esse resultado, de acordo com análises de especialistas e políticos ouvidos pela Gazeta do Povo, sugere evidente descontentamento da população com a política convencional, a exemplo do cenário do Brasil em 2018, elegendo o então candidato antissistema Jair Bolsonaro (PL, à época no PSL).

Com 97% dos votos apurados, Javier Milei, pré-candidato único do partido Liberdade Avança, alcançou 30% do total. Mesmo que atingisse 25%, já seria vencedor para continuar na corrida eleitoral, mas superou as expectativas das pesquisas em 10 pontos percentuais. Em segundo lugar ficou Patricia Bullrich, da coalizão oposicionista de centro-direita “Juntos pela Mudança”, com 28,2% dos votos. Em terceiro lugar ficou o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia, que obteve 27,2% dos votos.

Parlamentares enxergam luz no fim do túnel para América do Sul

“Um ano atrás era um sonho, daí virou meta e hoje é realidade. Um excelente começo para o que pode ser a mudança real que a Argentina precisa”, escreveu o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nas redes sociais logo após a confirmação do resultado do pleito argentino. “Com vizinhos livres do socialismo, o Brasil tem ambiente mais favorável para retomar o caminho da liberdade”, completou. Nessa linha, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) avaliou o primeiro lugar de Milei nas prévias como “luz no fim do túnel” para o país vizinho.

Para o deputado Delegado Paulo Bilynsky (PL-SP), a vitória de Milei é uma reação popular diante do “legado trágico deixado pela esquerda na América Latina”. Para ele, a inflação fora de controle na Argentina, na casa dos três dígitos, tem raízes nos governos de Néstor e Cristina Kirchner e “esse mal será derrotado novamente pela direita e pelos valores democráticos”. O parlamentar comentou também que as primárias argentinas revelaram a "má intenção" dos institutos de pesquisa em querer influenciar a decisão de voto dos cidadãos. “Ao contrário do que os levantamentos apontavam, de que estava perdendo apoio, houve clara liderança de Milei nas urnas”, disse.

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) felicitou Milei e disse que os resultados das primárias das eleições argentinas, com o peronismo em terceiro lugar, indicam que "a esquerda populista está com os dias contados na Argentina”.

“Ninguém melhor do que os argentinos para avaliar o desempenho hoje da esquerda no governo. São décadas de abuso, corrupção e inflação acima de 100%. Nossa batalha hoje é para evitar que sejamos a Argentina de amanhã. O Brasil merece mais e nossos hermanos estão dando exemplo”, comentou o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS).

Eduardo Ribeiro, presidente do partido Novo, comemorou a vitória de Milei como sendo uma forte sinalização de esgotamento dos governos populistas de esquerda no continente, após a série de fracassos, particularmente na economia. “A vitória do Milei foi extraordinária, mas não foi surpreendente. Quem o acompanha há mais tempo sabia do seu potencial. Ainda é cedo para projetar como será o contexto eleitoral com duas frentes à direita, mas uma coisa é certa: o kirchnerismo definhou. Que essa derrota da esquerda na Argentina seja o início de uma nova era, não só para os argentinos, mas para toda a América do Sul”, salientou.

Direitistas terão de buscar o eleitor moderado, diz analista

Leandro Gabiati, da Dominium Consultoria, afirma que Javier Milei já entrou para a história como fenômeno eleitoral no país vizinho. O cientista político ressalta, contudo, que as prévias não podem ser consideradas indicativo do resultado da eleição geral, já contando com a vitória final do político libertário. Ele entende que tanto Milei quanto a candidata da direita tradicional, Patrícia Bullrich, projetam cenário no qual a esquerda enfrentará dificuldades na eleição geral de outubro, em razão do sentimento de mudança que marcará a disputa. “Ambos os candidatos serão compelidos a adotar posições mais centristas para conquistar a vitória. Nesse contexto, a abordagem moderada de Patrícia Bullrich tende a beneficiá-la”, avalia.

Gabiati concorda que uma eventual vitória de Milei representaria um revés significativo para a esquerda latino-americana. No entanto, ele não acredita que a situação política atual do Brasil, desfavorável a Bolsonaro, possa contribuir para o sucesso do economista argentino sempre comparado a ele e com o qual estabeleceu conexões políticas.

Da mesma forma, o analista não vê um cenário de reviravolta na Argentina como fator determinante nas eleições de 2026. “Após a exclusão do ex-presidente da disputa, a tendência no Brasil é favorecer a direita mais moderada. Nesse contexto, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos, ajusta-se mais ao figurino”, disse.

Na visão do especialista, os contínuos desgastes enfrentados por Bolsonaro, sobretudo agora com investigações sobre joias presenteadas à Presidência, podem contribuir para o isolamento do ex-presidente. Em contrapartida, a direita no Brasil entende que Bolsonaro segue como uma liderança e espera que ele seja decisivo nas eleições de 2024 e de 2026. O PL, partido do ex-mandatário, já afirmou que pretende eleger 1 mil prefeitos no ano que vem.

"A direita veio para ficar e não é somente no Brasil, cuja nossa maior liderança é Jair Bolsonaro. Esse movimento é mundial pelos desacertos que a esquerda tem cometido. A sociedade não aceita mais abrir mão dos bons costumes e de uma economia liberal. Liberdade é uma das nossas maiores conquistas. A direita vai crescer mais nos outros países e no mundo. Aguardem as próximas eleições", afirmou o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto.

Com relação à Argentina, na semana anterior à eleição, Bolsonaro enviou um vídeo a Milei no qual reforçou as semelhanças entre os dois. “Temos muito em comum e queremos ser grandes à altura do nosso território e da nossa população”, disse ex-presidente brasileiro.

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