Tiburi é a terceira da esquerda para a direita, a menos famosa.| Foto:

Marcia Tiburi não é muito famosa, apesar de ter feito parte daquele programa “Saia justa” da GNT, voltado ao público feminino. Ela era a “filósofa” meio chata e bem arrogante entre as quatro mulheres que “debatiam” temas importantes ou irrelevantes com a mesma desenvoltura. Tiburi é escritora e “intelectual”, além de professora de filosofia (pobres alunos). Uma boa representante, portanto, do “pensamento” de esquerda no país. Por isso sua entrevista para a Zero Hora merece algum destaque aqui.

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Tiburi lançou novo livro, e para não variar, tudo converge para o único denominador comum em sua vida: atacar o “neoliberalismo”. A luta de classes faz parte de todas as suas “análises”. Há politização de tudo, e não resta espaço para nada fora da política na vida de uma pessoa. Mas, lançando mão de um seletivo relativismo, ela vai protegendo o que há de pior na extrema-esquerda, e detonando tudo aquilo que remete à direita.

Eu já tinha comentado aqui que o “fascismo do bem” é o pior de todos, pois dissimulado, e aquele que se julga o grande justiceiro não encontra limites para suas ações de limpeza da sociedade. Tiburi mesmo defendera o direito de cuspir em “fascistas”, por ela definidos, ou seja, qualquer um que não for socialista já serve. Essa gente é perigosa, e na entrevista isso fica claro, inclusive com a defesa da marginalidade se for ideológica, em nome da “causa”.

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Ela começa atacando a fama, o que não teria nada demais, não tivesse ela mesma a buscado ao participar de programa de televisão ao lado de atrizes famosas: “A fama é uma deturpação do reconhecimento. Na nossa época, a imagem, o lugar que se ocupa e a influência que se tem transformaram-se em uma espécie de capital, uma mercadoria. A fama é o reconhecimento rebaixado à mercadoria”. Talvez Freud explique, e essa opinião seja fruto do recalque, pela falta de fama da própria escritora. Mas vamos em frente:

O Facebook transformou o rosto de cada um em mercadoria. A rede social garante ao indivíduo um lugar na grande tela, que dispensa o olhar do outro. Não preciso que tu me olhes e me diga que sou um ser humano, porque esse grande atlas que é o Facebook já me dá essa garantia. Ainda que as pessoas precisem das curtidas, o risco é de que a gente tenha projetado na rede uma autorrealização que não existe no nosso sistema capitalista neoliberal.

E lá vamos nós! Condenar o rosto como mercadoria pode ser um simples recalque, não? Vários pensadores falam do Facebook, da necessidade de curtidas, do narcisismo etc. Tudo isso é coisa séria. Mas Tiburi prefere culpar ele, seu inimigo mortal, o grande Capeta do mundo, por todos os males. O “sistema capitalista neoliberal”. Não fosse ele, as pessoas não ficariam colocando fotinho mostrando toda a sua “felicidade” para receber atenção e curtidas. A “autorrealização”, segundo Tiburi, não existe no sistema capitalista. Pergunto: e onde ela existiria?

O Facebook, como a TV, é um meio, um instrumento. Pode servir para coisas boas e para coisas ruins, fúteis. Mas todo “intelectual” socialista gosta de condenar o sistema capitalista em si pelos problemas que são provenientes da condição humana, como o desamparo, a necessidade de “pertencimento”, a vaidade, a inveja, e por aí vai. Essa turma acha que basta abolir o lucro e a propriedade privada que os homens não vão mais competir uns com os outros. É de uma infantilidade ímpar. Tiburi segue em sua cruzada anticapitalista:

Há um patamar da disputa política que é a disputa do gosto. A luta de classes é também uma luta estética. Há uma separação nítida na cultura capitalista entre o gosto das classes favorecidas e o gosto das classes desfavorecidas. A nossa tendência, por acharmos que nosso gosto é natural, é acreditar que aquilo que é organizado, limpo, bem pintado e com fachadas brancas carrega também uma moral, uma ética e uma política ilibadas. Eu quis desmascarar esse fenômeno. 

