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A 1.ª Jornada Jovem promovida pela Prefeitura de Curitiba – neste final de semana – foi pensada num modelo novo. Teve inscrições via internet, confirmou seleção de 400 participantes entre 15 e 29 anos e adotou o formato fórum de propostas afirmativas. Mas transcorreu à moda antiga, culminando em camisetas queimadas, pedrada, piquete na porta do auditório da Fesp e ação da Guarda Municipal e Polícia Militar. As equipes de segurança pública foram acionadas para conter um grupo de 20 estudantes que aproveitou a deixa do encontro para reivindicar passagem gratuita no transporte coletivo.

De acordo com matéria da Gazeta do Povo desta terça-feira, os atritos começaram na sexta-feira à noite. O prefeito Beto Richa fazia sua fala no evento quando foi interrompido por uma dezena de jovens do Movimento Passe Livre (MPL), até então despercebidos na platéia talhada de representantes de 150 instituições, segundo a organização. Uma musiquinha irreverente – bem ao gosto da juventude em qualquer tempo e lugar - reivindicou ônibus de graça para estudantes, fazendo alusão ao filho do prefeito, que não precisaria pegar coletivo para chegar à escola. Os rebeldes dizem que foram aplaudidos. Os organizadores garantem que houve vaia. Richa, pelo que consta no site da PMC, respondeu às críticas apontando os avanços na redução das tarifas e que o município fornece meio passe para 22 mil estudantes. O assunto parecia encerrado. No sábado, deu para saber que não.

Depois do almoço, ninguém pestanejou – apesar do calor – pois os manifestantes continuaram tentando colocar em pauta o passe livre, abordando as rodinhas espalhadas no pátio. Daí em diante, as versões sobre o que aconteceu desafiam os exercícios de lógica. A "boca-de-urna" em plena sesta teria irritado a organização – que alegou não ver motivos para mudar a pauta do encontro e decidiu descredenciar a turma do contra, indicando a porta da rua. Para ajudar, um grupo de punks tentou se inscrever na portaria, não conseguiu, o que foi entendido como gesto discriminatório, apesar do evento ter começado na sexta-feira à noite.

O termômetro, claro, subiu a índices senegaleses dentro e fora do auditório. Os sinais da discórdia estavam lá. A agente da Guarda Municipal mostrou para a reportagem a camiseta queimada – versão anos 2000 dos sutiãs em brasa da década de 60 – num canto da rampa por onde dez jovens se viram convidados a seguir até chegar à Rua Doutor Faivre. Eles garantem que desceram arrastados. Passada a roleta, encontraram duas viaturas da Polícia Militar. Era perto de 14 horas. Os expulsos – já solidários com os punks – passaram a somar cerca de 20 pessoas. Em coro, garantem ter sido coagidos pelos policiais, quatro no total. Com todos falando ao mesmo tempo deu para ouvir frases como "me apontaram as algemas", "mostraram armas", "mandaram a gente levantar as mãos e se encostar no muro" e "eu me neguei a obedecer". No Boletim de Ocorrência da PM consta que os policiais foram chamados via 190, porque havia briga entre os próprios estudantes. E que o único procedimento dos agentes foi orientar o grupo.

Duas adolescentes alegam agressão física e afirmam que vão entrar na Justiça. Perguntadas "como", deram um chacoalhão no repórter, para que entendesse o tratamento recebido. Mas pelo que tudo indica o encontro com a PM teve mais fumaça do que fogo. A mera presença das viaturas teria sido o estopim para que punks, turma do passe livre e universitários com câmera na mão decidissem que ainda era cedo para aquela tarde de sábado acabar. "Às 17 horas, faltando uma hora para encerrar o fórum, mais um protesto foi orquestrado. Não adiantou a saída ser transferida para a Rua General Carneiro: teve fogo nas camisetas dadas pela prefeitura e fumaça de sinalizadores usados em campo de futebol. Tudo filmado.

A secundarista Gabriela Teles – presidente da União Curitibana de Estudantes Secundaristas (UCEs) - acusa a cúpula da 1.ª Jornada Jovem de não ter convidado o Movimento Estudantil para participar. Daí o pé-de-guerra. "Desse encontro vai sair o fórum de estudantes. Mas nossos projetos não vão estar lá. Isso não é democrático. Eles querem cooptar jovens para os programas deles", acusa. Exaltada, mostrava o cordão pendurado no pescoço, de onde sua credencial teria sido arrancada à força. Chamava o organizador, Rodrigo Fornos, de burguês, entre outras palavras de ordem. Foi atropelada em sua indignação a viva voz por histórias das mais diversas naturezas – a do colega que se credenciou dentro do prazo e desceu a rampa na marra. E dos que não se credenciaram, mas desaprovam essa metodologia empresarial num debate público. Um fórum muito particular se formou na Dr. Faivre. Sem lanche nem ônibus fretado para voltar para casa. Por ironia, o lema da jornada é Transformando Sonhos em Atitudes. Lá dentro, o coordenador do programa, Rodrigo Fornos, 33 anos, assessor do prefeito Beto Richa e egresso do governo Fernando Henrique Cardoso, respondeu a todas as acusações levantadas pela turma lá de fora. Confirmou o descontentamento geral com os que queriam mudar a dinâmica do fórum e fez sua defesa: garante que abriu uma exceção para o pessoal do Passe Livre, mesmo sem ter passado pela seleção, pois o objetivo era alcançar representatividade. "Como houve incitação, decidi descredenciar a Gabriela", diz. "O fórum é apreciativo. Tem um método. Estamos aqui para discutir qual o sonho da juventude de Curitiba. Foram três meses de trabalho em cima dessa idéia. A ação deles gerou tumulto. Não somou nada", posiciona-se.

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