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Em entrevista ao Estadão, o empresário José Isaac Peres, controlador da Multiplan, dona de inúmeros shopping centers, disse que a Amazon é uma "gigante de papel", e esse foi o destaque da sua fala. Mas a entrevista toda é muito boa e, do meu ponto de vista, o que mais chama a atenção é sua visão sobre a rigidez da natureza humana, mesmo frente a tanta revolução tecnológica.

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Segundo Peres, o shopping center não vai acabar pois temos necessidade de contato humano, e "faltam nos aplicativos usados pelas lojas online a energia que existe nas lojas físicas". Claro que ele tem um viés aqui, um forte interesse em jogo, mas está certo, acredito. Como alguém que compra com frequência na Amazon Prime, e fica encantado com o produto chegando no dia seguinte na porta de casa, posso atestar que esse ambiente repleto de gente e lojas físicas ainda é insubstituível ou insuperável.

"Na minha visão, as pessoas vão ao shopping porque elas precisam de contato. Os shoppings, na verdade, substituem os antigos boulevards, as antigas praças, que não existem mais", diz o empresário. Além disso, no Brasil há a evidente questão da segurança. Mas esse aspecto do contato é crucial: a vida online é uma vida solitária demais, apesar das curtidas todas. Sobre isso, Peres buscou em Aristoteles fonte de inspiração:

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As pessoas gostam de ver o produto que compram, de experimentar. A compra no mundo digital é muito sem emoção. O comércio sempre foi uma grande fonte de emoção. Tanto é que as pessoas viajam para os principais centros, como Nova York, Paris, Londres, Roma, o circuito das estrelas, e vão às compras. Se as pessoas que viajam não pudessem comprar nada, acho que metade não viajaria. O que estou falando aqui é da natureza do ser humano, não fui eu quem disse isso, foi Aristóteles, 3 mil anos atrás: o homem é essencialmente um animal gregário, ele não vive sozinho. Mas as pessoas têm a ilusão de que, com o celular, elas têm 150 amigos ali, têm a sensação de que não estão sozinhas, porque elas conversam, veem. Mas, ao fim do dia, elas vão ver que estão em casa sozinhas. Estamos vivendo um fenômeno hoje que é o aumento da ansiedade e da depressão.

Todo avanço material é fantástico, e devemos isso ao capitalismo liberal. Mas isso não altera tanto assim a nossa essência, as nossas paixões e necessidades emocionais, os nossos medos e anseios. Peres explica: "As pessoas não entenderam que os nossos sentimentos primários, como medo, fome, uma série de outros, não mudaram com o passar do tempo. O que eu acho fantástico. O que nós criamos foi mais conforto, mais facilidade para as nossas vidas".

Em outra resposta, Peres disse algo que está na mensagem principal do livro Alone Together, de Sherry Turkle, que já resenhei e que recomendo:

Para acabar com o shopping, você tem de dizer que o prazer agora é estar sozinho. O maior espetáculo do shopping são as pessoas, não são as lojas. Se você for a um shopping fantástico e não tiver pessoas, você vai perder até o interesse em comprar. Nós temos essa energia que falta nos aplicativos tecnológicos. À noite, você vai dormir abraçada com o celular? O Steve Jobs (fundador da Apple e criador da iPhone) atirou no que viu e matou o que não viu. Num primeiro momento ele (que difundiu o smartphone) acabou com o maior fantasma da humanidade, que é a solidão. Com o celular, você não está sozinho. Mas, ao mesmo tempo, o smartphone isolou as pessoas. Hoje, jovens adolescentes jogam com outros jovens, mas ficam trancados no quarto e não saem de casa. Resultado: hoje, estamos vendo que nós não prescindimos do afeto. Quem vive sozinho tem um cachorro ou um gato. A gente precisa de afeto. O afeto você encontra num ambiente saudável, em contato com as pessoas, falando com elas. A tecnologia veio para transformar o mundo, porém com uma ressalva: o ser humano não mudou.

Nós somos seres vulneráveis, solitários e com medo da intimidade. As conexões digitais oferecem a ilusão de companhia, sem as demandas da amizade. As pessoas se tornam descartáveis. Todos “curtem” a “felicidade” alheia. A autenticidade é substituída por avatares, por perfis irreais que criamos para evitar nossas imperfeições reais. A tensão presente no encontro pessoal dá lugar à blindagem da tela do computador ou à garantia de que um robô jamais irá nos trair. Pessoas são arriscadas; robôs ou amigos virtuais são seguros. Mas esta é uma falsa segurança, que existe apenas com o preço de anular qualquer relação realmente humana. E como seres humanos, nós desejamos essa relação.

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Na última resposta, Peres se mostra um entusiasta do avanço tecnológico, entende as vantagens disso para nossa qualidade de vida, mas conclui com uma mensagem realista e bastante alinhada ao pensamento conservador:

Eu defendo a tecnologia tremendamente. Quando começou a revolução tecnológica na medicina, eu sabia que ela daria um salto milenar. Hoje temos experimentos que indicam que já nasceu a criança que vai viver 180 anos. Parece surreal. Dentro de cinco anos, as máquinas 3D farão órgãos humanos com o seu próprio material genético. Você não vai ter mais transplante: vai trocar um coração velho por um coração novo, um rim fatigado por um rim novo. Esse é o mundo que se propõe a dar mais tempo de vida com qualidade para as pessoas. Porém os humanos não vão deixar de ser humanos.

E não vão mesmo. Ainda bem!