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A “cultura da ofensa” vai destruir a direita
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A esquerda radical é cínica, dominou de forma quase hegemônica a cultura nas últimas décadas, e rotula qualquer um mais à direita de "fascista" ou coisa pior. Diante desse quadro de "guerra cultural", a direita ficou bastante dividida sobre como reagir.

Esse dilema foi tema de vários artigos meus. Os mais "puristas" ou românticos gostariam de um verdadeiro cavalheiro conservador, uma espécie de lorde britânico, disposto a derrotar esses adversários. Outros, talvez mais realistas, apontavam que foi Trump, não Mitt Romney, quem derrotou os democratas nas eleições. No Brasil, foi Bolsonaro, não João Amoedo.

Ou seja, se é guerra, é preciso jogar mais pesado para vencer. Um argumento de que não discordo totalmente. O diabo, como sempre, está nos detalhes. Em nome dessa estratégia, passou-se a defender todo tipo de absurdo, de boçalidade, de postura exatamente igual àquela do adversário, tratado como inimigo mortal. Até onde vai o pragmatismo?

"O mais desprezível dos homens é aquele que considera que a intensidade de seu ódio é prova da veracidade de sua crença", disse certa vez Olavo de Carvalho. Ironia das ironias, o "filósofo" é o maior responsável por essa postura odienta que tomou conta da dita direita hoje. Ele é o guru do bolsonarismo, ícone de uma turma que só aprendeu a xingar, incapaz de argumentar, e que acha lindo "humilhar" os outros.

E o estilo fez escola. Vi a, digamos, "reação passional" de Nando Moura após ser acusado de ter dividido a direita. No mérito, acompanho o youtuber roqueiro: a acusação é ridícula, especialmente de quem vem só criando cizânia desde sempre. Mas a forma...

O influenciador surtou! Manda seus detratores enfiarem as acusações em locais remotos da anatomia humana, babando pela boca, espumando de tanto ódio. O xilique é extremamente constrangedor, digno de pena.

Acho que estamos num conto de Edgar Allan Poe mesmo. A direita virou um hospício! Os doidos tomaram conta, trancaram os médicos, assumiram o poder. Os "debates" no universo "conservador" são assustadores. São esses que vão resgatar a alta cultura ocidental? Os valores morais do conservadorismo serão defendidos por figuras como Olavo, Nando, Carlos Bolsonaro?

Por falar no filho do presidente... um dia após os ataques desequilibrados ao senador Major Olimpio, o vereador voltou a justificar essa postura esdrúxula:

Sim, hoje qualquer um que discorda uma vírgula do bolsonarismo é hostilizado por uma horda de boçais, comandada pelo próprio Carlos. Só mudou o sinal, não a tática. Quem quer calar o outro, impedir o debate, é justamente aquele que xinga o tempo todo qualquer um que ouse discordar da sua cartilha, visão de mundo, ideologia.

A certeza que fica, após observar tudo isso que tem acontecido, é que Olavo de Carvalho fez muito mal à direita brasileira. Na era do Twitter, essa postura foi mesmo fatal: um bando de boçais passou a crer que sua ira xiliquenta era sinônimo de ter razão. "Lacrar" ou "mitar" passou a importar muito mais do que buscar a verdade. Humilhar o outro com ataques ou berros é tido agora como algo maravilhoso.

Eu nunca engoli um Alexandre Frota ou um Nando Moura, justamente por conta do estilo, da forma. Já os bolsonaristas demonizam ambos só agora, pois o conteúdo mudou, com ambos passando a tecer críticas ao governo. Eu continuo não engolindo ambos. Não importa de qual lado estão.

Para o bolsonarismo, só importa o lado, a quem é "leal". Se o boçal for do "nosso time", então é um herói da liberdade, um cruzado que desafia inimigos terríveis para defender a cultura e a família. Se passar a ser crítico, vira logo inimigo a ser destruído, um "vendido" ou "comunista" que precisa ser massacrado.

A hipocrisia, a incoerência, a incompatibilidade dessa postura com o verdadeiro conservadorismo, tudo isso já salta aos olhos de quem está minimamente atento e tem um pingo de honestidade intelectual. Pode até ser que, lá atrás, alguns seguiram esse caminho pela crença genuína e até legítima de que era preciso ser mais como o adversário para derrota-lo. Hoje ficou claro que, como alertava Orwell, fica impossível distinguir porcos de homens após uma revolução...

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