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A (falta de) confiança nas Instituições: lembrando Smith
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Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal

No Brasil estamos todos no leito hospitalar. Literalmente, deixando de andar, para frente! A maior enfermidade é a perda da confiança. Deixamos de acreditar nas instituições e nas pessoas.

Há razões objetivas, de sobra, para tal situação. Ideologias ímprobas, interesses “puramente” individualistas, governos corruptos, incentivos equivocados, regramento jurídico abissal castrador da liberdade individual e interpretado por togados que focam interesses próprios e grupais ao invés da primazia de todo o conjunto de pessoas no nosso contexto social. Além disso, a impunidade e a mentira têm reinado indistintamente.

Diferentemente dos anarquistas, acredito no papel do Estado garantidor da liberdade e da genuína justiça, capaz de criar incentivos para que cada cidadão, individualmente, por meio de suas próprias buscas e escolhas, ande com suas duas pernas, cérebro e coração.

Mas está muito difícil acreditar que, após análise dos fatos e não de conhecidas retóricas falaciosas, as regras do jogo econômico e social sejam iguais para todos! E assim, lá se vai, cotidianamente, a confiança tão indispensável para relações econômicas e sociais geradoras de maior produtividade e prosperidade individual e geral.

Confiança não se compra (não deveria!), não se verbaliza, pratica-se, um dia após o outro. Só confiamos com base nas evidências – reais, construídas ao longo das interações sociais entre indivíduos com indivíduos, organizações com organizações e entre indivíduos e organizações com o Estado.

Conflitos, disputas, negociações e concessões são necessárias e imprescindíveis na jornada que tem por objetivo central o bem de todos! Ninguém deseja, creio eu, autoritarismo e tirania.

É através da confiança edificada entre os humanos que se reduz a percepção de risco associado ao comportamento oportunista pelo “outro”, e que se estabelecem relações de compromisso e o respectivo desejo duradouro de continuar interações econômicas e sociais saudáveis, fazendo esforços (investimentos) voltados para esse fim.

Na presença da incerteza, do oportunismo individual e/ou grupal, relações duradouras e benéficas para todos se esfacelam no meio do caminho.

Visões de mundo, percepções, informações, dados fidedignos, imperiosamente precisam ser compartilhados e discutidos. Sem isso não se constrói confiança genuína. Somente é possível alcançar a liberdade quando a confiança impera.

As instituições brasileiras estão funcionando, entretanto, a julgar pelos resultados (convenhamos, o que importa!), seguramente algumas delas, mal funcionado. Nitidamente. Justiça? Mercado? Mídia? Cultura? Na atualidade, confiamos e acreditamos em quem? Em Deus, eu sim.

Só a confiança contempla o potencial mágico de expandir as oportunidades de interação e cooperação humanas, reduzindo a ânsia e o tamanho do desejo das pessoas de esperar que muitas das instituições, tais como executivo, legislação e judiciário, façam as coisas por nós. Precisamos modernizar certas práticas institucionais, visando restabelecer incentivos adequados para que as pessoas possam empreender em suas vidas, e prosperarem.

Na contemporaneidade, será que instituições governamentais não querem que seus nativos prosperem? Não desejam gerar mais empregos, renda, produtividade e prosperidade sustentável? São todos os governos tiranos da esperança alheia?

Enraizado na natureza humana, todos têm no interesse próprio, a fonte do tônus vital impulsionador da esperança de melhorar suas próprias condições. Mas o macro conta e impacta fortemente! Em tudo e todos!

Nós, de carne e osso, precisamos pensar, autonomamente. Quem somos, o que queremos, individual e, por conseguinte, coletivamente. Somos seres sociais, que formamos nossa identidade com base no outro. Principalmente, espelhando-nos naquilo que não gostamos no outro. Buscamos o oposto. Procuramos associação e pertencimento com os “semelhantes”, e desassociação com os “diferentes”. Natural!

Na obra – unificada – do inesquecível e brilhante Adam Smith, primeiro em “Teoria dos Sentimentos Morais (1759)” e, após, em “Inquérito sobre a natureza e as causas da riqueza das nações (1776)”, ele rompia com a noção do amor/interesse-próprio intimamente ligado ao egoísmo, sua face ruim. Quem leu e entendeu os iluministas e Smith, compreendeu que ele buscava recuperar a virtude do egoísmo, o lado bom, do fazer individualmente para crescer e prosperar. Esse amor-próprio individual, como ser social, é inequivocamente dependente do outro, do reconhecimento do outro. Nada pode ser mais umbilical do que o julgamento e a aprovação do outro.

Em sociedade, na vida hierarquizada, o interesse próprio é mediado pela capacidade simpática-empática, imaginativa, de se colocar na posição do espectador imparcial. Na complexa e intrincada rede de interações e vontades sociais individuais, o desejo de reconhecimento “positivo e real” do outro, age – ou deveria agir – para moldar pensamentos e, fundamentalmente, as ações humanas.

De modo algum, Smith rejeitava sentimentos naturais e humanos, da inveja, da cobiça e do desprezo pelos “outros”. Evidentemente que na vida vivida, conflitos – e muitos – sempre vêm a superfície terrena. É justamente por isso, para que a ordem impere e prevaleça, que a empatia é tão crucial para conter interesses e impulsos pessoais “grosseiros” e fazer presente a confiança (e a reputação), fundamental para a vida em sociedade – e maior prosperidade.

A lógica da “mão invisível” smithiana é autoexplicativa dos fenômenos e fatos sociais coletivos. Confiança e controle passam a ter o “mesmo sentido”.

Aonde foi parar Adam Smith? No campo econômico, pelo menos, ideias liberais de livre mercado, competição e abertura econômica, parecem finalmente terem aportado por aqui.

Entretanto, reformas estruturantes em solo verde amarelo aparentam ir na contramão da velocidade exigida na era da economia digital. Por que?!

Perdeu-se a confiança! Seu resgate é complexo e leva tempo! Evidente que precisamos julgar e criticar o que está “virado”! Instituições precisam ser remodeladas e reformadas. Urgentemente. Não há dúvida disto!

Contudo, em ditas democracias, e portanto, por aqui, chegou-se a hora de focar toda a energia, recursos e capacidades para a edificação de confiança, por mais frágil que possa constituir-se inicialmente.

Instituições-chave deveriam construir um “consenso mínimo” para o bem de todo o país. Diferenças – abissais – sempre existirão. O executivo, por mais bem-intencionado que esteja, e está, não faz sozinho! É o caminho… Ou o descambamento para desordem e tirania, indesejada!

O “Big Stick” de Roosevelt (“fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete”) é prudente, mas sem alguma capacidade empática smithiana, certamente não iremos avançar!

Alex Pipkin é professor Mestre e Doutor em Administração: concentração em Marketing pelo PPGA da UFRGS.

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