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Para Tiburi, o gosto musical é pré-fabricado pelo sistema, e a classe social define o que cada um vai gostar. Para o inferno com o subjetivo! Tenho conhecidos ricos que adoram funk, e tenho conhecidos pobres que curtem música clássica. Mas para Tiburi essa turma não existe, ou é fingida. Como uma boa marxista, até a preferência musical é apenas um subproduto de classe. Tudo precisa ser encaixado na narrativa de rico contra pobre. A paranoia ideológica chega a patamares assombrosos:

O julgamento sempre implica um poder sobre o outro, um controle e uma tentativa de se capitalizar em cima da humilhação do gosto do outro. A gente coloca critérios éticos e moralistas sobre as produções artísticas, e isso traz interesses por trás, de manutenção de poderes, de classes e castas. Não recomendo a ninguém ficar como eu fiquei. De tanto analisar tudo isso, não escuto música nenhuma. 

Reparem que Tiburi acha que um só quer humilhar o outro. Isso seria projeção? Freud, novamente, explica. Por que achar que cada um está sempre buscando um jeito de humilhar o outro? Que visão de mundo mais tosca e mesquinha! Mas se o assunto é humilhar o outro, e até o simples ato de escutar uma música é resultado disso, Tiburi não vê problema em humilhar de fato o outro, como quando algumas pessoas são escrachadas nas ruas:

O que me preocupa é o estado da nossa mentalidade e subjetividade, que autoriza manifestações tão agressivas. Quando bem organizado, o escracho pode ser uma grande expressão artística e política contra certas figuras. Mas tem de ocorrer num contexto em que possa significar algo. Não pode ser a solução onde antes poderia haver diálogo e civilidade. No extremo, o escracho pode se tornar linchamento. 

Não sei se o leitor percebeu, mas o destaque importante é este: Quando bem organizado, o escracho pode ser uma grande expressão artística e política contra certas figuras. Ou seja, se a vítima do escracho for um petista, por exemplo, isso é agressão, linchamento. Mas “certas pessoas” podem ser alvos sim, pois aí vira “expressão artística”. E quem pode ser alvo? Os “fascistas” de direita, claro! João Dória e Bolsonaro, por exemplo:

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As pessoas estão dizendo que não é preciso se preocupar com determinados personagens que aparecem nas pesquisas, como Jair Bolsonaro e João Doria. Não terão votos, não vão longe, muitos dizem. Com Trump, ocorreu a mesma coisa. O cidadão mais despreparado para a política ouve o discurso do líder despreparado e se identifica com esse despreparo. Quem sabe usar essa estratégia de produzir identificação conquista a fé do público.

Mas vejam como Tiburi é fofa e imparcial: ela até reconhece gente ridícula na esquerda também. Quem? O coreano Kim Jong-un e o venezuelano Nicolás Maduro (e aqui ela já perdeu umas curtidas dos camaradas do PSOL, a menos que explique se tratar de uma concessão necessária para preservar a imagem de isenta). Logo depois, porém, ela volta a bateria aos alvos de sempre:

Mas o populismo escancarado, da ignorância e da estupidez, é mais raro na esquerda por causa de seu pudor e de seus valores. Dificilmente vê-se alguém de esquerda fazendo um discurso mais preconceituoso. Há mais cuidado.

Vai ver por isso a esquerda quase não tem populistas, não é mesmo? Que piada! E como o entrevistador perguntou diretamente sobre Lula, não deu para fugir do assunto, mas foi possível defendê-lo imediatamente após o reconhecimento de que ele é populista:

Lula é um populista, mas não ridículo. Usa a afetividade a seu favor, é algo autêntico. É um homem que saiu da fome e fala desse ponto de vista. Tem identificação com o povo. Lula é um caso a ser estudado, é um estadista como não se viu até aqui. O que mais o aproximou do ridículo político foi ter apertado a mão de Paulo Maluf.

