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Deputado Jair Bolsonaro com seus filhos, antes da cerimônia de diplomação de Bolsonaro como presidente da república eleito. Brasília-DF, 10/12/2018
Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
Deputado Jair Bolsonaro com seus filhos, antes da cerimônia de diplomação de Bolsonaro como presidente da república eleito. Brasília-DF, 10/12/2018 Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE| Foto:

Em meio à crise no PSL, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que "o bem vencerá o mal", em referência às trocas de lideranças ligadas ao governo e ao partido no Congresso ocorridas na semana passada. Ao chegar a Tóquio, o presidente indicou que o cenário político poderá mudar durante sua ausência de dez dias para um périplo pela Ásia e pelo Oriente Médio. Ele também disse que houve um "bate-boca exacerbado" entre integrantes do seu partido, o PSL, mas que deixará a ferida cicatrizar naturalmente.

O "bem", segundo a ótica do presidente, de fato venceu. Eduardo Bolsonaro é o novo líder do PSL na Câmara, após reconhecimento pelo próprio delegado Waldir e nova lista apresentada, na batalha das listas.

“Já estarei à disposição do novo líder para de forma transparente passar para ele toda a liderança do PSL, queria agradecer aos parlamentares que confiaram nesse nosso projeto e dizer que não sou subordinado a nenhum governador e nenhum presidente, mas sim ao meu eleitor", disse Waldir em vídeo divulgado nas redes sociais. "Nós não rasgamos a Constituição ainda. A Constituição prevê que o Executivo não deve interferir no parlamento em nenhuma ação”, disse.

Como venho repetindo, nessa história toda há, além de muita baixaria, muito oportunismo, pouca nobreza e nenhum santo. Não dá para ignorar o fato de que o PSL, uma sigla de aluguel, virou um saco de gatos, ou mesmo de ratos, com todos de olho grande no caixa multimilionário do fundo partidário. São 100 milhões de motivos para briga!

A narrativa maniqueísta do presidente, portanto, não se sustenta. O bolsonarismo investe pesado nesse discurso infantil de "bons versus maus", de puristas que chegaram para depurar o sistema podre, mas a cada dia que passa essa narrativa só engana os muito ingênuos. A lista de "traidores" vai crescendo, como se gente que até ontem fosse parte do heróico grupo dos bons tivesse debandado por se revelar falsa. Esse discurso bobo não permite espaço para nuanças, e a política do mundo real é feita com muito mais cinza do que preto ou branco.

Bebbianno era um dos heróis, responsável por conseguir o partido para seu aliado, por incitar os caminhoneiros grevistas. Depois virou pária, traidor, vilão. O vice-presidente Mourão também foi alvo de "fogo amigo", pois estaria muito próximo da mídia e dos "progressistas". Outro traidor. Além de Alexandre Frota, que subia em tudo que é palanque com Bolsonaro, era defendido pelos bolsonaristas das críticas que liberais faziam sobre sua postura inaceitável, e agora saiu atirando nos ex-aliados. E ainda Santos Cruz, que é amigo do presidente há décadas, mas foi massacrado pelos bolsonaristas até cair do cargo, e hoje fala em "gangues de rua" para se referir a essa milícia virtual do bolsonarismo.

Os novos desafetos são, claro, delegado Waldir e Joice Hasselmann, que era a líder do governo no Congresso. Joice tem sido metralhada com muita baixaria e preconceito pela turma, mas não abaixa a cabeça. Nessa narrativa do presidente, seria parte, agora, do time dos vilões.

A deputada, que não é de se acovardar, comprou a briga e tem repetido que não surfou onda bolsonarista, que tem seus próprios votos, e que ninguém pode discordar do presidente ou seus filhos que é detonado por essa militância. Sua narrativa, porém, tem um buraco: ela segue poupando o próprio presidente. É como se seus filhos fizessem tudo isso sem o aval do pai, seu seu conhecimento prévio, sem qualquer permissão.

Fosse o caso, seria um pai fraco, frouxo mesmo. Mas claro que não é isso. Bolsonaro dá as cartas nessa família. Se Carlos e Eduardo agem da forma que agem, então é porque receberam o sinal verde do pai. Tanto que Carlos continua postando na conta oficial da Presidência, segundo o próprio confessou recentemente. O bolsonarismo é cria de Bolsonaro.

E a narrativa de "mito" que levou facada para salvar o Brasil pode emocionar um ou outro mais carente de um pai, mas não vai seduzir os moderados e independentes. Estes estão vendo as brigas promovidas pelo bolsonarismo com lentes mais realistas, sem dourar a pílula, e não apreciam o que veem. Querem explicações sobre gastos corporativos maiores, querem entender como tantos podem ser "traidores", o que demonstraria, no mínimo, incapacidade de escolha por parte do presidente, e querem saber porque novos líderes do MDB seriam mais confiáveis.

A aproximação de Bolsonaro e os caciques da "velha política" não ajuda em nada nessa narrativa de bons contra maus. Os mesmos que demonizam Rodrigo Maia estão dispostos a tolerar Fernando Bezerra Coelho em nome do pragmatismo? Os mesmos que abominam Joice hoje vão elogiar Kassab? E todos aqueles que caíram em cima de Frota, estão prontos para fazer juras de amor a Augusto Aras?

O Brasil precisa amadurecer no debate político. Ao insistir nesse jacobinismo radical e nesse tribalismo tosco, que separa o mundo entre os "bons" (aqueles que apoiam incondicionalmente o presidente) e os "maus" (todo o resto, dos "isentões" aos "vendidos" e "comunistas"), Bolsonaro ajuda a manter o debate no jardim de infância, palco fértil para o florescimento dos demagogos e populistas de plantão.

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