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Meta é ditadura em nome do povo, diz ex-aliado do olavismo
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Em uma "thread" no Twitter, Marlos Ápyus tenta explicar o que realmente está por trás das declarações golpistas da turma olavista. Há uma total descrença desse pessoal no povo e na democracia, e por isso desejam uma ditadura "esclarecida", em nome do povo, mas sem o povo participando de fato. E os Bolsonaro entrariam nesse esquema apenas como instrumentos. Eis seu alerta:

"Que essa turma quer uma ditadura, creio que vocês já perceberam. Então tentarei nessa thread explicar por que querem uma ditadura.

Eu já fui próximo deles. Escrevia em blogs com eles, participava de grupos de discussão com eles, sentei em mesas de bares com eles, e ouvi os argumentos deles antes de romper com eles. E foi por julgar inaceitável o que queriam que eu rompi com eles.

A coisa parte do desprezo pelo povo. O mesmo povo que, agora dizem, estaria querendo um novo AI-5 – não está, relaxem.

Entendem que, se depender do povo, o Congresso continuará lotado de corruptos. Que a Constituição de 1988, construída com a participação deste povo, rendeu um texto impraticável. Que só uma nova Constituição, escrita por um grupo seleto de "notáveis", salvará o Brasil.

Mas como fazer isso? Se você não doma o estamento burocrático, você acaba com ele para que, das ruínas, construa outro do zero. Por isso, mesmo no comando do estamento burocrático, eles se consideram "anti-establishment".

Por isso tentaram sabotar a reforma da Previdência. Se o Brasil quebra, "bastaria" jogar a culpa no Congresso e no STF, chamar o povo às ruas, e se eternizar no poder. Mas o Congresso conseguiu tocar a reforma – ainda bem.

Como obstáculo, entra também qualquer formador de opinião que possa mostrar as fraquezas deles. Notem que todos foram atacados: imprensa, professores, lideranças sindicais, artistas, intelectuais, a mera ideia de você ser uma pessoa estudada... Tudo isso os atrapalha.

Jair Bolsonaro mesmo se apresenta como um membro do baixo clero. É uma pessoa despreparada como eles precisavam. Os filhos são menos preparados ainda. Desta forma, recebem sem questionamentos todas as ideias sopradas nos ouvidos deles. Ora...

Antes dessa turma se aproximar deles, eram quatro parlamentares do baixo clero fazendo lobby para miliciano e bananeiro. Com a assessoria desses lunáticos, viraram presidente da República, senador, pretenso embaixador e vereador mais votado da antiga capital do país.

Já houve uma ridícula tentativa de golpe. Foi na greve dos caminhoneiros do ano passado, aquela que parou o Brasil por uma semana. O guru e os pupilos passaram aquela semana pregando um golpe militar. O guru fazia isso de forma explícita. O pupilo era mais dissimulado.

Numa segunda-feira, após um tweet de Jair Bolsonaro falando que um presidente patriota tiraria todo mundo da cadeia, aqueles lunáticos foram às ruas defender um golpe militar. Mas a adesão foi baixa. E Bolsonaro reclamou que "esticaram a corda".

A segunda tentativa frustrada foi o 26 de maio de 2019. No 15 de maio, a esquerda colocara muita gente na rua contra o governo. Falava-se em impeachment. Então se iniciou uma convocação para o 26 com fechamento do Congresso e STF na boca da militância...

...Quando o MBL rasgou o plano nas redes sociais, e Janaina Paschoal implorou para que as pessoas não comparecessem, mudaram a pauta para "defesa das reformas". Mas não era. Queriam um golpe, que aquela altura nem seria militar, pois estavam em guerra com os militares.

Agora, viram no fechamento do Congresso peruano, e na votação marcada pelo STF para amanhã sobre prisões em segunda instância, uma terceira janela de oportunidade. E estão soltando todos os dog-whistles possíveis para ver se o gado atende ao chamado.

O STF vai cometer esse absurdo. Quando cometer, vão novamente dizer que o establishment não presta, que só o fechamento do Congresso e do STF fará o Brasil uma dia se tornar uma "verdadeira democracia" – é como chamam em privado a ditadura que almejam.

O mercado financeiro entra nessa suspirando em leituras deturpadas da ditadura chilena, que matou muito mais do que a brasileira, mas abriu a economia.

Uma ideia que compartilharam em massa no início do ano consistia em convocar um "Conselho da República" que, lotado de "notáveis", teria mais poder do que a nossa Constituição. A citação ao AI-5 não deve ter sido por acaso: foi o que rolou em 1968.

Notei algo curioso no tweet sobre o AI-5: diz que, se Bolsonaro for contra, será atropelado por essa turba. Como deixei a entender mais acima, para essa turba, os Bolsonaros não jogam, são peças de um jogo. E das descartáveis.

Não acho que vão conseguir o que querem. Quando confirmei, na greve dos caminhoneiros, que saíam de casa achando que rolaria um golpe militar, desliguei meu computador e dormi oito raras horas de sono. Acordei, o sol brilhava, ninguém nem notou o que tentaram fazer. (E eles passaram a fingir que nunca pagaram aquele mico.)

Mas adoraria que não tentassem uma quarta, quinta ou sexta vez. Porque não dá para tratar como inócuo um grupo que já venceu uma eleição presidencial. Já passou da hora de quem de fato manda no país chamar os pais dessa gangue para uma conversa com adultos."

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