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Dá para contar nos dedos o número de bicicletarias ao longo de 100 quilômetros de ciclovia – apenas nove, menos de uma a cada dez quilômetros. Do que se deduz que pouca gente bota fé na malha destinada aos veículos de duas rodas. E pensar que as "magrelas" despertam paixão em países como Bélgica, Alemanha e França, e em cidades muito próximas, como Santos, Joinville e Paranaguá. Mas Curitiba é regra, não exceção.

Para atender um dos trechos mais visitados por turistas – a linha Bosque do Papa/Parque São Lourenço/Ópera de Arame –, a bicicletaria do Passeio Público não precisa de mais que 12 bicicletas. "Não é um grande negócio. A média de aluguel, aos sábados, é de cinco por dia", calcula o gerente da Cicles Jaime, Rafael Louri. Mas há quem tenha se surpreendido, para bem, com o movimento da ciclovia. Há quatro anos, Gregório de Bem comprou uma banca de jornais na Itupava com a Flávio Dallegrave – nome oficial da ciclovia na sua zona mais nobre, a do bairro Hugo Lange. Não gostou do que viu. A sinalização estava arruinada e quem vinha do Cristo Rei patinava num areião.

Não deu outra – o comerciante buzinou na prefeitura atrás de melhorias. Fez freguesia. Hoje, vende 80 jornais/dia e ainda se entretém com um joão-de-barro que se alimenta na frente do estabelecimento. "Criei um ponto. Nem eu imaginava. Não é justo dizer que isso aqui é só lazer. Passa gente carregando baú e escada em cima da bicicleta", ilustra. E carrinheiros. Eles são a face menos propalada das vias, mas fazem bom proveito, como os irmãos Osni e Marcos da Silva, para quem carregar 150 quilos nessa canaleta exclusiva é refresco.

Não se pode dizer que o engenheiro químico Jorge Hardt Filho, 59 anos, não trabalhe pesado na ciclovia. Ele usa o riscado para cruzar do Cabral, onde mora, ao Jardim Botânico, contabilizando 13 quilômetros de corrida. É sua rotina há dez anos, interrompida apenas quando chove – o que nos dias de hoje é uma garantia de muitas calorias gastas. "Evito os trechos mais ermos. E já percorri quase tudo de bicicleta. Problema? Só motoqueiro", lamenta.

Para outro personagem dessa rua cuja distância levaria a Paranaguá, as motos são bobagem. O bancário Alexandre Felizardo, 23 anos, é de uma das seis famílias de ferroviários que moram no trecho da ciclovia próxima ao Graciosa Country Club, no Cabral. Arrisca da janela de casa poder tocar no trem "que não tem hora certa para passar e faz a casa toda tremer." Ele se diz acostumado e satisfeito com o que vê da janela em horas de sossego. "Bem cedinho, a ciclovia fica cheia de mulheres que vão trabalhar no Jardim Social."

As manhãs também são a paisagem útil da ciclovia para quem mora nas redondezas do Abranches, Cachoeira, Barreirinha e Taboão. É por ali que passa – "voando" – o operariado vindo de Almirante Tamandaré. "O pessoal vem correndo para pegar embalo. Ali tem subida", conta o aposentado João Vieira, 74 anos. Ele é um "cicloviense" típico. Conversa fiado na beira da rua por onde passam mulheres levando mudas para as amigas e a piazada indo para a escola. Atrás, a Avenida Anita Garibaldi está fervendo. Quem diria!

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