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Ou seja, esqueça o mensalão, o petrolão, o “amigo” Marcelo Odebrecht, a destruição do país, as mentiras, o cinismo, a defesa do modelo de Maduro, tudo isso. Lula se aproximou do ridículo quando apertou a mão de Maluf. E alguém poderia dizer que Tiburi se aproximou do ridículo quando resolveu defender Lula de maneira tão escrachada. Mas aqui fica claro o motivo pelo qual Tiburi faz vista grossa aos escândalos de corrupção do PT: o “neoliberalismo” é algo muito pior:

Você diz que o combate à corrupção é usado no jogo político e que esse não é o maior problema do país. Qual seria?

Falta um projeto de país. O neoliberalismo é um problema muito maior, é uma forma corrupta do capitalismo. A guerra contra a corrupção faz parte do pacote neoliberal. Esse pacote é desumano, em termos de economia, cultura e política.

Não é possível implantar o neoliberalismo sem antes ter produzido uma ordem de ignorância, sem ter acabado com a educação, para que as pessoas jamais reflitam. O neoliberalismo é um tipo de governo do mercado que não é favorável às populações. A pessoa comum, que vive dos direitos básicos, não vai gostar dele. Quem gosta são os donos do poder.

Vai ver por isso os países mais liberais, de acordo com índices como o do Heritage e o do Fraser, são justamente aqueles mais prósperos, com uma classe média mais robusta, com os pobres tendo as melhores condições de vida. Já os países sem livre mercado, como a própria Venezuela, são os países onde os pobres mais sofrem, enquanto os donos do poder seguem levando vidas de nababos e oprimindo a população. É tanta inversão que deveria chocar, mas esse é o default na “intelectualidade” brasileira.

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A mente binária de Tiburi só lhe permite enxergar “minorias”, jamais indivíduos. Ela segue a “revolução das vítimas” que atende ao projeto de poder da esquerda, e quer ver os representantes dessas “minorias” no governo, pois são todos de esquerda: “Seria importante devolver a política ao cidadão em um sistema em que a pluralidade seja respeitada. Não é possível pensar em um Congresso sem as populações negra, LGBT, indígena, quilombola e ribeirinha”. Um gay ou negro capitalista e liberal? Não existe! Ou deve ser ignorado.

Em seguida, Tiburi começa a defender mais e mais atrocidades, incluindo crimes mesmo. Ela defende a pichação como manifestação artística, por exemplo: “A pichação é uma manifestação que transforma as superfícies da cidade em papel, e incomoda porque risca a fachada branca. […] O grafite é arte. É uma linguagem de mediação, o meio do caminho entre a pichação e a literatura. E Doria (João Doria, prefeito de São Paulo) fez esse absurdo de apagá-lo”. Será que mora numa casa com muro pichado ou acha “lindo” apenas na propriedade dos outros?

“Não consigo ter um olhar mais crítico em relação aos black blocs, porque acho que o sistema financeiro brasileiro quebra a vida de muita gente e o próprio país. A atitude black bloc é, como tática, respeitável”. Respeitável? Mataram um cinegrafista com um rojão, e esse é um método respeitável para criticar o sistema. Eis aqui a revolucionária de butique, a “intelectual” que quer ver sangue, a “pensadora” que fomenta a barbárie:

No extremo, temos de aprofundar o desmantelamento do sistema capitalista, colaborar para que o sistema se modifique rumo a sua superação. Não sou a favor que se saia quebrando tudo, mas não sou a favor de dizer que quebrar tudo seja uma péssima ideia. 

“O neoliberalismo é o capitalismo como terror”, fulmina aquela que pensa que pensa. O que ela quer em seu lugar? Ora, aquele mesmíssimo regime venezuelano que ela fingiu condenar um pouco antes:

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Proponho a democracia radical: chamar vários grupos e pensar um projeto para o país, na base do diálogo, do acordo, até para superar as violências produzidas hoje. Sem um Brasil para todos, não há futuro para cada um.

Os grupos que “representam” as “minorias” decidindo tudo. Marcia Tiburi decidindo tudo. São os “fascistas do bem”, os fascistas vermelhos, que não vão descansar enquanto não “derrubarem o sistema”. Até lá, eles se aproveitam bastante dele, já que ninguém é de ferro…

Rodrigo Constantino