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Protecionismo brasileiro, denunciado por Trump, precisa ser atacado
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Comentei nesta terça sobre a fala do presidente Trump acerca do nosso protecionismo comercial, e fico feliz de ver que o editorial do GLOBO de hoje reforça o acerto do republicano. Reconhecer que Trump está certo não deve ser algo muito fácil para quem vem sendo seu crítico feroz, muitas vezes buscando pelo em ovo só para ataca-lo. Mas o jornal teve que admitir que a acusação de Trump procede, já que os dados são irrefutáveis:

Com relação ao país, disse ser o Brasil “um dos mais difíceis do mundo, talvez o mais duro”, no campo do comércio, no entender de empresas americanas. “Eles cobram de nós o que querem.”

Na verdade, os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial brasileiro — só abaixo da China —, obtiveram, nos primeiros sete meses deste ano, com o país, um superávit de US$ 3,2 bilhões, depois de terem acumulado um déficit de US$ 2 bilhões em 2017. Mas Trump tem razão, do ponto de vista do fechamento da economia brasileira.

Há diversos rankings sobre isto. Um deles, o Índice de Liberdade Econômica, da Fundação Heritage, coloca o país em 153º lugar, entre 180 nações.

Outro indicador do atraso do país na integração à economia mundial é que ele tem o PIB entre os dez maiores e uma ínfima participação de pouco mais de 1% no comércio global.

Trata-se do reflexo de uma clássica cultura de proteção do mercado interno, reservado a empresas instaladas no país. Uma mentalidade protecionista, cartorial, arraigada na direita e na esquerda.

Há várias marcas negativas na economia brasileira derivadas deste arcaísmo: grande dependência das exportações de produtos primários — minérios e agropecuária — e baixa importância relativa das vendas ao exterior de bens manufaturados.

Reflexo da falta de mais conexões a cadeias globais de produção. Logo, produtividade baixa, menos empregos. Outro problema para a agenda do próximo presidente.

O fato de um país ter déficit ou superávit com outro determinado país não quer dizer muita coisa, ou quase nada. Esse dado, citado pelo editorial, não fala do grau de protecionismo da nação. Na verdade, as empresas americanas poderiam ter um superávit muito maior e ainda assim isso não negaria o teor protecionista do nosso governo.

Basta pensar que as empresas americanas estão entre as mais poderosas do mundo, e que se houvesse livre comércio mesmo, as vendas de americanos para brasileiros normalmente superariam e muito as vendas em sentido contrário.

Mas o jornal, logo em seguida, partiu para o que realmente interessa: mostrar a colocação vergonhosa do Brasil no ranking de liberdade econômica, especificamente no quesito abertura comercial. Nossa grande economia, em boa parte graças às nossas dimensões continentais, não faz sequer cosquinha no comércio global. Se somarmos nossas importações e exportações e dividirmos pelo valor do PIB, teremos um grau de comércio relativo muito baixo.

Enfim, não dá para negar: somos um país de economia fechada. O governo cria diversas barreiras protecionistas para “proteger” nossa indústria, e o resultado é o preço mais alto de tudo para nossos consumidores, além de empresas ineficientes que sobrevivem graças aos subsídios estatais. Isso precisa mudar, entrar na agenda do próximo presidente, como pede o jornal.

E qual candidato tem mais probabilidade de fazer isso? Ora, sabemos que Bolsonaro tem um passado mais nacionalista, mas que vem sendo substituído gradativamente por uma visão mais liberal de mundo. Bolsonaro já criticou o Mercosul por seu viés ideológico e pregou acordos bilaterais de livre comércio. Também se diz admirador de Trump. E tem o liberal Paulo Guedes como provável ministro da Fazenda.

Por outro lado, Fernando Haddad é o PT, um partido que fez de tudo para fechar ainda mais nossa economia. Justamente o arquiteto do Mercosul ideológico, que tanto prejudicou nossa indústria e nossos consumidores. Falar em globalização para petistas é usar palavrão, xingamento. Para essa turma, a economia deve ser toda controlada pelo estado, e os produtos de multinacionais são vistos com grande desconfiança, como uma “invasão maligna”.

Não resta muita dúvida, portanto, sobre qual dos dois primeiros colocados nas pesquisas representa uma chance de guinada em relação a esse protecionismo abjeto que Trump denunciou.

Rodrigo Constantino

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