O relativismo estético exacerbado é uma espécie de grito dos medíocres contra os melhores. Incapazes de competir com os mais talentosos, a alternativa rancorosa de muitos é simplesmente alegar que o talento não existe, ou que ele é tão, mas tão subjetivo que tudo é uma questão de mera opinião. Para não ter que conviver com os melhores, o que pode ser insuportável para espíritos mesquinhos, essa gente atira no próprio conceito de melhor ou pior, como se não existissem.
Se tudo é arte, então nada é arte. Se qualquer porcaria é literatura, então nada é literatura. Se qualquer um é um “poeta”, então poesia não diz nada. A tática, muitas vezes deliberada, é misturar tudo, embaralhar as cartas, jogar o joio e o trigo no mesmo saco para constatar, depois, que tudo é igual, que nada é diferente na essência. A quem interessa fugir das diferenças, senão ao que sabe ser pior e não suporta essa sensação de inferioridade?
Em resenha na VEJA desta semana do novo lançamento da É Realizações, o livro de T.S. Eliot sobre crítica literária, Eduard Wolf resgata o que faz da boa literatura um clássico, e que o importante, para o poeta conservador, é a formação do homem e seu caráter, sua sensibilidade, não o consumo da arte como luxo para ostentação. Na conclusão, sobra para o coitado do Greg, que só mesmo num Brasil com valores tão deturpados pode virar “poeta” e “intelectual”, quando não passa de um humorista medíocre:
O problema é justamente esse: deformar pessoas parece ser o objetivo primário dessa gente toda que endossa o relativismo pleno, que vive para atacar o que há de mais elevado, de melhor, como se a simples constatação da existência do melhor e do pior fosse algo elitista, preconceituoso, quase nazista. A campanha relativista já fez inúmeras vítimas, e hoje não são poucos os que se acham verdadeiros poetas por escrever pensamentos desconexos nas redes sociais, com a profundidade de um pires convexo.
São escritores frustados, medíocres, que adotam o relativismo como escudo contra a superioridade alheia, em vez de ter a humildade necessária para contemplar o que há de melhor produzido por indivíduos diferenciados. Se qualquer rabisco sem sentido, se qualquer joguete primário de palavras, se todo “pensamento” cuspido sem a devida reflexão e preparo for considerado poesia, então é o fim da poesia e dos verdadeiros poetas.
Isso só interessa a quem pretende transformar o mundo num lugar mais feio e igualitário, por não suportar a beleza alheia, superior. O relativismo estético, que leva também ao ético, é a inveja mascarada de altruísmo e abnegação igualitária.
Rodrigo Constantino
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