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Ideologia fora de moda: o ataque à indústria têxtil pela esquerda
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A história do capitalismo, especialmente desde a Revolução Industrial, é a de levar mais conforto material e bens de consumo às massas, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de vida dos trabalhadores. Sim, as condições de trabalho eram terríveis no século XVIII. Mas eram ainda piores antes! E eram bem piores em países sem uma revolução capitalista. Desde então, a vida dos trabalhadores vem melhorando, e os pobres têm acesso cada vez a mais produtos que eram impensáveis antes, artigos de luxo dos mais ricos ou nem isso: sonho das elites.

Se uma meia de seda era algo que apenas uma dama da aristocracia podia desfrutar, hoje qualquer uma pode comprá-la por um preço reduzido. Mas a esquerda está sempre à contramão do progresso e, por tabela, contra os mais pobres. Historicamente, colocou-se contrária a todas essas mudanças que beneficiaram a vida das classes mais baixas. Apesar de seu discurso ser voltado justamente para essas pessoas, o fato é que suas medidas nunca favoreceram os mais pobres. Ao contrário: criaram obstáculos a seu avanço.

Em um artigo meu antigo, falo sobre a Curva S, conceito conhecido para economistas e administradores. É justamente o que explica a massificação dos produtos tidos como de luxo antes, e acessíveis apenas para as elites. Escrevi à época:

Uma das coisas mais elementares ensinadas nos cursos de administração e marketing é o formato comum da curva de vendas de um produto. Esta curva, em forma de S, diz basicamente que um produto passa por três grandes fases: a inovação, a massificação e a saturação. No primeiro momento, a empresa lança o produto ainda não testado pelo mercado, e as primeiras “cobaias” compram. Em seguida, caso o produto tenha boa aceitação, a empresa intensifica a produção, obtendo importantes ganhos de escala, que permitem uma forte redução nos preços, tornando o produto acessível ao grosso dos consumidores. Por fim, o produto já atingiu uma penetração tão grande que está saturado, dando espaço para substitutos mais modernos.

Não dá nem para listar a quantidade de produtos que experimentou essa trajetória. Basta citar alguns exemplos bastante óbvios, como o automóvel ou o computador. Na época da Ford e seu Modelo T, existiam literalmente centenas de empresas competindo por esse novo mercado. Ninguém sabia ainda quais seriam os modelos vencedores. Apenas os mais ricos podiam se dar ao luxo de comprar um carro. Com o passar do tempo, e com os ganhos de escala, os preços foram caindo e as vendas explodindo. O carro era um produto popular então. O mesmo ocorreu com computadores. As antigas máquinas da IBM eram caríssimas, e poucos podiam pagar por ela. Ao decorrer dos anos, com avanços tecnológicos e ganhos de escala, milhões de usuários passaram a usufruir dos benefícios de um computador.

Isso tudo tem uma relevância enorme para o modelo econômico que deve ser adotado em um país. Em primeiro lugar, devemos entender que o processo de tentativa e erro é crucial para o progresso. O conhecimento é disperso, pulverizado na sociedade, limitado, e ninguém tem como saber a priori o que irá funcionar melhor, nem mesmo os desdobramentos das inovações. Os sonhos de voar dos irmãos Wright ou de Santos Dumont levaram ao avião, mas nem eles teriam como imaginar um Boeing 747 ou o novo Airbus gigante. As ideias têm conseqüências que nem seus próprios autores podem imaginar.

Logo, o melhor meio de progredir é garantir a liberdade individual e a livre competição, para que o método de tentativa e erro vá filtrando o que funciona melhor, de acordo com as preferências dos próprios consumidores. Isso condena totalmente a alternativa de um planejamento central, feito por algum órgão de supostos “clarividentes”, que determinam o que será mais adequado ao povo.

Lembrei disso ao ler um artigo publicado hoje na Folha, de Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, em que condena essa “ideologia fora de moda”, esse ataque sem fundamento à indústria da moda, aos empresários do setor têxtil. Tanto do ponto de vista do conceito de “consumismo”, normalmente algo elitista de quem já desfruta do melhor, mas critica quando os pobres querem fazer o mesmo, como pela visão de que esse setor explora o trabalhador, o que não é verdade em linhas gerais. Diz ele:

Alargar as portas de acesso à moda é a minha missão à frente de 40 mil profissionais. A Riachuelo existe para transformar esse fator histórico de discriminação e de exclusão em uma ferramenta eficiente de inclusão. Essa magia, que ao longo da história tem sido um privilégio de poucos, passa a operar o seu milagre na vida de dezenas de milhões de brasileiros.

Só podemos classificar de arrogante e elitista a atitude de se condenar a democratização da moda. Quando milhões de brasileiros passaram a viajar de avião pela primeira vez, essas mesmas vozes preconceituosas esbravejaram que nossos aeroportos mais se pareciam com rodoviárias. É o mesmo espírito que não aceita a democratização da moda e a classifica como “consumo desenfreado”.

A revolução do fast fashion é sinônimo de inclusão -tanto pela moda, despertando a autoestima das pessoas, quanto pelos empregos que gera.

[…]

A interpretação do que é jornada exaustiva de trabalho faz com que relações entre empregador e empregado sejam, erroneamente, consideradas trabalho escravo.

É preciso que essas definições fiquem mais claras, de forma a evitar que interpretações exageradas e ideologizadas comprometam a reputação de marcas de varejo que trabalham na formalidade, geram milhares de empregos diretos e indiretos e investem vultuosamente em auditorias de monitoramento da cadeia fornecedora.

É necessário também diminuir a absurda normatização das relações de trabalho. As partes têm maturidade suficiente para negociar. Nossa legislação é de uma época em que o trabalhador assinava o contrato com a impressão digital do dedo polegar. Isso precisa mudar.

Leis trabalhistas absurdas, anacrônicas, que falam em “direitos” como se caíssem do céu e parecem partir da premissa de que basta colocar algo em papel para ele virar verdade, acabam no fundo prejudicando os trabalhadores. Não são os sindicatos ou as leis fascistas de Vargas que protegem os trabalhadores, e sim a competição entre empregadores e o livre mercado. Basta ver como os trabalhadores americanos, sem tantas “conquistas trabalhistas”, vivem melhor do que os brasileiros, repletos de “regalias” legais.

Deixem a indústria da moeda em paz, criando seus milhares de empregos. Deixem as pessoas mais pobres consumirem os produtos de seus sonhos, antes acessíveis apenas aos mais ricos, e graças ao capitalismo disponíveis para a imensa maioria. E deixem as relações de trabalho mais livres entre patrões e empregados, pois não são os sindicatos e o governo os melhores amigos desses trabalhadores, e sim o próprio capitalismo de livre mercado.

O esquerdismo não é apenas uma ideologia fora de moda; é uma ideologia que nasceu equivocada, e vem desde sempre causando danos aos que promete ajudar.

Rodrigo Constantino

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