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Cassiano Tete Teodoro, piloto do helicóptero que desapareceu no Litoral Norte de SP, perdeu licença de voo em 2021.
Cassiano Tete Teodoro, piloto do helicóptero que desapareceu no Litoral Norte de SP, perdeu licença de voo em 2021.| Foto: Reprodução / Redes Sociais / Cassiano Tete Teodoro

O Ministério Público Federal (MPF) emitiu, em 2022, uma recomendação para que a aeronave que desapareceu no litoral norte de São Paulo não fosse mais utilizada em serviços de táxi aéreo. O helicóptero modelo Robinson R44 de prefixo PR-HDB decolou do Campo de Marte no último domingo (31) e tinha como destino Ilhabela, mas perdeu contato com o heliponto por volta das 15h. Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o helicóptero estava com operação negada para este tipo de transporte de passageiros.

Na recomendação, a procuradora Karen Louise Jeanette Kahn aponta que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) chegou a abrir uma série de autos de infração contra a Companhia Brasileira de Aviação e Investimentos LTDA (CBA), empresa que segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) vinha operando o helicóptero. Cassiano Tete Teodoro, piloto do helicóptero que desapareceu antes de pousar em Ilhabela, é sócio da CBA. No Registro Aeronáutico Brasileiro, o helicóptero desaparecido aparece como sendo de propriedade da empresa RGI Locações LTDA e de Izaura Tete Teodoro, mãe de Cassiano.

Piloto tinha histórico de "insurgência" contra fiscalizações da Anac

De acordo com a recomendação do MPF, Teodoro teve sua licença e certificados de habilitação técnica para pilotar cassados em 2021 após um processo interno da Anac. Neste processo, detalhou a procuradora, teria ficado comprovada a “insurgência” do piloto contra as fiscalizações realizadas pela agência nacional.

Além de divulgar propaganda de serviços aéreos não autorizados, o MPF aponta que Teodoro prestou informações inexatas, como a adulteração de planos voo, “dentre outros fatos hábeis a demonstrar possível falta de comprometimento do sócio e das empresas em si, no atendimento às regras de aviação civil, em especial àquelas relacionadas à segurança operacional”.

A procuradora do MPF também reforça que nem a RGI Locações nem a CBA constam do rol de empresas habilitadas na Anac para a realização de táxi aéreo, e que por isso tais operações, quando realizadas, eram consideradas irregulares e clandestinas. A recomendação é expressa ao afirmar que seu objetivo é que “não haja empresas aéreas envolvidas que, de boa ou de má fé, possam seguir prestando serviços de intermediação às empresas sob investigação”.

Sobre Cassiano Teodoro, a procuradora afirma que “em nome de tais empresas ou em nome (ou codinome) próprio, vinha ou segue ainda operando serviços de táxi aéreo ou panorâmicos, de forma desautorizada e ilegal, colocando em risco, não apenas o espaço aéreo, como também, a integridade física de consumidores de tais serviços, além da integridade e segurança dos próprios agentes fiscalizadores da Anac”.

Um desses voos irregulares teria acontecido em janeiro de 2020. Naquela ocasião, Cassiano Teodoro, que nas redes sociais também é conhecido como “Guilherme”, fez um pouso de emergência no topo de um prédio na Avenida Brigadeiro Faria Lima. O helicóptero que ele pilotava era o mesmo que desapareceu no último domingo.

Não houve feridos no incidente, e durante as investigações conduzidas pelo Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), a Anac entrou em cena para apurar indícios de prestação irregular de serviços de táxi aéreo - naquele ano Teodoro já não possuía autorização legal para realizar esse tipo de operação aérea.

Helicóptero Robinson R44, modelo semelhante ao que desapareceu no Litoral Norte de São Paulo.
Helicóptero Robinson R44, modelo semelhante ao que desapareceu no Litoral Norte de São Paulo.| D. Miller / Creative Commons

Piloto conseguiu nova licença dois anos após a cassação

À Gazeta do Povo, a Anac confirmou que graves condutas infracionais cometidas por Teodoro, como "evasão de fiscalização, fraudes em planos de voos e práticas envolvendo transporte aéreo clandestino", levaram à cassação sumária das licenças do piloto. Ele recorreu da cassação, mas teve seu pedido de restituição negado.

A agência também confirmou à reportagem que a licença de Cassiano Teodoro foi renovada em outubro de 2023, "após observar prazo máximo legal para a penalidade administrativa de cassação, que é dois anos". O piloto retornou ao sistema de aviação civil ao obter nova licença com habilitação para Piloto Privado de Helicóptero (PPH), mas ainda de acordo com a Anac esta nova licença "não dá autorização para realização de voos comerciais de passageiros".

Empresas relacionadas ao helicóptero desaparecido não têm autorização para serviços de táxi aéreo

A aeronave desaparecida vinha sendo operada pela CBA, que tem como sócios Cassiano, sua mãe Izaura, e seu pai, José Teodoro Sobrinho. A recomendação do MPF destaca que tanto a CBA quanto a RGI Locações “não possuem certificação ou autorização para exploração de serviços de táxi aéreo ou de voo panorâmicos”.

O helicóptero está registrado para execução de serviços aéreos privados. O certificado de verificação de aeronavegabilidade, que comprova que as manutenções estão em dia, tem validade até junho de 2024. Mas, mesmo com essa classificação, o helicóptero aparece com uma determinação expressa de “operação negada para táxi aéreo”.

A reportagem tentou contato com a RGI Locações LTDA e com a CBA e Investimentos LTDA, mas não obteve retorno nas ligações. O espaço segue aberto para manifestações.

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