A disputa das primárias democratas vai se definindo, se afunilando para um embate entre o socialista Bernie Sanders e o ex-vice de Obama Joe Biden. Pete Buttiegieg pulou fora da corrida, assim como Amy Klobuchar. Ambos representavam a ala mais moderada do partido. Elizabeth Warren insiste numa campanha fracassada, disputando votos com Sanders. Quem sobra é Michael Bloomberg.
O bilionário, oitavo homem mais rico do mundo, gastou do seu próprio bolso algo como $500 milhões até agora. É impossível ligar a rádio ou a TV americana e não se deparar com uma propaganda de Bloomberg. Sua aposta era clara: assumir o papel moderado contra Sanders, contando com o fracasso de Biden.
O problema, para Bloomberg, é que Biden ressuscitou na Carolina do Sul, mostrou que, apesar de sua quase senilidade, ainda não morreu. Isso se soma ao péssimo desempenho de Bloomberg nos debates. Ele foi massacrado, incapaz de seduzir. E sua primeira primária será hoje, na Super Terça, com 14 estados. Será o grande teste para o magnata.
Como a Califórnia faz parte da Super Terça, o resultado só sairá muito tarde. Mas já podemos concluir que o melhor amigo de Sanders é mesmo Bloomberg, o que é uma ironia e tanto. O socialista, afinal, fala bilionário em cada frase, destilando sua ideologia da inveja. Sem o bilionário, porém, Sanders teria que disputar já com Biden apenas.
O meio campo lotado era a maior vantagem do velho comuna, que corria tranquilo pelas beiradas. Sanders alega que a mídia e o establishment estão o perseguindo, pois agora, só agora!, resolveram fazer as perguntas mais incômodas, tipo: o que pensa o octogenário que passou a lua de mel na União Soviética e sempre elogiou Cuba?
A mídia ajudou a criar o movimento socialista de Sanders, mas agora caiu a ficha de que ele não tem muita chance contra Trump. Daí o pânico. A "perseguição", portanto, significa finalmente colocar um holofote sobre o que realmente defende o radical de Vermont.
Trump endossou a narrativa de Sanders tuitando que o establishment democrata prepara um boicote contra ele. É normal: Trump adoraria disputar com o velho socialista. Mas os democratas se mexem para ter Biden como candidato.
Ainda é um nome muito ruim, mas menos pior do que Sanders, sem dúvida. E oferece um risco um pouco maior à reeleição de Trump, ainda o favorito de longe, especialmente com a economia bem e a menor taxa de desemprego da história para as minorias.
Biden precisa ir bem hoje. A decisão será mais clara entre ele e Sanders. No caminho, porém, ainda há um bilionário torrando dezenas de milhões de dólares todo dia. Quem agradece é o socialista que demoniza os bilionários. Não é irônico?
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