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Não, não era preciso ser adivinho para saber quem era Lula
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Um colega meu de bancada num programa de debates ficou irritado quando trouxe à tona suas palavras sobre Lula em 2002, já vitorioso. Ele destacava que Lula era alguém com "capacidade de liderança, autoridade, coragem, visão etc". Meu intuito era desmascarar a imagem cultivada há anos de total imparcialidade, de um JOR-NA-LIS-TA, como ele gosta de colocar, acima de ideologias, focado apenas em fatos e na ciência. "Como eu poderia saber que Lula seria um corrupto?", perguntou ele.

Fica, então, a pergunta: era preciso ser um adivinho para prever que o governo Lula seria uma tragédia? A "carta ao povo brasileiro" era razão suficiente para acreditar numa mudança radical de Lula e seu PT? Ou era ingenuidade, desejo de crença e viés, sim, ideológico de quem, no fundo, claramente simpatiza com a esquerda?

Creio ser importante voltar àquela época e ver o que outros analistas políticos diziam. Seria injusto julgar com o benefício do retrospecto, sem dúvida. Mas será que todos caíram na ladainha do "novo Lula"? Será que alguém imparcial de fato veria tantas qualidades nesse sujeito, mesmo naquela época?

Eu já era grandinho, e sempre detonei Lula e seu PT. Meu livro Estrela Cadente é de 2005 e escrito antes de estourar o mensalão, e o primeiro capítulo já versa sobre a bandeira ética totalmente esgarçada. O PT já tinha governado - e destruído - o Rio Grande do Sul. O PT e Lula eram aliados das Farc, defendiam o MST, a ditadura cubana, e jamais voltaram atrás em relação a tais bandeiras. Adivinho?

Mas não preciso ficar apenas na minha análise, o que poderia soar arrogante. Vamos, então, resgatar análises de três formadores de opinião naquele trágico 2002, que deu a vitória ao embusteiro demagogo de esquerda, e selou o destino terrível de nosso país pelos próximos anos.

Nesse texto, de março de 2002, Percival Puggina, um arquiteto, usa Dante para analisar Lula, e mostra como sua mentalidade era claramente revolucionária e comunista, o que era suficiente para antecipar o caos em que o país seria lançado. Eis um trecho:

As três primeiras frases são do senhor Ernesto Che Guevara. A última é de Carlos Marighella, líder da Aliança Libertadora Nacional, em seu conhecido e várias vezes traduzido Mini-manual do guerrilheiro urbano. Tornou-se indispensável reproduzi-las em vista das declarações de Lula, sobre a morte do prefeito de Santo André. Disse Lula (Correio do Povo, 16 de janeiro, página 2): “Ele (Celso Daniel) se encontrará com Marighella, Guevara, Paulo Freire, Henfil, Betinho, Chico Mendes, Toninho e os sem terra…”.

[...] Dize-me quem são tuas referências e eu te direi onde queres chegar (ou para onde queres me levar, se fores um líder político). As referências de Lula, pronunciadas numa circunstância em que a emoção o afastou, por instantes, dos zelos de candidato, deixam muito claras, para mim, as suas intenções. E seria absolutamente ingênuo supor irrelevante essa comunhão dos santos que ele escalou para acolher Celso Daniel na morada celeste. Não, isso não é irrelevante.

Nesse outro texto, de abril de 2002, Janer Cristaldo mostra a essência socialista do PT e de Lula, e diz que a única coisa que mudou foi a aceitação de corruptos pela sigla. Adivinho? Ou analista sem viés de esquerda? Eis um trecho:

1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo. Em 56, Kruschov denuncia os campos em seu famoso discurso no 20º Congresso dos PCUS. No mesmo ano, foi invadida a Hungria. O muro de Berlim data de 61. No entanto, até os anos 90, ilustres intelectuais, no Brasil e no planetinha, gabavam-se de pertencer ao partido e a ideologia que matou cem milhões de pessoa ao longo do século passado.

O PT nasce em 1980, sob a égide do socialismo. Em sua árvore genealógica estão o PCB, PC do B e as diversas siglas guerrilheiras que surgiram a partir dos 60, todas financiadas por Moscou, Pequim ou Havana.

[...] De fato, em algo Lula e o PT mudaram. Se não no essencial, pelo menos na superfície. “Lula defende Quércia”, diz a Folha de São Paulo. O PT, que denunciou as falcatruas do ex-governador paulista, agora por ele toma-se de amores. [...] Se antes defendia ditaduras, o PT defende hoje aqueles que denunciou como corruptos. De fato, o partido mudou.

Ou seja, além do viés ideológico socialista, já estava claro que o PT lulista flertaria com o fisiologismo corrupto também. Cristaldo não era um adivinho, mas um analista que enxergava a realidade petista, sem lentes rosadas que filtram pela ideologia.

E tem mais. Por fim, ele, claro, Olavo de Carvalho, ridicularizado por JOR-NA-LIS-TAS como meu colega, que se coloca acima de ideologias. Aqui nesse texto ele está apontando a ligação do PT e Lula com as Farc e guerrilhas comunistas, ainda em dezembro 2002, mesmo mês do artigo elogioso do meu colega sobre Lula:

Se informo que em dezembro de 2001 o sr. Luís Inácio Lula da Silva assinou um pacto de solidariedade com a narcoguerrilha colombiana, respondem-me que sou um sujeito raivoso e muito malvado. Se daquele dado extraio a conclusão logicamente incontornável de que o presidente eleito não poderá reprimir as atividades das Farc no Brasil sem romper o compromisso firmado e atrair contra si a ira de seus antigos aliados, aí então sou diagnosticado como um caso perdido de direitismo hidrófobo, satânico, genocida.

E essas respostas não vêm de analfabetos nem de meninos de doze anos. Vêm de pessoas adultas e diplomadas. Vêm da classe dita superior, dirigente, consciente e sabedora.

Que mais posso concluir daí senão que muitos componentes dessa classe já não sabem sequer distinguir entre um fato e uma opinião pessoal, muito menos entre uma análise lógica e a expressão de um sentimento? O nome dessa incapacidade é analfabetismo funcional

Pois bem: não era preciso ser um gênio, um adivinho ou ter uma bola de cristal para antecipar que o PT seria corrupto e ideológico, produzindo enorme estrago em nossa democracia e economia. Bastava não ser esquerdista! Mas claro: nossos JOR-NA-LIS-TAS não são esquerdistas. Esquerda, para eles, é só sinal de trânsito. Estão acima dessas disputas ideológicas, analisando apenas fatos com base na ciência.

E por isso que jamais conseguem escrever elogios a Jair Bolsonaro, muito menos coisas tão impactantes como destacar sua "capacidade de liderança, autoridade, coragem, visão etc".

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