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SUS 30 anos: entre a utopia romântica e a dura realidade
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O GLOBO traz hoje uma reportagem de página inteira sobre o SUS, que completa 30 anos. Trata nosso modelo socialista de saúde como uma “conquista histórica”, na linha dos “direitos trabalhistas”, sem dúvida. E conclui que o “direito à saúde” sofre perdas e desprestígio. A entrevistada pelo jornal é a colunista do jornal, Ligia Bahia, uma defensora fanática do socialismo na saúde (e não só na saúde). Diz um trecho:

Sistema Único de Saúde (SUS) chega aos 30 anos como um dos maiores legados da Constituição, que assegurou o direito à saúde gratuito e universal aos brasileiros. O SUS promoveu avanços que são referências mundiais, como os programas de Aids, transplantes e combate do tabagismo; expandiu a rede de saúde a todo o país; reduziu taxas de mortalidade e de doenças cardíacas. Mas também enfrenta críticas por falhas e retrocessos. Suporta ainda o peso do aumento das cargas trazidas pelo envelhecimento da população, da violência e da expansão de doenças infeciosas como a zika.

Um estudo do Coppead/UFRJ indica que, além do subfinanciamento crônico do sistema, há desperdício provocado por má gestão, que consome 46% dos recursos do SUS no estado do Rio de Janeiro, por exemplo. 

[…] A saúde é a maior preocupação da maioria da população, à frente de violência, corrupção e educação, segundo pesquisa da Datafolha. Mas isso não se reflete nos programas de governo dos candidatos à Presidência, diz Lígia Bahia, uma das autoras de uma análise das propostas, cujo resultado se resume a uma “inacreditável falta de importância dada à saúde, em total dissonância com o interesse da população”.

— A falta histórica de relevância política está na raiz dos problemas do SUS, seja o subfinanciamento seja a má gestão. Pelos programas dos candidatos, essa eleição indica que esse ciclo será perpetuado — diz Bahia, professora da Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFRJ.

[…]

Subsidiar serviços privados de saúde e estimular planos populares é fazer dupla cobrança ao contribuinte, diz Bahia. “O brasileiro já financia o SUS com impostos. Não teria que precisar de plano. Isso deveria ser opção”, acrescenta. Para ela, o país está perto da “tempestade perfeita” na saúde, com a deterioração dos serviços e a desorganização da rede. Tempos melhores dependem da importância dada à pasta pelo novo governo e à criação de um sistema de fato integrado e transparente. Carlos Paiva, da ENSP da Casa de Oswaldo Cruz, concorda:

— O Brasil precisa construir uma base política que sustente o SUS e garanta transparência. É uma anomalia o brasileiro precisar de plano de saúde. Ele deveria exigir ter um bom SUS. A Constituição diz que a saúde é um direito. Isso é muita coisa. Falta a sociedade cobrar e os governos se comprometerem.

Ora, a “especialista” troca a causalidade das coisas: o povo corre atrás de seguro justamente porque o SUS não presta. Mesmo que já pague por impostos, a população percebe a péssima qualidade do serviço. O mesmo ocorre com o ensino, com segurança etc. A classe média paga tudo isso por meio de impostos, mas depois tem que correr para o mercado para comprar novamente os serviços, já que aqueles ofertados pelo estado são terríveis.

A esquerdista comete a falácia do Nirvana: compara uma realidade imperfeita com uma utopia qualquer. Em sua cabeça, o problema do SUS é só “má gestão” e “falta de foco”. Se ao menos políticos esquerdistas como ela ganhassem e “priorizassem” o SUS… Se ao menos houvesse uma bancada do SUS no Congresso… Aí tudo seria lindo, uma maravilha! Como a saúde cubana… ops!

O maior equívoco que alguém pode cometer em análise política é se imaginar no controle das coisas, em vez de se dar conta de que haverá um burocrata com péssimos mecanismos de incentivo ou políticos de olho na reeleição. O SUS não funciona bem não é porque faltam recursos ou políticos esquerdistas comprometidos com o socialismo na saúde, e sim porque o socialismo não funciona bem mesmo.

Diante dessa dura realidade, em vez de a “especialista” rever suas premissas, ela prefere dobrar a aposta: precisamos de mais socialismo na saúde ainda! E nada de questionar o mundo real, para compreender os motivos dos constantes fracassos das soluções coletivistas por meio do estado. O problema é que o alto preço pela insistência ideológica é pago pelos mais pobres, já que os mais ricos acabam fugindo para a iniciativa privada.

Rodrigo Constantino

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