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Particularização e pragmatismo no enfrentamento racional da Covid-19
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Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal

O Brasil é mesmo o país dos contrários! Afinal, desde que os lusitanos nos descobriram quase ao acaso, sempre sofremos da grotesca demência verde-amarela da inversão de valores.

Aqui, nesse país patrimonialista e clientelista das elites políticas e econômicas, enquanto no resto do mundo há um foco e uma certa convergência política no ataque ao Covid-19, em meio à crise viral, tais elites e bur(R)ocratas estatais conseguiram jogar o país em mais uma vergonhosa e burlesca crise política, desviando o centro das preocupações nacionais daquilo que realmente importa e muito: a vida – saúde e economia – dos comuns e das empresas.

Minha resiliência em digitação vem esmorecendo, mas não canso de apontar que o enfrentamento ao Covid-19 no país traduz-se numa batalha política entre aqueles ditos 100% interessados na vida/saúde das pessoas versus outros que alertam e levam em consideração a lógica e as indissociáveis dimensões da mesma vida: saúde e economia.

O tribalismo político e social tupiniquim, expresso na questão da preocupação com vidas versus empregos, é o mesmo da batalha travada nas redes sociais, entre os puros humanistas coletivistas, com seus discursos do “fiquem em casa”, e os interesseiros individualistas, que supostamente só se preocupam com o retorno ao “novo normal” da atividade econômica e com a evitação do desemprego.

A verdade reportada por estudos científicos no Brasil demonstra que, pela crise econômica brasileira entre 2012 e 2017, um aumento da taxa média de desemprego de um ponto percentual se associou ao aumento de 0,50% na taxa de mortalidade nacional.

Cabe aqui ao egoísta que vos escreve enfatizar que as mortes ocorreram principalmente nas populações negras e mistas, mais carentes, em homens e indivíduos de 30 a 59 anos.

Ainda para aqueles adoradores do Estado, restou comprovado que as regiões com maiores investimentos em estruturas de saúde foram as que menos sofreram. Entretanto, nossos grandes homens públicos preferiram dar o circo dos estádios para o povo e/ou engordarem as suas já fartas contas particulares. Moral para as cucuias!

Bem, picos e mais picos, aqui no Rio Grande do Sul o vírus parece não ter circulado intensivamente e, em havendo um pico, acho que seria preferível imunizar os cidadãos agora a fazê-lo no auge do nosso inverno mais rigoroso. Além disso, com a estrutura de saúde que foi montada – e que está completamente subutilizada -, o Estado parece ter condições de suportar um eventual aumento dos casos de contaminação.

Mas os bons coletivistas aludem à “ciência”, referenciando modelos que foram construídos para circunstâncias e idiossincrasias inerentes aos países de clima temperado e suas respectivas características demográficas. Acredito que os quase dois meses de isolamento social drástico e a correspondente paralisação da atividade econômica num país de renda-média baixa como o nosso, considerando-se as evidências virais disponíveis, trarão consequências humanas e econômicas devastadoras.

Os custos psicológicos e econômicos, e o sofrimento pelo desemprego, serão muito maiores do que os gerados pelo Covid-19. Diariamente, já temos observado o fechamento de indústrias e empresas de serviços, o agravamento do desemprego no Estado e o consequente efeito dominó de sua propagação.

Não, eu não estou sendo egoísta, preocupado com meus interesses; perturba-me e eu gostaria de evitar consequências ruins para todos! Preocupo-me com o bem estar maior e com todos os trabalhadores informais e assalariados que estão sendo e serão pesadamente sacrificados pela paralisação econômica.

Claro que há instintivamente uma parte do nosso eu que se ofende com o nosso próprio pragmatismo. Contudo, mesmo assim, em razão do meu modo manual de pensamento reflexivo, não tenho dúvidas de que o número de afetados pela crise econômica, pela decadência dos sistemas de saúde e de assistência social, além da falta de serviços públicos, será muito maior do que em razão do vírus.

Claramente estamos diante de um dilema – com suas trocas compensatórias – complexo, sendo imperioso que se tomem decisões e iniciativas que produzam as melhores consequências para todo o conjunto social. Neste momento crítico para o país, é crucial que se aja com responsabilidade e pragmatismo, deixando-se de lado as emoções e as morais tribais e, especialmente, os dogmas partidários, a fim de pensar e focar no bem maior para a população brasileira.

Pensando para muito além do individual, justamente externando a lógica preocupação com os “outros gaúchos”, pragmaticamente, é que acredito que devamos retomar prontamente a atividade econômica, mesmo que parcialmente, e de forma ajustada e gradual, com o objetivo de salvar o maior número de vidas possível.

Isso mesmo! Como seres humanos e agraciados com a diferenciada capacidade de pensamento reflexivo, penso que especialmente nossas autoridades deveriam centrar e agir com “altruísmo responsável”, focando naquelas decisões que implicam naquilo que salvará mais vidas humanas. Sim, um maior número de vidas! Uma lástima que nos faltam atitudes, decisões e ações comprometidas com a integral vida humana. Falta mesmo vergonha na cara e mais pressão popular!

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