• Carregando...
Com a falta de água em Antonina, moradores da cidade fazem fila em caminhão-pipa para encher baldes. Abastecimento também foi comprometido em Paranaguá | Walter Alves/Gazeta do Povo
Com a falta de água em Antonina, moradores da cidade fazem fila em caminhão-pipa para encher baldes. Abastecimento também foi comprometido em Paranaguá| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Drama

Histórias que se entrelaçam pela tragédia

No abrigo que a prefeitura de Paranaguá improvisou para receber os desabrigados, histórias de perdas e incertezas são ouvidas a cada passo dado no corredor. "De repente, tudo desabou do morro e eu vi a casa do vizinho desaparecer. Eu olhava em volta e tudo tremia, o chão, as árvores. Então, corri com a minha filha para o meio do mato", relata Alcione Gomes dos Santos, que morava em Floresta, localidade de Morretes. Ele e mais 12 pessoas se refugiaram na mata, onde passaram a noite, até conseguir ajuda.

Já Eliane Alves Batista, também de Floresta, só se deu conta do que acontecia quando já era tarde demais para fugir. "Minha casa foi invadida pela lama. Fiquei com lama até o pescoço." Os três filhos, de 4, 10 e 13 anos, foram salvos graças à ajuda dos vizinhos. "Minha vizinha estava em cima de um tronco de árvore e jogou uma boia para a minha caçula", conta.

Agora, o drama maior dessas pessoas é a incerteza do futuro. "Eu cuidava de uma plantação e foi tudo destruído. Cheguei ao abrigo só com a roupa enlameada no corpo. Agora, não tenho trabalho, não tenho para onde ir, não sei se vamos conseguir voltar para casa. Não sei nem se ainda tenho casa", desabafa Cleide Rodrigues, também moradora de Floresta.

Ajuda

A população atingida pela chuva precisa, com urgência, de doações de alimentos não perecíveis e de consumo imediato, água mineral, roupas, colchões, cobertores e material de higiene. Confira os pontos de doação na capital:

- Supermercados das redes Big, Mercadorama e Condor.

- Fundação de Ação Social, na Rua Eduardo Sprada, 4.520, Campo Comprido.

- Pontos de coleta do Provopar.

- Postos do Corpo de Bombeiros.

- Administrações regionais da prefeitura e sede central da prefeitura, no Centro Cívico.

- Cruz Vermelha, na Avenida Vicente Machado, 1.261, Batel.

- O barracão da Defesa Civil, na Rua Sergipe, 1.712, Vila Guaíra, está recebendo a doação de colchões.

- O Shopping São José colocou em seu site de compras coletivas (http://compra.shoppingsaojose.com.br) um "vale-ajuda" de R$ 10. O valor ar­­reca­­dado será revertido em cestas básicas.

Mais informações, com a Defesa Civil Estadual, pelo telefone (41) 3350-2607.

Já pssa de mil o número de pessoas desabrigadas, desalojadas ou que tiveram de deixar suas casas preventivamente em Antonina, no litoral do estado. Desde a madrugada de ontem, integrantes da Defesa Civil, da Polícia Militar e funcionários da prefeitura começaram a retirar moradores dos bairros Graciosa 1, Graciosa 2 e Portinho. Se­­gundo o coordenador do Cen­tro de Apoio Científico em Desas­tres da Universidade Federal do Paraná (Cenacid), Renato Lima, uma fenda no morro próximo a esses bairros oferecia riscos à comunidade. Técnicos do Cenacid e da Mine­ropar informaram que, caso volte a chover forte, há risco de novos desabamentos na região.A família de Joelma Martins Dias e André Meira Dias, que mora no bairro Portinho, começou a deixar ontem à noite o local. Eles carregavam eletrodomésticos e roupas no automóvel. André Dias, no entanto, se recusou a deixar o local. "Vou ficar de noite para cuidar da casa. Saio amanhã [hoje]", disse. Os policiais militares permaneceram no bairro para evitar saques.

Moradores da Rua Teófilo Gomes deixaram suas casas na madrugada de ontem e no final da manhã voltaram para buscar móveis e eletrodomésticos. Jéssica Daiane Dutra, uma das moradoras que deixou o bairro, foi para a casa da mãe, Jucélia, perto da Ponta da Pita. Júcelia abrigou outras 13 pessoas e está preocupada com os mantimentos. "Na casa a gente arruma espaço, o problema é ter comida para todo mundo", disse. Falta água e leite; verduras e carne já começam a faltar nos estabelecimentos consultados pela reportagem.

Outros moradores foram abrigados na Escola Municipal Gil Feres, onde até o final da tarde de ontem havia 60 pessoas. Segundo a coordenadora da escola, Lu­­ciclélia Lopes, o abrigo poderia receber até 200 pessoas. As aulas estão interrompidas pelo menos até quinta-feira. A escola utilizou a merenda escolar para preparar almoço.

Caminhões com água mineral, materiais de limpeza e higiene e alimentos chegaram durante todo o dia de ontem à Estação Ferroviária da cidade. As doações serão encaminhadas para quem está abrigado nos colégios. A cidade recebeu também cerca de 5 mil frascos de hipoclorito de sódio para desinfecção de água. No final da tarde de ontem, um caminhão-pipa enviado pela Sanepar distribuiu água na saída de Antonina para Morretes.

Somente os funcionários das secretarias de Saúde e da área de limpeza continuam na rotina.

Parte do comércio de An­­tonina, como restaurantes, também foi afetada pela falta de água, cujo abastecimento foi restabelecido somente em alguns pontos da cidade. O Hospital Dr. Sílvio Bittencourt Linhares, cuja sede mudou para um hospital particular, já que está sendo reconstruído, opera normalmente, mas médicos que residem em Curitiba tiveram de ser transportados para a cidade em um helicóptero da Defesa Civil.

Bancos

Em Morretes, parte do comércio já foi restabelecido e também já há água e telefone. O problema são as agências bancárias – as quatro da cidade estavam fechadas ontem, sem previsão para reabrir. A lama e a água sujaram as agências e também danificaram os caixas eletrônicos. A gerente do Banco do Brasil, Eliane Mattoso, disse que toda a rede elétrica do banco terá de ser trocada. Técnicos do banco estão na cidade para consertar os caixas, mas o abastecimento depende dos carros-forte conseguirem chegar à região. Com isso, a fila da única lotérica da cidade alcançou o final da rua, com pessoas que tentavam pagar as contas ou retirar dinheiro, já que o sistema de cartões de crédito e débito está instável. Diferentemente de Antonina, não há falta de água ou mantimentos até o momento. O abrigo no Colégio Estadual Rocha Pombo está com cerca de 15 pessoas, segundo o prefeito Amilton de Paula, mas receberá mais moradores da localidade rural Morro Alto, mas ainda não se sabe estimar quantas pessoas, já que muitas irão para casa de parentes.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]