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Casa destruída em Antonina: áreas em que construções oferecem risco não estão mapeadas no estado | Walter Alves/Gazeta do Povo
Casa destruída em Antonina: áreas em que construções oferecem risco não estão mapeadas no estado| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Contagem

Litoral e interior registram três mortes

Subiu ontem para três o número de mortes decorrentes da chuva que atinge o Paraná, segundo o último boletim da Defesa Civil Estadual. São dois óbitos em Antonina, no litoral do estado, e um em Honório Serpa – cidade da Região Sudoeste atingida por uma enxurrada. Uma pessoa, cujo sexo não foi informado, morreu após tentar atravessar um córrego e ser levada pela correnteza na sexta-feira. O corpo foi encontrado ontem. No município, que teve ainda pontes e estradas destruídas, o número de pessoas afetadas pela chuva passa de 4 mil. Na mesma região, a cidade de Mangueirinha tem outras 2 mil prejudicadas pela chuva.

Há ainda duas pessoas desaparecidas em Morretes, no litoral. A dificuldade para chegar aos locais do desastre dificultam a localização e identificação dos corpos.

  • Saiba como os deslizamentos e as inundações ocorrem

Depois de sobrevoar a região da Serra da Prata e andar por várias regiões atingidas por deslizamentos durante o dia de ontem, principalmente no município de Antonina, a equipe do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (Cenacid) começa a apontar para uma mescla de responsabilidades, naturais e humanas, pela tragédia. Segundo o geólogo e diretor do Cenacid, Renato Lima, a falta da permeabilidade do solo e o desvio ou supressão de vias naturais de escoamento ajudam a explicar as inundações nas áreas urbanas dos municípios. A ocupação irregular de encostas e o desmatamento são apontados como as principais razões para deslizamentos em alguns pontos. "O que a gente viu em vários pontos, principalmente nas áreas rurais, foram desastres de grandes proporções, muito extensos e em grande parte das vezes resultantes da evolução natural das modificações no solo. Ou seja, em alguns pontos temos a interferência humana, mas em outros apenas a força da natureza", diz.

O Cenacid tem feito boletins quase diários sobre a situação e ajudou a remover parte das famílias da encosta da Serra da Prata, junto com engenheiros da Minerais do Paraná S/A (Mineropar) e agentes da Defesa Civil, ainda na sexta-feira, o que evitou uma tragédia maior. "Também ajudamos a notificar outras famílias dos bairros Graciosa e Laranjeiras para que deixassem os locais. Eu contabilizava mais de 200 deslizamentos até ontem [domingo], mas sei que verei esse número aumentar bastante", afirma Lima. "Ainda não sei precisar o quanto e nem as causas de cada um, mas são centenas de pontos."

Lima diz acreditar que um trabalho maior de prevenção, com restrição à ocupação e ao uso de solo só po­­derá ser feito depois que a Coor­denadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) finalizar o mapeamento de risco dos municípios (que junta dados geológicos, hidrográficos e de ocupação e uso do solo). "Com esse estudo poderemos delimitar melhor as coisas. Nem toda encosta é inabitável", pondera.

Mapeamento

O engenheiro químico João José Bigarella, pesquisador da área de Geologia há mais de 60 anos, discorda. Ele começou a fazer o mapeamento geológico da região metropolitana de Curitiba e de municípios do litoral paranaense no fim da década de 1970, como professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Coorde­nadoria da Região Metropolitana de Curitiba (Comec).

"O trabalho foi concluído no início da década de 1980 e já podia ter orientado um trabalho de prevenção de ocupação e uso do solo e de proteção de vegetação da Serra do Mar, independentemente do mapeamento de risco que está em andamento", diz Bigarella. "Além disso temos o Código Florestal (Lei Federal 4.771/1965), que já exige a proteção de margens de rios, em cerca de 30 metros, e de encostas". O pesquisador alerta para o desmatamento nas vertentes da Serra do Mar e para algumas culturas consideradas inadequadas para a região, como as bananeiras que têm raízes curtas e aumentam as chances de erosão do solo.

Para o arquiteto e urbanista e professor da UFPR Luís Henrique Fragomeni, é preciso delimitar as áreas. "O poder público não sabe aplicar o que diz a legislação e mostrar isso para a população. É preciso, por exemplo, que a delimitação de áreas que não devem ser ocupadas por residências ou por algumas atividades rurais seja demarcada. A população precisa saber onde está pisando", opina.

Na avaliação do diretor do Ce­­nacid, o momento é propício para se pensar com cuidado a reforma do Código Florestal, em andamento no Congresso e que tem algumas propostas de proteção mais "flexíveis" que o atual. "Diante des­­ses desastres, qualquer alteração deve ser pensada com muita cautela", diz Lima.

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