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O Mal e o Bem existem, ponto. Desde os primórdios há quem lute a boa luta e quem represente as trevas. Nunca aceitei uma visão relativista, pois ela busca diminuir quem faz escolhas certas e enaltecer quem só escolhe maldade. O perigo, claro, é se achar muito do Bem, sem a humildade cristã para admitir que há maldade dentro de nós também.

Quem se vende como santinho me causa calafrios. As melhores pessoas que conheci em minha vida não eram propagandistas de si mesmas, que encaravam os demais como sujos e imorais, achando-se a última bolacha do pacote. Eram pessoas imperfeitas, com consciência de suas imperfeições, e que lutavam muito para se tornar seres humanos melhores, mas não para sinalizar virtudes a terceiros.

Abro com tal digressão para falar, uma vez mais, do fenômeno do "ódio do bem". Em nossa era narcisista e hipócrita, muitos querem se vender como almas bondosas, sem o esforço necessário para efetivamente ser alguém melhor. Definem quem diverge politicamente deles como "malvados", e com este rótulo em mãos, passam a desumanizar essas pessoas. Uma vez dado esse passo, tudo é permitido: qual o problema de desejar mal a um rato?

Bolsonaro foi hospitalizado uma vez mais, com dores abdominais. Sequelas da facada que quase tirou sua vida, e que boçais negam ter acontecido, na maior propagação de Fake News de todas, mas permitida até em "documentário" por quem quer definir o que é verdade e mentira. Foi o suficiente para que uma horda de raivosos partisse para os ataques de sempre.

Tem ator frustrado desejando abertamente sua morte, ateu comunista pedindo a Deus para que uma eventual cirurgia dê errado, jornalista afirmando que o presidente postou uma foto na maca para fazer palanque, gente que diz que não deseja mal a nenhuma pessoa, mas agradecendo pelo "fato" de que Bolsonaro não é uma pessoa. É o show de horrores típico das redes sociais, de uma esquerda que se coloca como boazinha, mas que destila ódio a cada segundo.

O típico pensamento tribal de “nós contra eles” parece enraizado em nossa espécie, e o preconceito e a xenofobia acabam alimentando um desprezo por determinados grupos étnicos, sociais ou religiosos. Às vezes, essa visão chega ao extremo do genocídio. Isso é possível porque as vítimas são tratadas como se fossem de outra espécie, animais inferiores, sub-humanos.

Aqueles considerados sub-humanos não possuem, pela ótica de seus detratores, aquela coisa especial que não é fácil de explicar, mas que nos torna humanos. Por conta desse déficit, não desfrutam do respeito que normalmente estendemos a toda nossa espécie. Podem, assim, ser escravizados, torturados ou mesmo exterminados sem que a consciência pese tanto. Quem age assim não se sente atacando outro ser humano, e sim um bicho inferior.

A imensa maioria dos seres humanos hesitaria em matar ou torturar outro da mesma espécie. Mas esses escrúpulos se perdem quando estamos diante não mais de outro ser humano, e sim de uma ratazana ou de uma cobra. Ao retratarmos os outros como animais perigosos ou parasitas, tal retórica se mostra perigosa, pois mexe com nossos medos mais profundos. Tais técnicas de discurso incentivam o terror e fecham nossas mentes.

A desumanização é extremamente perigosa justamente porque oferece ao cérebro os meios pelos quais podemos superar as restrições morais contra os atos de violência. Ao verem comunidades inteiras como sub-humanas, os humanos driblam essa ambivalência e podem, agora, exterminar seus inimigos sem remorso, como quem elimina um germe.

É por compreender esses riscos que tanto conservador tem repudiado a ideia de um "passaporte vacinal", que cria um grupo de "párias" da sociedade, cidadãos de segunda classe apontados como os culpados por todos os males - algo totalmente anticientífico. Pedro Henrique Alves escreveu um ótimo texto na Gazeta sobre isso, traçando um paralelo evidente com o nazismo.

Diz num trecho: "Se você tem algum princípio ético-filosófico vinculado aos destroços humanos deixados pelos horrores inimagináveis que ocorreram no século passado, então não poderá achar minimamente concebível a existência de um 'passaporte sanitário' ou de qualquer segregação de não vacinados. Sim, eu já parto desse pressuposto. É tão bizarro defender tal ideia no século XXI que chega a ser quase boçal. Excluir pessoas da sociedade civil, impossibilitar suas entradas num país, evento, e demais convívios públicos, porque tais pessoas escolheram não se vacinar, isso não é minimamente razoável ‒ sinto muito. E me permita blindar-me das pechas que possam surgir desde já, eu me vacinei sim senhor, tenho a Pfizer em minhas veias, literalmente. Não sou um antivacina, eu sou antiautoritário."

O doutor Ricardo Zimerman foi na mesma linha ao desabafar: "A pandemia nos possibilitou a oportunidade única de saber quais dos seus parentes, amigos e vizinhos teria usado uma suástica se tivesse nascido há uns cem anos atrás". É triste, mas é verdade. A maioria acha que jamais sucumbiria aos horrores nazistas, mas foi na Alemanha educada, de Goethe, que o regime totalitário fincou raízes. E com apoio de parcela expressiva do povo.

Os mesmos que juram abominar o que fizeram os nazistas com judeus, ciganos e outros grupos minoritários, repetem sem peso na consciência que quem não quer tomar a terceira dose da vacina deve mesmo "sumir" da vida em sociedade, arcar com as consequências e virar um pária no ostracismo. Os mesmos que dizem que o nazismo seria impensável nos dias de hoje desejam abertamente a morte do presidente, pois é um "negacionista".

Essa gente jura ser do Bem, mas no fundo é gente do Mal. E o Mal avança por vários motivos, como ignorância, covardia, ressentimento, inveja etc. A luta contra o Mal é contínua e começa dentro de nós. É preciso escolher a Luz contra as trevas. É preciso querer se tornar alguém melhor, que controla certos apetites nefastos, paixões mesquinhas. Coloquem as mãos nas consciências!

E quanto ao presidente, desejo rápida melhora, claro.

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