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Brasília é uma grande cracolândia de costumes e de civismo
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Em artigo publicado hoje no GLOBO, Nelson Paes Leme faz uma analogia entre a biologia e a ciência política, concluindo que o “organismo” estado encontra-se em estado de completa degeneração, e que uma solução não virá de dentro, dos que fazem parte do problema, mas sim de fora, da população, da sociedade civil. Diz ele:

As ciências biológicas, especialmente a ciência médica, ocupam-se com frequência de dois termos relacionados com as patologias e suas curas: degeneração e regeneração. Não é diferente com as ciências sociais. Quando um organismo se encontra em estado de degeneração, na medicina, o tratamento propõe sua regeneração através de uma série de medidas profiláticas: dieta, reforço imunológico, medicação adequada etc. Em certos casos extremos, o quadro do paciente requer tratamento imediato e intensivo. É para isso que existem os CTIs e as UTIs.

No caso brasileiro, no tocante ao papel da representação política, o grau de degeneração das instituições e dos poderes chegou a tal ponto que resta ao povo, pelo sacrossanto e insubstituível poder soberano do voto, a retomada imediata do comando desse processo sob pena de ver soterradas as suas esperanças e a convulsão social complicar toda a economia política e a ordem pública. Desse “Congresso” em deterioração avançada e fim de mandato, onde viceja o mais reles corporativismo e o mais repugnante fisiologismo da pura barganha, nada mesmo a se esperar. Desse Executivo investigado e igualmente contaminado, sócio desse Legislativo gravemente enfermo, menos ainda. Brasília hoje é uma grande cracolândia de costumes e de civismo. Quem está entregue à dependência não se move por inconsciência e quem está por perto ou é fornecedor da droga ou impotente para conter a ampliação da degeneração.

O cientista político prega o federalismo e o voto distrital como soluções, além do fim do financiamento público de campanha e uma reforma penal, para reduzir a impunidade hoje vigente. O tamanho “paquidérmico” do estado precisa diminuir já, e precisamos de um sistema de educação básica minimamente decente, copiado de países onde funciona, sem essa doutrinação toda que vemos no Brasil.

Tudo isso, vale notar, será necessário pelo voto, diz o autor, pois a alternativa a aprender a votar é um golpe militar, sempre pior e mais complicado.

O alerta vai na mesma linha da coluna do economista Paulo Guedes, que pega carona em Norberto Bobbio para traçar um paralelo entre o Estado-Vontade de Rousseau e o Estado-Máquina de Hobbes, concluindo que nosso Estado-Máquina se tornou disfuncional, ineficiente e corrupto, não refletindo as necessidades do Estado-Vontade do povo. Custa caro, entrega pouco e alimenta a corrupção. E a “velha política” mantém essa dissociação entre a máquina pública e a vontade popular. Guedes conclui:

O tom pessimista (realista?) é necessário para que a classe política entenda de uma vez por todas a mensagem: sem as reformas, sem a mudança dessa máquina estatal perversa, a “cracolândia” política vai continuar em Brasília, enquanto o povo vai demandar cada vez mais uma solução “mágica”, fora da própria política “tradicional”, contra o establishment. Quem está ciente do que está em jogo compreende bem o fenômeno Bolsonaro, por exemplo, uma resposta do povo a esses constantes abusos das raposas políticas:

O grau de empolgação com o “mito”, cada vez mais popstar, é diretamente proporcional aos descasos e abusos vindos de Brasília, da elite política, financeira e midiática. Se a turma no poder não deixar a ficha cair, melhor já ir se acostumando que as mudanças serão impostas de fora para dentro…

Rodrigo Constantino

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