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Cine Leblon: a esquerda caviar quer luxo pago por terceiros
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O leitor que mora em grandes metrópoles sabe como é difícil encontrar postos de gasolina nos bairros mais caros da cidade. O motivo é simples: nesses locais, o terreno vale muito dinheiro, e fica caro manter a operação de um posto de gasolina. Imaginem em plena Avenida Vieira Souto, em Ipanema, com um dos metros quadrados mais caros do planeta, um terrenão em frente à praia abrigando um posto: quanto teria de custar a gasolina para compensar o custo de oportunidade daquele espaço?

O exemplo veio à mente após ler a reação de algumas pessoas à notícia de que o tradicional Cine Leblon teria de ser fechado. Sim, o lugar é aprazível, charmoso. Mas notem: ocupa uma grande esquina, em área enorme, bem no meio do Leblon, onde um metro quadrado pode custar R$ 20 mil ou mais. Como manter uma operação dessas, sem nem mesmo poder investir na infraestrutura do local para oferecer mais serviços?

Isso mesmo: a prefeitura “tombou” o imóvel, e seus proprietários ficaram impedidos de realizar obras estruturais. O prejuízo foi aumentando, e ficou insustentável manter o negócio. A família Severiano Ribeiro não tem o direito de decidir o que é melhor para si própria? A quem pertence a propriedade? Ao coletivo?

Um projeto que poderia viabilizar o cinema foi apresentado, e inclui a construção de cinco andares, com estacionamento e tudo, orçado em mais de R$ 10 milhões. Uma postura realista para salvar o cinema. Pode prejudicar o “charme” do local, com sua decoração estilo art déco. Mas seria o caso de perguntar: quem paga por ele? Quem está disposto a tirar do próprio bolso o necessário para continuar desfrutando desse luxo?

A memória afetiva tem um custo, que pode ser bem elevado. Ignorar a necessidade de viabilidade econômica é besteira, algo que apenas a turma da esquerda caviar pode fazer, acostumada a viver no luxo e jogar a fatura para ombros alheios, ou a condenar a ganância capitalista enquanto enche o próprio bolso. Seria o caso de perguntar: os frequentadores do Cine Leblon, revoltados com a notícia de seu fechamento, estariam dispostos a pagar cinco vezes mais pelo ingresso de um filme?

Não? Eles iriam na concorrência? Ah, e querem manter o cinema ali sem pagar o custo disso? Querem que… o estado obrigue os proprietários a perder dinheiro para satisfazer a demanda por luxo e charme da elite? Ou querem que os pobres paguem mais impostos para manter a operação dos ricos? E quem defende isso ainda se diz de esquerda, defensor dos pobres e oprimidos! Vejam um deles, que se diz socialista:

Emir Sader Cine Leblon

“A Prefeitura tem que evitar isso”, diz o autoritário que quer preservar um luxo à custa dos outros. Não é cômodo? Quem é que vai pagar por isso? A pergunta que Lobão fez em uma famosa canção merece resposta. Quem é que vai pagar por isso?

A atriz Luana Piovani, por exemplo, quer preservar o charme de “seu” bairro das garras capitalistas. Teatro, cinema e escola não poderiam ser fechados, pela opinião autoritária da atriz, que prefere fechar presídios (nem pergunto o que ela sugere que façamos com os criminosos). Mas garanto que o seu imóvel ela quer dispor como lhe convier, podendo vender quando julgar adequado, não é mesmo?

É sempre assim: as pessoas que dizem “tinha que ter uma lei proibindo isso” sempre se colocam do lado de lá, do legislador, do consumidor, nunca do produtor, da vítima da lei autoritária. Em nome do combate à “especulação imobiliária”, o governo “tombou” vários estabelecimentos, sem falar do APAC, que impediu reformas em vários imóveis, prejudicando inúmeras famílias.

Isso, em meu dicionário, é querer fazer caridade com o chapéu dos outros, ou seja, desfrutar de vantagens às quais os custos caem em ombros alheios. Eu adoraria ter um Cine Leblon bem perto da minha casa, para ir andando. Mas volto a perguntar: quem é que vai pagar por isso?

Rodrigo Constantino

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