Escutava a CBN, programa “Fim de expediente”, quando quase bati de carro. É que a fala do filósofo Mario Sergio Cortella, o entrevistado, fez eu levar automática e incoscientemente a mão à barriga, procurando o estômago. Quando lembro que sua especialidade é falar sobre ética, bate uma tristeza ainda maior. Nossa esquerda não tem jeito mesmo!
E o que foi dito de tão assustador? Bem, após tecer loas ao mestre Paulo Freire, pintado não como um homem, mas quase como um santo e um gênio, basicamente pelos títulos conquistados (apelo à autoridade*), pois o reconhecimento oficial de “patrono da educação brasileira”, convenhamos, não deveria ser tão honroso num país com esse ensino lamentável que ocupa a rabeira dos rankings internacionais, Cortella resolveu falar sobre a esquerda e a direita.
Sua definição “histórica” dos termos foi a seguinte: esquerda é tudo aquilo que não tem “demofobia”, enquanto direita é tudo que tem “demofobia”. E lá vamos nós para o monopólio das virtudes uma vez mais, a velha e surrada tática de se apropriar dos fins nobres e demonizar os oponentes pelas supostas intenções terríveis. Mesmo que o partido se diga de esquerda, alega Cortella, ele será de direita se não quiser o bem do povo, se não desejar melhorar a vida dos pobres.
Esquerda, para ele, é um sentimento bom, uma alegada intenção nobre, um “amor” por tudo que é popular. Como Rousseau, que “amava” a Humanidade, especialmente o “bom selvagem”, mesmo tendo abandonado todos os filhos e criado problema com todos os amigos, chegando a ser visto como um “poço de vileza” por Voltaire. Detalhes bobos. Ser de esquerda, nos diz Cortella, é apreciar o povo, enquanto ser de direita é detestá-lo, torcer para que os pobres não possam frequentar os aeroportos.
O que dizer de tanta estupidez ou desonestidade? Só posso dizer que o discípulo teve o mestre que merecia. Quem sabe Cortella não possa ser o novo patrono de nossa educação? Até porque está cotado para o ministério, não é mesmo? (assim que o texto foi publicado, saiu a notícia de que Renato Janine é o novo ministro, ou seja, outro puxa-saco do petismo) Nada mais adequado do que um especialista em ética aceitar um cargo no governo do PT, não é verdade? Será apenas mais um a levar a mentalidade marxista de oprimidos e opressores para dentro da sala de aula, colaborando com afinco para o declínio ainda maior de nosso ensino público.
Cortella, em seguida, passou a minimizar nossos escândalos de corrupção com base na juventude nacional. Ou seja, o Brasil é um país com apenas 500 anos. Como podemos nos comparar com países milenares? Ele citou a China e a Índia como exemplos. Como é? Qual a lição aprendida pela China ao longo de tanto tempo? Um país sem democracia e ultra corrupto, vai ensinar o que exatamente? E a Índia, uma miséria total, de que serviu tantos milênios de idade? Já os Estados Unidos…
Mas ficamos assim: devemos ser menos exigentes com nossos políticos pois o Brasil é um país jovem ainda. Disse o entendido sobre ética, e que talvez vá para o governo do PT. Não é tudo incrível? Acho que tenho um pouco de “petistofobia”, admito, pois quando vejo o que esses petistas fazem com o nosso povo que tanto “amam”, a revolta é inevitável…
* Acho incrível como os “intelectuais” de esquerda apelam para os títulos acadêmicos, na incapacidade de focar em argumentos. Não importa quantos doutorados honoris causa Paulo Freire recebeu, isso não diz nada sobre suas ideias serem boas ou ruins. Outros acadêmicos renomados e repletos de títulos também defenderam baboseiras. Aliás, vários marxistas são doutores, e isso não salva o marxismo, um retumbante fracasso, de nada. Podemos pensar em Chomsky, respeitado na área linguística, mas um rematado idiota político, chegando a afirmar que os Estados Unidos representam a maior ditadura do mundo, enquanto defende as tiranias assassinas de esquerda. O certo não é se respaldar em títulos acadêmicos, mas nos argumentos e nos fatos, algo que a esquerda nunca faz.
PS: Certa vez o jornalista Elio Gaspari também apelou para a tal “demofobia” para blindar o PT de críticas, como se estas fossem derivadas de um suposto ódio ao povo. Uma piada! Comentei o absurdo aqui.
Rodrigo Constantino