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Será que há abundância de crédito no Brasil
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Por Paulo Figueiredo Filho, publicado pelo Instituto Liberal

Tenho muita simpatia e assino os informativos do pessoal da Empiricus Research e não é sempre que eu discordo deles. Mas um dos diagnósticos que eles vem fazendo é completamente equivocado: o de que há, na verdade, abundância de crédito disponível no Brasil e o que há é falta de demanda.

É o exemplo clássico de análise de economista do mercado financeiro que eu tanto critico por aqui. Pode ter até uma boa formação, mas só sabe olhar números agregados, sem nunca ter colocado o bumbunzinho peludo em uma cadeira de executivo de empresa.

Funciona assim: o “economista” olha os balanços do bancos entulhados de recursos. Daí ele vê declarações públicas dos presidentes dos bancos, como de Luiz Carlos Trabuco do Bradesco, dizendo que estão cheios de disposição para emprestar e que faltam projetos. Pronto, agora tudo faz sentido! Falta gente querendo tomar crédito por causa da crise!

A economia real é a dentro da sua casa e dentro da sua empresa. E no mundo real de quem produz, sim, a meia-dúzia de bancos que existem no Brasil tem dinheiro sobrando. Mas o que os dados agregados não conseguem mostrar é que as condições impostas por estes bancos para empréstimos são praticamente “incumpríves”, principalmente em um cenário de crise.

Como meu pai sempre diz [parafraseando Robert Frost]: banqueiro brasileiro é o sujeito que te empresta um guarda-chuva em um dia de sol, mas toma de volta no instante em que começa a chover e de quebra ainda leva suas roupas.

Eu pergunto se você, empresário que está vivendo a maior crise da história do Brasil, concorda com a Empiricus: há crédito sobrando para você? Ou os bancos estão negando crédito porque seu faturamento está caindo? Ou porque suas “garantias” (como as imobiliárias) estão se desvalorizando e perdendo liquidez? E que tal as taxas de juros que tem sido oferecidas a você? São taxas racionais ou estratosféricas? Aquele gerente de banco que te ligava oferecendo dinheiro em 2012, quando você não precisava… por onde ele anda?

Há, na verdade, desespero por crédito no setor produtivo. Eu arrisco a dizer mais: nunca houve tanta dificuldade de obtenção de crédito na história recente do Brasil. Eu mesmo recentemente tive uma operação de R$ 50 milhões cancelada no último minuto porque o agente simplesmente “interrompeu operações de crédito no Brasil até que o cenário fique mais claro”.

Em um momento de crise, incerteza, falências, derretimento de ativos, e títulos públicos rendendo quase 15% ao ano, nossos bancos só vão emprestar a empresas muito sólidas, exigindo colaterais gigantescos e cobrando taxas de juros dignas de agiotas. Caso contrário, é melhor deixar dinheiro em caixa. Na crise, Cash is King. Mas é claro, você nunca vai ouvir isso na declaração pública de nenhum membro do clubinho mais exclusivo do Brasil – aquele que bateu recordes de lucro no pior ano da história da economia brasileira e, por coincidência, encabeça a lista dos maiores doadores de todas as campanhas presidenciais.

Felizmente, mesmo quando o Empiricus erra, eles acertam. Concordamos integralmente em que a medida do governo de forçar bancos públicos a concederem crédito para aquecer a economia é um agravamento do desastre keynesiano que ajudou a nos colocar na crise em que estamos hoje, em uma espécie de fase final dos ciclos econômicos austríacos com anabolizantes.

Não se engane, só duas coisas vão melhorar a oferta de crédito no Brasil. A primeira é a saída de Dilma Rousseff do poder e a consequente diminuição das incertezas (ou certezas negativas) e melhoria mínima das expectativas futuras. A segunda passa por um governo disposto a facilitar a entrada de novos agentes no sistema bancário privado – provavelmente o mais regulado setor da economia nacional. Deixemos o livre mercado funcionar. Agentes novos e menores são mais dispostos a conquistar mercado e, para isso, bem mais propensos a tomar riscos maiores. Precisamos desesperadamente destes agentes.

Mas isso é algo que você nunca vai ouvir de nenhum banqueiro, não é verdade?

Nota do blog: faltou mencionar uma terceira coisa fundamental para melhorar e ampliar o crédito no Brasil, que é reduzir drasticamente os gastos públicos. Hoje o governo é o grande dreno dos recursos poupados no país, o que reduz a oferta de crédito com lastro. Somente a redução dos gastos públicos permitiria o aumento da oferta de capital poupado em nosso país, sem que dependêssemos sempre da poupança externa, assumindo o risco cambial. Menos governo é mais poupança disponível, mais oferta de crédito com lastro, menores taxas de juros.

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