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Ser amigo do presidente não é o problema; não ter o preparo técnico adequado sim!
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Apontado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) como seu “amigo particular” em uma de suas campanhas políticas, Carlos Victor Guerra Nagem foi indicado pela direção da Petrobras para a gerência executiva de inteligência e segurança corporativa. A gerência executiva, para a qual Nagem foi indicado, é o segundo cargo mais alto na hierarquia da Petrobras, abaixo apenas da diretoria executiva.Embora a estatal não revele os salários de seus funcionários, estima-se que o cargo pague cerca de R$ 50 mil mensais. Hoje, ele receberia cerca de R$ 15 mil. A informação foi revelada pelo site O Antagonista .

A estatal defende a indicação dizendo que Nagem é empregado da Petrobras há cerca de 11 anos e que ele tem o currículo adequado para a vaga. Atualmente lotado em Curitiba, o novo gerente nunca havia ocupado cargo comissionado na empresa.

Nagem já se candidatou a cargos públicos pelo menos duas vezes sob a alcunha Capitão Victor, em referência a seu histórico na Escola Naval. Mas não conseguiu votos suficientes para se eleger em nenhuma das ocasiões.  Na eleição de 2018, concorreu a uma vaga de deputado estadual do Paraná pelo PSC. Obteve apenas 583 votos. Antes, em 2016, havia disputado o cargo de vereador de Curitiba, também pelo PSC. Recebeu 1.129 votos.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, negou em entrevista à reportagem que a indicação tenha motivação politica. Ele defendeu a experiência de Nagem na área, dizendo que o indicado trabalha há seis anos na área de segurança empresarial da Petrobras.

“Não recebi pedido ou indicação de ninguém”, disse. “Escolhi a melhor pessoa que entrevistei.” Sobre a ascensão na carreira de Nagem após a eleição de Bolsonaro, o executivo argumentou que “no passado, o que contava na Petrobras era político, não era critério técnico”.

A indicação teve forte repercussão na imprensa, com chamadas destacando que “amigo do presidente foi indicado para cargo na Petrobras”. Como já houve o desgaste com o caso do filho de Mourão, apontado para assessor no Banco do Brasil, cargo que triplicou seu salário da noite para o dia, a notícia pegou muito mal. Jair Bolsonaro optou pelo sarcasmo, misturado com certo cinismo, para bater na mídia:

O tom de deboche foi copiado pelo seu filho, Carlos Bolsonaro:

É óbvio que o problema não estaria em o indicado ser amigo do presidente, e sim em não ter o devido preparo técnico para o cargo. Não vamos esquecer que Queiroz era amigo de longa data da família Bolsonaro, e talvez por isso fosse funcionário no gabinete de Flávio. Deu no que deu!

Piadinhas cínicas do presidente não vão resolver o problema. Claro que não é para indicar inimigos. Mas tampouco é para indicar amigos que não sejam adequados para os cargos, por serem amigos! Isso é o óbvio ululante. A mídia só deve focar nos laços de amizade se identificar falta de currículo no indicado, verdade; mas o presidente também não deveria reagir assim, mas mostrar o preparo do indicado e ponto.

O novo governo começa com algumas derrapagens, com falha de comunicação, e com atitudes que acendem uma luz amarela para quem venceu para mudar a velha política. Os que apoiaram Bolsonaro, à exceção dos “minions” que acham que ele sempre estará certo, são mais exigentes do que a média, e certamente bem mais exigentes do que petistas.

Os filhos do presidente, em especial Carlos e Eduardo, têm demonstrado uma postura um tanto arrogante de quem não aceita ser vitrine agora, e o poder pode ter subido à cabeça. Escalar a mídia como um todo como inimiga da nação, como tem feito Trump aqui nos Estados Unidos, será uma tática bem perigosa nesse caso.

Afinal, ainda temos jornalistas independentes, e estes serão críticos sim, quando acharem merecido e necessário. Bater na Globo é fácil. Atacar a Folha é moleza. Mas e quando o núcleo duro da família partir para ataques cada vez mais agressivos contra aqueles que, até ontem, eram considerados simpatizantes da candidatura Bolsonaro? Serão todos transformados em “traidores da Pátria”, como fazia Stalin na União Soviética? Não é boa receita… mas parece ser o jogo escolhido pelo núcleo duro do presidente:

Minha sugestão, se vale de alguma coisa: explicar com calma as escolhas, e há algumas um tanto difíceis de serem explicadas, como na Apex; agir com humildade diante das cobranças não só da imprensa, mas da base que apoiou sua candidatura porque exige mudanças; reconhecer quando houver erros, para desfazê-los com rapidez; e tentar segurar a verborragia dos filhos mais afoitos e imaturos.

A alternativa é ir se fechando cada vez mais na bolha dos bajuladores, e transformar todos aqueles liberais e conservadores que apoiaram a candidatura em “inimigos”, o que me parece um tiro no pé. Até porque a popularidade, principal ativo do presidente, não é eterna; ao contrário: é bastante efêmera e depende da retomada da economia, que, por sua vez, depende das reformas propostas por Paulo Guedes. As mesmas que o núcleo duro não comprou com tanta convicção, ao contrário dos liberais e conservadores…

Rodrigo Constantino

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