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Mudanças graduais
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Bolsonaro bem que tentou. Sua ideia era governar por meio de bancadas temáticas e pressão popular. Não dividiu ministérios com base em feudos partidários, não adotou o mensalão petista. E por falar no Diabo, vale lembrar que Lula chegou a confessar que, se Jesus fosse governar o Brasil, teria de fazer pacto com Judas.

A reforma previdenciária foi aprovada com economia de um trilhão de reais numa década. Grande vitória do governo! Aqueles que exigem mudanças éticas na política ficaram animados. Mas há dois detalhes: o Congresso tem senso de sobrevivência e sabia que era preciso preservar as galinhas dos ovos de ouro; e veio a pandemia, mudando todo o jogo político.

Duas características do bolsonarismo prejudicaram a situação: ele sempre se vendeu como um tanto messiânico, purista, revolucionário até, capaz de abandonar a velha política da noite para o dia; e ele sempre apostou no conflito permanente, nos ataques constantes aos “pilantras”, o que serviu para implodir pontes. A postura do presidente em meio à pandemia em nada ajudou, vale notar.

Diante desse novo cenário, Bolsonaro se viu mais isolado, e o discurso de impeachment ganhou alguma força. Para sobreviver, blindar-se do “tapetão” e garantir alguma governabilidade, o presidente teve de se curvar perante a realidade, e caiu no colo do centrão. Aqueles que demandavam “articulação” deveriam festejar.

A morte da velha política foi anunciada de forma muito prematura. O presidencialismo de coalizão será uma realidade enquanto tivermos uns 30 partidos no Congresso. É romantismo contar apenas com o altruísmo e o espírito público dos parlamentares. Eles foram eleitos e representam grupos de interesse. Não dá para ignorá-los e governar sozinho.

O que se espera é um mínimo de critério técnico e filtro ético nas escolhas dos indicados pelo tal centrão. O governo, justiça seja feita, chegou até aqui basicamente sem escândalo de corrupção, e assim deve continuar. É preciso ter uma base programática também, ou seja, ainda que se tolere alguma desidratação na agenda de reformas, ela deve seguir sua trajetória virtuosa e liberal, sob o comando de Paulo Guedes.

Política não é lugar para ingênuos ou sonhadores. É a arte do possível, onde o ótimo é inimigo do bom. Há que ser realista e pragmático. As coisas não vão mudar no salto quântico, e sim gradual e lentamente. A qualidade do Parlamento precisa melhorar também, e isso depende de uma reforma política, com voto distrital para aproximar representante do povo, e fim do financiamento público das campanhas, que favorece caciques estabelecidos.

A aproximação com o centrão é um mal necessário. E os opositores radicais são hipócritas: querem derrubar o presidente para colocar gente muito pior no lugar!

* Originalmente publicado pelo ND+

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