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Operação Escudo para enfrentamento ao crime organizado na Baixada Santista deve durar ao menos 30 dias, diz governador.
Operação Escudo para enfrentamento ao crime organizado na Baixada Santista deve durar ao menos 30 dias, diz governador.| Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O avanço da criminalidade na Baixada Santista, em São Paulo, coloca a segurança pública nacional em alerta. Próximo daquele que é considerado pelo próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o maior ponto para tráfico internacional de drogas do planeta, o perímetro ao redor da área portuária de Santos fomenta a disputa por territórios e intensifica a presença de criminosos da maior facção brasileira e que desponta entre as cinco maiores do mundo, o Primeiro Comando da Capital (PCC). A avaliação vem de autoridades de dentro da segurança pública.

Os problemas mais recentes eclodiram com o assassinato do policial militar que estava em serviço na última semana. O soldado Patrick Reis, de 30 anos, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foi baleado e não resistiu. Em novos confrontos, 14 suspeitos perderam a vida durante a Operação Escudo, que começou no domingo (30) e, segundo o governador paulista, deve durar pelo menos 30 dias. O total de mortes foi atualizada no fim da tarde desta terça (1º) pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP).

O destemor dos criminosos é facilmente identificado por imagens divulgadas em redes sociais nas quais aparecem ostentando armas de diferentes calibres, ao andar tranquilamente pelas ruas de cidades como Guarujá, Santos e São Vicente, em qualquer horário do dia.

Além do porto, a região composta por nove municípios é cercada por morros e mangues, locais que dificultam o acesso da polícia e facilitam a movimentação dos bandidos.

Nestes pontos, a guerra está lançada pela consolidação ou pela disputa de território. Além dos criminosos de grupos rivais, para alguns, sobretudo os que estão subindo na escala hierárquica mais recente, a polícia também é um alvo a ser combatido.

Na segunda-feira (31), um homem se entregou à polícia e foi apontado pela Secretaria de Segurança Pública como o assassino do policial. O suspeito nega. A polícia considera que o rapaz pode ser um dos olheiros do PCC naquela área e aparece como um possível líder da facção que domina o tráfico de drogas no entorno. O secretário paulista de Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse na segunda-feira que a confirmação sobre o autor do disparo que matou o PM foi feita por provas testemunhais dos outros indivíduos presos.

“A gente não deseja o confronto de jeito nenhum. Tanto é que tivemos dez prisões. Aqueles que resolveram se entregar à polícia foram presos. Não houve hostilidade. Não houve excesso. Houve uma atuação profissional”, afirmou o governador durante coletiva de imprensa, ao ser questionado se teria havido força excessiva dos policiais como forma de represália.

A segurança pública paulista sabe que a ação policial trará “efeitos colaterais”. Nesta terça, houve uma nova investida de criminosos. Uma policial militar, de 34 anos, foi atacada pelas costas por criminosos, em Santos. “Ela foi atingida por dois disparos de arma de fogo enquanto realizava patrulhamento preventivo no bairro do Campo Grande”, afirmou o governo paulista. A policial está internada, mas não há detalhes sobre o seu quadro de saúde.

"Estado não vai recuar", diz secretário de Segurança Pública de SP

O secretário Guilherme Derrite disse, durante entrevistas no início desta semana, que havia uma operação em curso naquela região, justamente por se notar o avanço da criminalidade, e que o Estado não vai recuar. “A gente está enfrentando o tráfico de drogas e o crime organizado e temos que ter consciência disso”, alertou Derrite.

O promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) Lincoln Gakiya, uma das maiores referências em investigação ao PCC, tem afirmado que, para desmantelar grupos criminosos, como os que se instalaram na Baixada Santista, e mais especificamente o PCC, é imprescindível seguir, rastrear e localizar o dinheiro das organizações. O promotor alertou que a região é extremamente relevante às facções que se utilizam do porto para dispensar drogas para todos os continentes e, em especial, à Europa, mas que também estão de olho e dominam o varejo do consumo.

O varejo está no mercado interno, bem ao lado da Baixada Santista. Em paralelo à ação em curso no litoral de São Paulo, a PM tem deflagrado operações na região da cracolândia. Para as autoridades em segurança, uma situação está diretamente ligada à outra, já que os criminosos instalados na Baixada Santista seriam os mesmos a fornecer drogas ao grande centro consumidor paulistano.

Para o secretário de Segurança Pública de São Paulo, a Baixada Santista é “uma zona deflagrada de confronto”. “O que a gente promete para a população é não baixar a guarda, defender a sociedade e combater o crime”, considerou o secretário.

Apesar da dominação quase que plena do PCC na região, outros grupos menores tentam ganhar espaço, gerando confrontos armados entre criminosos e terror à população na guerra do tráfico. Nas redes sociais, um grupo que se intitula como Bonde faz exibições públicas com armas e em tom ameaçador.

Desafiar o Estado intensifica perdas ao crime organizado

Segundo investigações desenvolvidas nos últimos anos pela Polícia Federal (PF), não é "vantajoso" à facção enfrentar o Estado assassinando profissionais da segurança pública. Em diferentes oportunidades nas quais o bando avançou sobre a segurança pública, a sigla perdeu dinheiro, mercado e viu parte dos principais líderes presos.

A PF lembra que foi assim em 2003, quando o juiz Antônio José Machado Dias foi assassinado em São Paulo a mando do PCC. Além de ações ostensivas contra o bando e prisões de nomes importantes para o grupo criminoso, em 2006 o governo federal inaugurou o primeiro de uma série de cinco presídios federais de segurança máxima para onde os bandidos passaram a ser levados.

Anos depois ocorreram mortes de policiais penais lotados nessas unidades prisionais: um em Mossoró (RN), em 2015, e dois em Cascavel (PR), em 2015 e 2016, nas imediações da Penitenciária Federal de Catanduvas.

A partir destas ações, os detentos ficaram sem visitas íntimas com contato físico. Desde 2017, as visitas são feitas exclusivamente por parlatório ou videoconferência. Isso porque, nas investigações da morte dos policiais penais, a PF identificou que as determinações para os assassinatos foram dadas por faccionados do PCC que estavam nesses presídios, a partir de encomenda durante as visitas.

Na análise das forças de segurança, ficou extremamente nocivo e caro enfrentar o Estado com mortes e o assassinato do PM em São Paulo poderia ser analisado como uma espécie de "euforia" de novos líderes que vêm sendo formados pelo crime organizado e que estão ascendendo na facção.

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