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Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) vivem dilema por apoio na capital paulista.
Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) podem declarar apoio a candidatos distintos nas eleições 2024 no estado de São Paulo.| Foto: Alan Santos/Presidência da República

Apesar da declaração recente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de que "combinou" com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o apoio aos mesmos candidatos no estado para 2024, isso pode não se confirmar em muitas cidades. O PL e o Republicanos devem ter candidaturas próprias nos principais municípios paulistas, condição que pode fazer a dupla - grande angariadora de votos - divergir nas preferências. O maior entrave de apoio para Bolsonaro e Tarcísio segue sendo na capital paulista.

A divergência pode se manifestar também no litoral, interior e Região Metropolitana do estado de São Paulo, locais que contam com pré-candidatos dos dois partidos.

Em Guarulhos, segundo município mais populoso do estado, Bolsonaro manifestou a vontade de apoiar o pré-candidato do partido, o vereador Lucas Sanches (PL), enquanto Tarcísio deve apoiar o líder de governo na Assembleia Legislativa (Alesp), o deputado estadual Jorge Wilson (Republicanos).

No litoral sul, Santos também vive um impasse para os padrinhos políticos. O prefeito da cidade, Rogério Santos (Republicanos), se filiou ao partido do governador no último dia 28 na esperança de contar com o apoio de Tarcísio para a reeleição. No entanto, na semana passada, Bolsonaro participou de um evento no município junto com a deputada federal Rosana Valle (PL) e que apoiará a parlamentar na disputa pela prefeitura.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, refutou a possibilidade de que Tarcísio e Bolsonaro possam ir para caminhos distintos nas eleições 2024 no estado de São Paulo. “Bolsonaro declarou que os dois apoiarão os mesmos candidatos”, disse ele, à reportagem da Gazeta do Povo. Sobre o apoio na capital paulista, o presidente do PL não se comprometeu com quem a dupla apoiará, limitando-se a dizer que “não vão se dividir”. Por fim, perguntado sobre o peso do apoio de Bolsonaro e Tarcísio, ele afirmou que Bolsonaro tem mais importância de apoio do que o governador. Também procurado, o Republicanos não respondeu às perguntas da reportagem.

Na capital paulista, Bolsonaro quer apoiar Salles e Tarcísio prefere Nunes

A principal capital do país também vive o dilema de apoio entre o ex-presidente e seu ex-ministro da Infraestrutura. Bolsonaro já declarou que quer apoiar o deputado federal Ricardo Salles (PL) na disputa, enquanto Tarcísio tem intensificado compromissos ao lado de Ricardo Nunes (MDB) e deu sinais que deve apoiá-lo.

Segundo apuração da Gazeta do Povo, Tarcísio teria deixado claro que não apoiará Salles para a prefeitura de São Paulo. O ex-ministro do Meio Ambiente chegou a atacar o governador durante as discussões da reforma tributária. “Eu posso ter pavio curto, mas sou leal ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Tem gente travestida de direita, mas faz média com a esquerda. É muito mais fácil fazer ponte, estrada e rodovia do que combater o campo ideológico da esquerda nos ministérios do Meio Ambiente e da Educação”, disse Salles à época.

Do outro lado, Bolsonaro defende candidatura própria e disse que não apoiaria Nunes no primeiro turno. Tarcísio deixou claro que não apoiará Salles e Bolsonaro não apoiará Nunes (pelo menos não no primeiro turno). Isso fez com que alguns nomes surgissem como alternativa, como o do deputado federal Celso Russomano (Republicanos), que teve boa relação com Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Russomano e o Republicanos ainda não decidiram sobre a candidatura. Outro nome ventilado foi o do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. Filiado ao PL, ele possui boa relação com Bolsonaro e desfruta da confiança do governador paulista.

Bolsonaro elogia Tarcísio como gestor, mas critica atuação política do governador


Na última quinta-feira (16), o ex-presidente comentou como a relação com Tarcísio em entrevista à rádio do jornal Zero Hora. “Eu não mando no Tarcísio. Ele é um baita de um gestor. Politicamente dá suas escorregadas. Eu jamais faria certas coisas que ele faz com a esquerda“, afirmou Bolsonaro. O ex-presidente se referia a uma foto tirada durante as negociações da reforma tributária, em julho, em que o governador paulista aparece sorrindo ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Eu não tiraria (a foto). Está certo, eu sou mais radical. Eu não vou (tirar foto) porque o que eu tenho a ganhar com o Haddad, meu Deus do céu? O que eu tenho a ganhar com o pior prefeito de São Paulo? Nada. Eu, por exemplo, fiz a minha parte e tentei derrubar a reforma tributária no Senado”, disse Bolsonaro.

Analistas políticos afirmam que a divisão de apoio pode favorecer a esquerda

Para o cientista político Rui Tavares Maluf, é normal que Bolsonaro e Tarcísio apoiem candidatos diferentes. “Como os partidos políticos são muito fragmentados no Brasil e eles estão em partidos distintos, até podemos afirmar que é normal. O governador não parece desejar ser visto como mera expressão das conveniências políticas de Bolsonaro e, além disso, Tarcísio jamais foi um bolsonarista, ou ao menos não de primeira hora. Tem um perfil mais moderado”, analisa.

Maluf aponta que cada um tem o seu ponto forte como padrinho político. “Bolsonaro tem mais liderança popular e junto a um segmento mais ideologizado da direita. Tarcísio tem o cargo, a competência política de seu secretário de Governo, Gilberto Kassab, e as emendas parlamentares”.

O cientista político reforça que os apoios estarão mais sólidos perto da campanha. “Dependerá de como, ao longo dos próximos meses, as pesquisas com estes nomes apontarem a receptividade maior ou menor do eleitorado aos discursos e propostas de cada um. Bolsonaro e Tarcísio poderão estar juntos a depender da evolução de seus candidatos. Isto é caso um se mostre bem mais viável do que outro”.

Cientista política e professora da Escola Superior de Publicidade e Marketing (ESPM), Denilde Holzhacker afirma que quem ganha com a divisão da direita em São Paulo é o pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos. “O Boulos vai ter mais chances de ganhar, porque os votos do Tarcísio e do Bolsonaro são muito próximos. De um lado, Nunes e Salles, e de outro lado, o Boulos. Tem dois aspectos: o Boulos ganha porque divide mais à direita; por outro lado, ele tem que responder a dois candidatos. Vai sofrer mais pressão”, diz a professora.

Holzhacker evidencia o peso do apoio do ex-presidente. “Bolsonaro tem um forte peso de importância. Por isso, Nunes está buscando o Bolsonaro. Ainda é um forte apoio. O Tarcísio deve estar pensando em construir sua base própria e conseguir ser mais influente”.

A professora reconhece que deve ter uma fragmentação de apoio. “É possível que tenha uma divisão entre os dois. Especialmente porque o Tarcísio indica apoiar o Nunes, pensando na dobradinha entre a Prefeitura e Governo do Estado. O Bolsonaro está pensando numa outra lógica, que é como continuar mantendo uma base da direita”, afirma.

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