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Os enormes riscos de quem mora em Weston, a pacata cidade da Flórida
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Como muitos dos meus leitores sabem, moro em Weston, uma pequena cidade na Flórida, ao lado de Everglades. São cerca de 70 mil habitantes distribuídos em várias comunidades residenciais, e a marca registrada do local são suas ótimas escolas públicas e a segurança. Weston já foi considerada uma das melhores cidades americanas para se viver. Eis um pequeno vídeo promocional:

Se o vídeo parece um pouco repetitivo, é porque não há tanto para mostrar mesmo. Não virei corretor de imóveis, fiquem tranquilos, e tampouco defendo uma invasão em massa de brasileiros ao local (mas se houver interessados, minha antiga casa está à venda – tratar com o corretor). Mostro um pouco da cidade só para o leitor entender do que se trata, para a comparação ter mais efeito.

De uns tempos para cá, muitos brasileiros têm descoberto essa “Disney de adultos”, onde tudo é perfeitinho, e abandonado suas cidades de origem para buscar a paz e a segurança aqui. Deixam para trás as fortes emoções de se viver numa constante aventura em Porto Alegre, São Paulo ou, principalmente, Rio de Janeiro, e vêm desfrutar da pasmaceira onde um ataque de crocodilo é mais provável do que um ataque de um marginal armado.

Mas as autoridades do local estão muito preocupadas com a criminalidade. Tanto que chegaram a disparar emails de alertas, e gravaram até um vídeo explicando o problema e sugerindo medidas básicas de proteção. Recebi o email e, preconceituoso incurável que sou, logo pensei: “É nisso que dá chegar essa brasileirada toda aqui”. Injustiça, claro, pois sabemos que a culpa é dos venezuelanos.

Mas eis a mensagem que recebi, e que gostaria de compartilhar com meus leitores, para que entendam o grau, o abismo que separa uma cidade de primeiro mundo do meu querido Hell de Janeiro:

Dear Residents,

The Broward Sheriff’s Office has asked us to remind all residents to lock your vehicle doors. Do not leave any valuables or your keys in the car. Recent events have seen vehicles broken into when the vehicles are NOT locked. This has occurred throughout Weston. Please report any and all suspicious activity to BSO at once. 

Ou seja: bastaram alguns eventos recentes para a instantânea reação. Não devemos deixar coisas valiosas no carro, expostas. Não devemos deixar as chaves no carro, assim como não devemos deixar as portas abertas. Com olhos rútilos, pensei: “Caramba, essa gente acha que vive na Suíça por acaso?!”. Mas é assim mesmo: a cidadezinha é tão segura e pacata que relaxamos, chegando ao ponto de quase convidar o marginal ao furto (não roubo).

O vídeo é ainda mais espantoso. Sinto-me um retardado aprendendo que 2 + 2 = 4. Vejam só o terrível marginal que as autoridades usaram para ilustrar o alerta. O medo que temos dele é imediato, automático, gera pânico mesmo. É porque 99% desses casos recentes, estima-se, são adolescentes que tentam abrir as portas para pegar algo de valor dentro dos carros, e comprar drogas depois. Vejam:

Eis aí, caro leitor, o tipo de preocupação que ocupa o cotidiano das pessoas que vivem em cidades do primeiro mundo. Não esfrego isso na cara dos que vivem no Brasil por tortura, e sim em busca de um momento de epifania, um despertar do sonambulismo. É que o brasileiro banalizou o absurdo, introjetou a loucura, passou a achar normal ser roubado com frequência, blindar carros, ter bolsa do bandido, pegar a contramão na avenida para fugir de arrastão etc.

E nada disso é normal, aceitável, razoável. Mais de 80 policiais já foram assassinados somente este ano no Rio de Janeiro. Isso, meus caros, é a Síria. E o brasileiro sequer pode comprar uma arma para se defender! Para quem vive num inferno desses, o tema da segurança deveria ser verdadeira obsessão. Ninguém deveria perder tempo com outra coisa.

Se um Greg falasse em legalizar a maconha, tinha que ser vaiado até ficar surdo. Se uma novela aparecesse com a identidade de gênero como tema principal da trama, ou então com uma mulher “batalhadora” que vira traficante para ajudar o marido preso, tinha que ser ignorada até a emissora ir à falência sem anunciantes.

É simplesmente coisa de maluco viver numa guerra civil e se preocupar com o “trans homem gay”, demonizar a polícia, e tratar marginal como “vítima da sociedade”. A esquerda caviar, em sua bolha, vira as costas para a população em desespero, sendo alvo de bandidos o tempo todo.

Morando em Weston há dois anos, posso atestar o verdadeiro risco que é isso aqui. Não do ponto de vista da criminalidade, que seria ridículo, e sim do efeito que essa tranquilidade pode causar numa pessoa. É uma bolha! E, com o tempo, podemos confundir o nosso mundinho com a realidade lá fora. É justamente o que aconteceu com esses artistas todos do Projaquistão. Tomaram a sua realidade restrita e limitada como parâmetro para a humanidade. Deu nisso.

Por essas e outras faço questão de sair de Weston de tempos em tempos e visitar meu saudoso Rio de Janeiro. Escondo o relógio, fico arisco como uma presa diante do predador, vejo leões por todo lado, ando de forma mais agitada e desconfiada, acelero o passo quando vejo figuras ou atitudes suspeitas. Não dou mole, e sei bem qual a sensação de ter uma arma apontada para a cabeça. Injeto adrenalina no sangue.

Essas visitas periódicas ao meu mundo antigo servem para me manter sensível à realidade atual de milhões de pessoas, dos meus próprios leitores. Se eu não fizesse isso, eu poderia acabar pensando como o Greg, e concluindo que andar de bike em vez de carro é uma das coisas mais importantes a se fazer para “salvar o planeta”, ou então que ser homossexual é a melhor forma de “salvar o planeta”. E ainda me acharia engraçadinho por escrever coisas assim no jornal.

Poderia, enfim, passar o dia matutando sobre baboseiras, entre uma baforada e outra, me transformando num imbecil completo, desligado da realidade dos milhões de brasileiros que querem, acima de tudo, simplesmente chegar vivo no próximo dia, o que não é tarefa fácil em meio a tantos marginais em clima de tanta impunidade. Poderia virar até um eleitor do Freixo, cruzes!

É fundamental SAIR DA BOLHA para conhecer a realidade. Perder o elo com o mundo real é o grande risco de quem busca refúgio em universos paralelos. Fica a dica, galerinha do Projaquistão!

Rodrigo Constantino

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